domingo, 28 de julho de 2013

Primeiros núcleos populacionais no Sul das Minas Gerais (Transcrição)

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O renomado historiador Ernani Silva Bruno aponta que uma das etapas de formação regional em Minas Gerais deu-se pela “internação do povoamento e ocupação das terras montanhosas, em seguida à descoberta das jazidas de ouro”.[*1] Segundo ele, os primeiros arraiais estabeleceram-se a partir de 1675, tendo a mineração, contudo, ativado os povoadores para “brenhas distantes, formando um foco de deserto entre a origem e as minas, o que retardou em muito o povoamento das zonas intermediárias”.[*2]
Outro importante historiador pátrio, Sérgio Buarque de Holanda,[*3] é incisivo ao afirmar que foram as bandeiras que desempenharam papel fundamental na configuração geográfica do Brasil colonial, pois, nos dois primeiros séculos, a exploração restringiu-se ao latifúndio rural litorâneo. Segundo o autor, para o colonizador, não havia qualquer preocupação em fincar raízes nos sertões povoados pelos indígenas, pois povoamento, para os colonizadores portugueses, significava apenas criar feitorias na costa brasileira, permitindo um escoamento rápido de mercadorias de fácil e rápida extração. O colonizador se poupava de maiores esforços, uma vez que via o Brasil como um lugar de passagem e, ou seja, provisório.
Lentamente, surgiram arraiais mais estáveis, onde os mercadores faziam suas compras das mãos de comerciantes, que traziam mercadorias do Rio de Janeiro e de São Paulo. Assim, nessa leva, é provável que tenham nascido muitos dos arraiais situados no sul do atual território mineiro.

A tradição também nos informa que por aquela região teria passado, em 1596, o bandeirante João Pereira de Souza Botafogo, sem, no entanto, ficar bem estabelecida a sua rota. Outros que se aventuraram, ainda no século XVII, foram Jerônimo da Veiga, em 1643; Sebastião Machado Fernandes Camacho, entre 1645 e 1648, em busca das minas de prata e o próprio Fernão Dias Paes, em 1674. Todos seguiram o Rio Paraíba, atravessaram a Mantiqueira pela garganta do Embaú e se internaram no chamado “caminho geral do sertão”.
Saídos do planalto de Piratininga, tendo deixado São Vicente para trás, era crível (e posteriormente comprovado) que, aos poucos, às margens do Rio Paraíba, surgissem povoamentos, capelas e vilas, assim como Taubaté, Guaratinguetá, Pindamonhangaba e outras de menor expressão.
Assim, da Vila de São Francisco das Chagas de Taubaté, partiram as primeiras bandeiras em direção às chamadas “minas de cataguás”. Passando pela região de Guaipacaré (atual Lorena), transpunham a Mantiqueira e alcançavam o atual território mineiro. Desta forma, exatamente 36 das mais antigas cidades de Minas Gerais foram fundadas por paulistas, entre elas, Baependi, Aiuruoca e Campanha.
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Baependi
Em 1692, a bandeira escravista de Antonio Delgado da Veiga e de Miguel Garcia saiu de Taubaté, alcançou a Mantiqueira pela garganta do Embaú, chegou à região de confluência dos rios Capivari e Verde, dando ao local o nome de Pouso Alto. Seguiu para um outro afluente do Rio Verde, em direção nordeste, a que os bandeirantes chamaram de Baependi. Naquela mesma região, andou, em meados de 1693 outra bandeira, mineradora, que em seu roteiro tinha gravado: “e em um destes montes que se chama Baependy se suspeita haver ouro em abundância pela informação que deixaram os índios da região”.[*4]
Caminho Velho - Guaratinguetá-SP - Guaipacaré (Lorena-SP) - Registro (Piquete-SP) - Conceição do Embaú (Cruzeiro-SP).
 

