domingo, 22 de novembro de 2015

UMA CAMINHADA PELA ROTA DOS ESCRAVOS (Transcrição)

Uma caminhada pela rota dos escravos
DO SÉCULO 17 ao 19, a cidade de Uidá foi um dos principais centros do comércio de escravos da África Ocidental. Uidá ficava onde hoje é a República do Benin e foi palco da exportação de mais de 1 milhão de escravos. Era comum africanos enviarem outros africanos como mercadoria viva em troca de produtos como álcool, roupa, pulseiras, facas, espadas e principalmente armas de fogo, item muito procurado por causa de guerras intertribais.
Entre os séculos 16 e 19, estima-se que 12 milhões de africanos foram enviados de navio através do Atlântico para suprir a demanda de mão de obra escrava em plantações e minas no continente americano. Segundo o livro American Slavery—1619-1877 (A Escravidão na América — 1619-1877), cerca de 85% dos escravos “foram para o Brasil e várias colônias caribenhas dos britânicos, franceses, espanhóis e holandeses”. Calcula-se que 6% foram para as colônias que se tornariam parte dos Estados Unidos.
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No início de sua viagem, muitos dos escravos — acorrentados, espancados e marcados com ferro em brasa — caminhavam os 4 quilômetros do percurso que hoje vai do Museu de História de Uidá, um forte reconstruído, até o chamado Portal do Não Retorno, que fica no litoral. Esse portal marca o fim da Rota dos Escravos. Ele tem um significado mais simbólico do que literal, pois nem todos os escravos partiam do mesmo local. Por que a escravidão era tão comum?*
Um histórico longo e vergonhoso