FRONTEIRAS AO SUL DO SERTÃO DAS MINAS: ASPECTOS DA FORMAÇÃO DA VILA DE CAMPANHA DA PRINCESA (Transcrição)

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O Sertão do Rio Verde, como era denominado o território antes de se tornar parte constituinte da Comarca do Rio das Mortes, começou a ser percorrido em 1692 quando os bandeirantes paulistas deixaram suas terras em busca das riquezas do interior, os índios, posteriormente de ouro, e atravessam a serra da Mantiqueira pela garganta do Embaú e atingiram as cabeceiras do Rio Verde.
Os primeiros sertanistas oriundos de Taubaté: Antônio Delgado da Veiga, João da Veiga e Miguel Garcia, o Velho, que lideravam uma bandeira que tinha como finalidade apresar índios. Nomeiam Pouso Alto e chegam a um afluente do rio Verde, que denominam de Baependi. A notícia de ouro nas terras banhadas pelos rios Verde e Sapucaí chegou a São Paulo e rapidamente houve o deslocamento de homens para essa direção.
O sertão do Rio Verde era área de fronteira e de disputa entre as autoridades de São Paulo e Minas Gerais. No governo de D. Brás Baltazar da Silveira foram criadas três  comarcas para a região das Minas e ficou decretado como limites para a do Rio das Mortes a Serra da Mantiqueira, ao sul, e o sertão desconhecido, a oeste. Como conseqüência, o termo da vila de São João del Rei foi ampliado, estendendo-se até a Mantiqueira, fazendo com que sua Câmara se tornasse responsável pela administração de toda a região sul do território.
Em 1721, D. Lourenço de Almeida, primeiro governador da Capitania de Minas Gerais, informava ao rei que havia uma grande extensão de terras ainda despovoadas, na qual chegavam correições tanto do ouvidor de São Paulo quanto do Rio das Mortes. Este governador expressava ainda dúvidas com relação ao fato de que, se povoada a região, a quem caberia a correição, sendo reiterada a São João del Rei, por ordem régia de 22 de abril de 1722.
A região de Campanha do Rio Verde foi descoberta pelos paulistas por volta de 1720, tendo pouca divulgação até 1737, quando em 02 de outubro, uma expedição militar sob o comando do ouvidor da Vila de São João Del Rei, Cipriano José da Rocha, com a incumbência dada pelo governador da Capitania, D. Martinho de Mendonça de Pina e Proença, deveria reconhecer a região, desbravar os sítios desconhecidos ao longo da bacia dos Rios Verde, Sapucaí e Palmela e tomar posse do território em nome do rei. No entanto, como aponta Para Carla Anastasia 5, a ocupação das áreas de fronteira na capitania de Minas Gerais nunca foi consensual entre as autoridades tanto metropolitanas e quanto coloniais A primeira ação do Estado foi a de tornar as regiões limítrofes da capitania, áreas proibidas, a partir de um bando de 1736 que impendia "lançar posse de terras situadas nas extremidades não povoadas da Capitania sem expressa licença do governador." (ANASTASIA, 2005: 36)
Dessa forma com base no bando do ano anterior, a expedição chefiada pelo ouvidor Cipriano José da Rocha não deveria fundar uma povoação sem autorização do governador. No entanto o ouvidor não só funda um arraial como abre uma estrada, como percebemos no que ele mesmo relatou em carta endereçada ao governador em 04 de outubro de 1737.
Cheguei a este descobrimento a dois do corrente, fiz dez dias de jornada, e destes descansei dois, que me foi preciso pela razão de mantimentos; (…) As terras destas minas, é uma dilatada Campanha do Rio Lambari para dentro, exceto uma serra que tem seu princípio no mesmo rio e se dilata por espaço de uma légua, toda coberta de matos, por onde vem a estrada que mandei abrir e achei muito capaz; são os ares muito alegres de maravilhosa vista, e com melhor assento que as terras de São João Del Rei .    
6..(VALLADÃO, 1942: 249-251)
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http://migre.me/fC82w

CAMINHO NHÁ CHICA E PADRE VICTOR - CNCPV: HISTÓRIA DA PARÓQUIA DE CAMPANHA

 HISTÓRIA DA PARÓQUIA DE CAMPANHA:

A Picada de Goiás

Retratos de Família (recordações impagáveis).: A Picada de Goiás: Representação da floresta próxima ao Rio São Francisco no norte de Minas Gerais. Litografia colorida de C.Heinzmann. Ca. 1818. ...

As principais entradas no século XVI e as bandeiras desbravadoras no século XVII,


As principais entradas no século XVI e as bandeiras desbravadoras no século XVII,
em Minas Gerais. Fonte: Resende, Maria Efigênia Lage de.
Itinerários e interditos na territorialização das
Fonte: http://migre.me/fC2an

.......era a verdadeira marcha para o oeste

"Campanha deve suas origens aos bandeirantes de São Paulo, que exploravam as terras desde 1700, esperando encontrar minas de ouro. Juntos com os escravos que já pertenciam às terras e os infinitos faiscadores que ali chegavam, não havia obstáculos que não fossem vencidos, era a verdadeira marcha para o oeste, através do vasto ouro existente. Assim nasceu Campanha, no chamado Ciclo do Ouro, e ainda no século XVIII, era uma das principais vilas da Província de Minas Gerais. (VICTORIA HOTEL,2004 s/p)." (Fonte: http://migre.me/fC1BU)

Fonte: http://migre.me/cZWip

Projeto de Lei Estadual institui diretrizes para o turismo religioso no Estado de São Paulo e cria o 'Vale da Fé' (Transcrição)

De autoria do Deputado Fernando Capez (PSDB), o projeto de lei no 285, apresentado para apreciação da Assembleia Legislativa Paulista, no dia 06 de maio de 2013, pretende instituir um circuito religioso católico no Estado de São Paulo a partir de cidades do Vale do Paraíba que apresentam, segundo o autor do projeto, características que justificam a criação do roteiro.
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O projeto de lei, em questão, visa consolidar as diretrizes do turismo religioso como fator de desenvolvimento sustentável, de distribuição de renda de geração de emprego e da conservação do patrimônio natural, cultural e turístico.
O turismo religioso tem como fito a busca por retiros espirituais, peregrinações, romarias, comemorações religiosas, evangelização, visitação a espaços e edificações religiosas.
A busca pela experiência que desperta sentimentos de fé e esperança é que move o Brasil a realizar milhões de viagens com fins religiosos.
No Estado de São Paulo podemos citar como roteiro turístico: Aparecida, Guará, Lorena, Canas (Renovação Carismática Católica), Cachoeira Paulista (Fundação João Paulo II).
Vale ainda mencionar o forte fluxo de turistas com intuito religioso em visitação a Imaculada Conceição em Cruzeiro, São Miguel Arcanjo em Piquete, Sagrada Face em Roseira, Nossa Senhora dos Remédios em Cunha.
Todos os anos mais de 10 milhões de pessoas visitam as cidades acima.
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Fonte: Jornal Lince http://migre.me/fBSEV

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Serra da Mantiqueira (Serra de Jaguamimbaba)



Ecossistema -  A Serra da Mantiqueira integra o ecossistema da mata Atlântica e mata de araucárias, apresentando manchas remanescentes dessas matas bem como campos de altitude em seus picos mais elevados. Aliado a isso, uma vasta fauna nativa ainda pode ser encontrada nela, da qual podemos citar: veado campeiro, lobo-guará, onça parda, cachorro-vinagre, jaguatirica,paca, bugio, macaco sauá, mono, tucano, esquilo, ouriço-caixeiro e também nela se formou a raça canina pastor da mantiqueira. (Fonte:  Kellen Faria  http://migre.me/fBxy1 )