Em tempos bem remotos, governantes africanos vendiam prisioneiros de guerra para comerciantes árabes. Mais tarde, nações europeias entraram no comércio de escravos, em especial após o estabelecimento de colônias nas Américas. Nessa época, os muitos prisioneiros de guerras intertribais eram vendidos como escravos, fazendo da guerra um negócio lucrativo tanto para os vitoriosos dos conflitos como para os gananciosos traficantes. Além disso, os escravos eram adquiridos por meio de sequestros e de traficantes africanos, que os traziam do interior do continente. Praticamente qualquer pessoa podia ser vendida como escravo, até mesmo um nobre que perdia o favor do rei.
Um famoso traficante de escravos foi o brasileiro Francisco Félix de Souza. Em 1788, Francisco assumiu o comando do forte que era o centro do comércio de escravos de Uidá, na baía do Benin. Naquela época, Uidá estava sob o reino de Daomé. No entanto, Francisco e o rei daomeano Adandozan se desentenderam. Então, Francisco, provavelmente enquanto estava na prisão, conspirou com o irmão do rei, e juntos derrubaram o monarca em 1818. Assim começou uma relação lucrativa entre o novo rei, Guezo, e Francisco, que foi nomeado como administrador do comércio de escravos.
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Guezo queria expandir seu reinado e precisava de armamento europeu para isso. Assim, ele nomeou Francisco como vice-rei de Uidá para ajudá-lo a administrar o comércio com os europeus. Visto que tinha controle absoluto sobre a venda de escravos naquela região da África, Francisco logo acumulou uma fortuna, e o mercado de escravos, que ficava perto da casa dele, se tornou um centro para compradores estrangeiros e locais.
Uma triste caminhada
Hoje, o turista começa a Rota dos Escravos de Uidá no já citado forte português, originalmente construído em 1721. Os prisioneiros que se tornariam escravos ficavam confinados no grande pátio central desse forte. Muitos haviam caminhado — acorrentados uns aos outros — várias noites antes de chegar. Por que os mercadores faziam os escravos caminhar à noite? A escuridão dificultava aos fugitivos saber onde estavam, impedindo-os de achar o caminho para casa.
Quando um grupo de escravos chegava, realizava-se um leilão, e depois os compradores marcavam com ferro em brasa suas aquisições. Os escravos que seriam exportados eram levados para a praia, onde canoas ou barcos pequenos os levavam para os navios.
Outra atração da histórica Rota dos Escravos é o lugar onde ficava a Árvore do Esquecimento, que mais tarde foi substituída por um monumento. Por que a árvore tinha esse nome? Os escravos eram obrigados a andar em volta dela — conta-se que os homens davam nove voltas, e as mulheres sete — para apagar as lembranças da terra natal, o que os deixaria menos propensos a se rebelar.
Na rota também há um monumento em homenagem às cabanas Zomaï, que não existem mais. Zomaï se refere à escuridão constante dentro das cabanas, o que preparava os prisioneiros para as péssimas condições a bordo dos navios. Os escravos ficavam apinhados nessas cabanas por meses, enquanto aguardavam embarcar nos navios. Os que morriam nesse período difícil eram jogados numa cova coletiva.
O monumento chamado Zomachi, que simboliza arrependimento e reconciliação, é muito comovente. Ali, todo mês de janeiro, descendentes de escravos e de mercadores de escravos pedem perdão pelas pessoas que cometeram essas injustiças.
A última parada do passeio é o Portal do Não Retorno, que simboliza os últimos momentos dos escravos em solo africano. Esse monumento grande, em formato de arco, exibe representações em baixo relevo de duas filas de africanos acorrentados se dirigindo à praia perto dali, com o Atlântico à sua frente. Algumas pessoas contam que, quando chegavam ali, alguns prisioneiros desesperados comiam areia para não se esquecer de sua terra natal. Outros preferiam morrer e se estrangulavam com as próprias correntes.
Abolição
No início do século 19, intensificaram-se os esforços para abolir a escravidão. O último carregamento de escravos partindo de Uidá para os Estados Unidos chegou a Mobile, Alabama, em julho de 1860. No entanto, a condição de escravo dessas pessoas não durou muito, pois o governo dos Estados Unidos promulgou a Proclamação da Emancipação em 1863. Mas a escravidão só acabou no Hemisfério Ocidental em 1888, quando foi abolida no Brasil.
O comércio de escravos resultou numa ampla dispersão de africanos, o que teve um grande impacto no perfil da população e na cultura de muitos países do continente americano. Por exemplo, o vodu, um tipo de religião que envolve a prática de magia e feitiçaria, se espalhou para vários países, principalmente o Haiti. “O termo vodu”, diz a Encyclopædia Britannica, “origina-se da palavra vodun, que significa um deus ou espírito na língua do povo fon do Benin (antigo Daomé)”.
Infelizmente, ainda existem formas cruéis de escravidão, não necessariamente em sentido literal. Por exemplo, milhões de pessoas trabalham como escravos para sobreviver a condições econômicas lamentáveis. Outras sofrem às mãos de regimes políticos opressivos. (
Eclesiastes 8:9) E milhões são escravas de superstições e ensinamentos religiosos falsos. Será que os governos humanos podem libertar seus súditos desses tipos de escravidão? Não. Apenas Jeová Deus pode, e ele fará isso! Não é à toa que Sua Palavra escrita, a Bíblia, promete que todos os que recorrerem a Jeová para adorá-lo segundo a verdade bíblica — a verdade que liberta as pessoas — terão “a liberdade gloriosa dos filhos de Deus”. — Romanos 8:21; João 8:32.
[Nota(s) de rodapé]
De um início relativamente pequeno, a população escrava nos Estados Unidos cresceu à medida que os escravos iam tendo filhos.
O que a Bíblia diz sobre a escravidão é explicado no artigo
“O Conceito da Bíblia: Deus aprovava o tráfico de escravos?”, na Despertai! de 8 de setembro de 2001.
O nome “Guezo” é escrito de várias maneiras.
[Quadro/Foto na página 24]
“HOMEM TEM DOMINADO HOMEM PARA SEU PREJUÍZO” Muitas pessoas acreditam que os comerciantes de escravos obtinham suas “mercadorias” por invadir povoados e sequestrar qualquer pessoa que quisessem. Embora isso talvez seja verdade, é pouco provável que traficantes de escravos conseguissem levar muitos milhões de pessoas “sem a cooperação de uma enorme rede de mercadores e governantes africanos”, comentou o Dr. Robert Harms, professor de história africana, numa entrevista de rádio. Não há dúvida de que “homem tem dominado homem para seu prejuízo”! —
Eclesiastes 8:9.
Fonte: Biblioteca Online da Torre de Vigia http://wol.jw.org/pt/wol/d/r5/lp-t/102011169

terça-feira, 3 de novembro de 2015

A VIAGEM DO CORSÁRIO INGLÊS ANTHONY KNIVET AO MAR DO SUL E SUA PASSAGEM PELO VALE DO RIO PARAÍBA (1591 - 1597) - (TRANSCRIÇÃO)