Clique na imagem para reduzi-la
MAPAS DE SANTOS - Carta corográfica - Cap. de S. Paulo, 1766

Apresentando o Estado Político da Capitania de São Paulo em 1766, foi elaborada esta carta, com particular atenção aos limites com Minas Gerais. Na aproximação, os detalhes relacionados à Baixada Santista. Há uma outra versão, copiada em 1869 e colorida (clique nas imagens para ampliá-las): Fonte: http://www.novomilenio.inf.br/santos/mapa106.htm
Obs: Essa carta carográfica, no que diz respeito aos limiter, traz o topônimo Alto da Serra que corresponde a espaço colonial de Piquete-SP. Espaço esse também denominado em outros momentos como; Garganta do Sapucaí, desfiladeiro de Itajubá, Caminho Velho, Caminho dos Paulista, Estrada Real do Sertão etc. Localidade em que fora instalado por volta de 1745/1946, um registro de passagem denominado registro de Itajubá. 

Estrada Real

Estrada Real é um conceito amplo que designava, nos séculos XVII, XVIII e XIX, as várias estradas públicas administradas pelo Governo Português. Assim, ela abrange todos os antigos caminhos que em tempos passados foram percorridos por bandeirantes, tropeiros, índios, comerciantes e aventureiros nas capitanias das Minas Gerais, de São Paulo, do Rio de Janeiro, da Bahia, etc. Na região sudeste a Estrada Real ligava as áreas de produção de ouro (Ouro Preto) e diamantes (Diamantina) aos portos de Parati e diretamente ao Rio de Janeiro.
Os dois mais conhecidos caminhos que integram o complexo emaranhado de vias de comunicação coloniais são os seguintes:
a) o Caminho Velho, que ligava São Paulo e Rio de Janeiro às minas, passando por Parati, Taubaté, Guaratinguetá, Baependi, Carrancas e São João del-Rei;
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 Mapa da Estrada Real - Edison Vilela
Fonte do Mapa: http://migre.me/fBwH8
(Transcrição) - Roteiro das minas de ouro que descobriu o [revdo.] Vigário João de Faria e seus parentes e do mais que tem em si os campos.
De frente da vila de Taubaté quatro ou cinco dias de viagem se acha estar o rio de Sapucahy, e descendo da dita villa para a de Guaratinguetá tomando a estrada real do sertão dez dias de jornada para a parte do norte sobre o monte de Amantiquira, quadrilheyra do mesmo Sapucahy, achou o padre vigário João de Faria, o capitão Manoel de Borba e Pedro de Avos vários ribeiros com pintas de ouro de muita conta (a outra versão diz “em três ribeiros com pintas de ouro de muita conta( a outra versão diz “em três ribeiros pinta muito boa, e geral de ouro de lavagem de que trouxe a amostra dela a esta cidade); e das Campinas de Amantiquira cinco dias de jornada, correndo para o Norte, estrada também geral do sertão fica a serra de Boa Vista, donde começam os campos geraes até [confinar] com os da Bahia, e da serra da Boa Vista até o Rio Grande são quinze dias de jornada, cujas cabeceiras nascem da serra da Juruoca, em frente dos quaes serros é o rio dos Guanhanhans (Guyanas em outra cópia) e um monte de Ebitipoca tem dez léguas pouco mais ou menos de circuito, toda esta planície com cascalho formados de safiras e de frente do mesmo serro de Juruoca para a parte da estrada, caminho de oeste pouco mais ou menos, estão umas serras escalvadas, na qual achou o dito padre vigário safiras nativas em vieiros de pedras cavadas, entre esta distancia estão muitos montes escalvados pelos campos e muitos rios, e em um destes montes que se chama o Baependi se suspeita haver metal pela informação que deixou oi defuncto. Bartholomeu da Cunha, e adiante passando o rio de Igarahy (Yrigahi na outra cópia) se achava uma campina dilatada de mina, de christaes finíssimo e indo fazendo a mesma derrota se achava muitos morros escalvados e campos geraes, cujos morros mostram terem haver para muitas experiências que se tem feito por falta de mineiros se não sabe o que é, sendo ditos campos muitos férteis de toda a caça.