INTRODUÇÃO
A presente pesquisa trata uma temática ainda pouco estudada nos estudos regionais, que são os relatos de viagem como fonte de pesquisa e material de compreensão para o estudo da cartografia.  Em específico, trata-se de uma análise das crônicas de viagem do corsário2 inglês Anthony Knivet entre os anos de 1591 e 1597, desde sua saída da Inglaterra  à incursão ao interior de São Paulo,  chegando ao sertão dos Cataguás. Nesse aspecto, tem-se como objetivo verificar a utilização do  rio Paraíba que corta o interior de São Paulo, apontado como principal rota para os aventureiros, bandeiras, entradas e descimentos indígenas, rumo às minas durante o ciclo de exploração do ouro. Conforme sua crônica de viagem, o corsário  inglês após ser capturado pelos portugueses, ficou submetido ao  trabalho escravo e às ordens da família Correia de Sá,  cujo descendente Martim de Sá, em 1597, adentrou o interior paulista para verificar a presença de metais e indígenas. O caminho dessa incursão perpassa todo o vale do Paraíba e  atinge a região dos Cataguás.
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2 ANTHONY KNIVET E A REGIÃO DO VALE DO RIO PARAÍBA
O marinheiro de Cavendish viveu a serviço e submissão da família Correia de Sá por quase uma década. Foi durante esse período que Knivet adentrou os sertões e consequentemente passou pela região do vale do Rio Paraíba, citada várias vezes no relato, pelos caminhos indígenas da  Serra  do Mar. Knivet embrenha - se pelo sertão, por lugares nunca antes pisados  por um europeu, entrando em contato com tribos desconhecidas e  negociando escravos que serão usados nos engenhos e em  trabalhos domésticos. Suas entradas pelo interior do Brasil, seguindo  rotas indígenas e caminhos desconhecidos, são viagens de exploração em busca de minas de ouro e pedras preciosas, que se incrementaram no governo de d. Francisco de Souza (KNIVET, 2007,  p. 20 - 21) . A facilidade de adaptação e contato com os povos indígenas  permitiu  a Knivet um relativo sucesso , como o apontado em suas  crônicas  e em outros documentos , como o inventário realizado a  pedido de Martim de Sá sobre despesas, no qual podemos verificar  a seguinte passagem:
O objetivo de Martim de Sá era a compra de escravos por missangas  e ferramenta; mas, apesar de os Guaianazes serem muito dados a  esse comércio, a ponto de venderem suas próprias mulheres e filhos,  na ocasião encontravam - se em extrema escassez. Por isso Martim  de Sá resolveu enviar Knivet, com oito de seus escravos, aos Puris,  gentio amigo dos contrafortes da Mantiqueira, cujo morubixaba  acolheu muito bem o emissário e, depois de recebidas as dádivas de  Martim de Sá, lhe entregou  setenta escravos, fazendo - os acompanhar por trezentos frecheiros até  a outra banda do Paraíba,  rumo ao litoral (PROCESSO, 1937 Ainda sobre o caminho dos Guaianazes, segundo o relato de Knivet , havia sido prometido a ele um escravo para realizar  trabalhos para o inglês quando retornando ao Rio de Janeiro. Mas o prometido não aconteceu. Continuou a cumprir suas entradas. As datas das entradas seguem ainda com alguns espaços a  serem preenchidos durante as análises dos documentos de viagem e cartoriais, como é o caso do inventário solicitado pela família Sá.  Isso aponta a um conflito de datas constante e de “versões”. Como o  objetivo deste artigo é a verificação do caminho e da utilização do rio com o transporte e alimentação para os viajantes, prevalecem as relações  de  cruzamentos dos dados. Assim, as datas funcionam  aqui como acessórias à análise, apenas como guia temporal dessas  entradas paulistas. Em 1593, em seu inventário, Martim de Sá descreve  sua  entrada no sertão ao lado de Knivet. Mas, suas expedições pela região ganham mais força dois anos depois, em 1595, por um fator  pessoal. Após uma discussão com sua madrasta o jovem  é enviado pelo pai a fazer o caminho dos Guaianases, que ia de Angra dos Reis  a Cananéia (do Rio de Janeiro à região de São Paulo), com o  intuito de apresamento  de  indígenas e reconhecimento local e de seu gentio. Nesse momento, o objetivo era retornar  à Ilha Grande, onde estavam fixados, e após o contato com os Puris próximo à Mantiqueira, quarenta dias depois de dobrar o rio Paraíba, retornou à Ilha  Grande. No inventário mencionado de Sá,  já é sem tempo relatada a  escassez de indígenas, mesmo aqueles que eram ligados ao comércio escravo, chegando a vender seus filhos e mulheres. Quando Knivet seguia viagem verificava que a  isponibilidade de escravos cativos diminuía, por isso a incursão ao interior do território da colônia. Na entrada de 14 de outubro de 597, com a bandeira em  regra, seguiram juntamente a Sá e Knivet, o também inglês  Henrique Banaway, além de um capelão, muitos moradores e colonos do Rio de Janeiro. Knivet comenta que partindo de Parati para o sertão, a oeste verificava um grande número de canoas a navegar entre as ilhas e a terra firme, o que leva a crer em um comércio entre os moradores do Rio de Janeiro  e as cidades do  litoral norte paulista e o vale do  rio Paraíba. .
Fonte1 GIOVANNA LOUISE NUNES, pesquisa realizada na internet no dia 03 de Novembro de 2015 Site: http://www.seer.furg.br/hist/article/viewFile/3285/2493

GUIA DA UNESCO - Una guía para la administración de sitios e itinerarios de memoria.

Ficha 22: Ruta de la libertad (A Rota da Liberdade), São Paulo, Brasil (A Rota da Liberdade), São Paulo, Brasil ■ ANTECEDENTES ■ ANTECED...