Fonte:Roteiro da viagem do padre João de Faria Fialho, descoberto e divulgado por Orville Derby na revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, e também por Pandiá Calógeras na obra “As Minas do Brasil Sua Legislação”. http://migre.me/fBvc7
Obs: Parafraseando: O Caminho velho em conformidade com os relatos do Padre João de Faria Fialho, distingue da Estrada Real do Sertão. A assertiva  encontra fundamento no fato de afirmar o vigário que estando de frente da vila de Taubaté quatro ou cinco dias de viagem se acha estar o rio de Sapucahy. Está se referido este definitivamente ao caminho Geral do Sertão, Caminho dos Paulistas,  passando pelo atual municipio de Marmelópolis o qual era alcançado transpondo o monte de Amantiqueira, via alto da Serra, espaço colonial de Piquete. Da mesma forma que, estando em Guaratinguetá tomando a mesma estrada real do sertão, em dez dias de jornada para a parte do norte  por uma garganta do mesmo nome ou seja, Garganta do Sapucahy alcançava-se o já referido rio de Sapucahy.  Por outro lado o Caminho Velho era trilhado transpondo a Serra da Mantiqueira pela Garganta do Embaú, quando então alcançava-se a localidade de Passa Vinte (Passa Quatro).

Pedro Leopoldo: O berço de Luzia (parte 1)


Pedro Leopoldo: O berço de Luzia (parte 2)


quinta-feira, 25 de julho de 2013

Distribuição aproximada das famílias macro-jês no interior do Brasil na época da chegada dos portugueses

File:Kariri languages.png
1) Gê 2) Kamakâ 3) Maxakali 4) Krenák 5) Puri 6) Ofayé 7) Rikbaktsá 8) Boróro 9) Karajá 10) Kariri 11) Jabuti 12) Yaté-Fulnió 13) Guató
Distribuição aproximada das nações indígenas no litoral brasileiro no século XVI
 

Os sertões proibidos da Mantiqueira e os Índios que habitavam o espaço no qual estava contido o Núcleo Embrião de Piquete - coroados, carapós e puris - "genericamente denominados botocudos"

(Transcrição) - Para a região da Mantiqueira, a visão de sertão associava-se aos diversos grupos indígenas que lá residiam: os coroados, carapós e puris; todos muito temidos e genericamente denominados botocudos, em virtude de uma espécie de botoque que os nativos daquela região usavam na boca e na orelha. Vencê-los, como às condições ambientais da mata Atlântica e à fauna que por lá vivia, era esforço para poucos. Percorrer os seus caminhos (ou como observavam as autoridades: os seus descaminhos), por tropeiros e vaqueiros que desciam e subiam suas rotas transportando gado e gêneros diversos, ou por "simples" viajantes que se dirigiam para as partes mais remotas da América portuguesa, era esforço sobre-humano. Um dado deve ser somado a essas dificuldades: a ação de salteadores que pelos caminhos andavam roubando e matando os viandantes11. Fonte: http://migre.me/fB4kN
 
 

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Os sertões proibidos da Mantiqueira: desbravamento, ocupação da terra e as observações do governador dom Rodrigo José de Meneses* (Transcrição)

OS SERTÕES PROIBIDOS DA MANTIQUEIRA
Com a intenção de coibir o contrabando do ouro por caminhos "não oficiais" e a existência de lavras imemoriais, o governo metropolitano mandou que se fechassem quaisquer trilhas e logradouros existentes nas imediações das áreas mineratórias, tornando algumas regiões "áreas proibidas" à ocupação. Foi o caso, por exemplo, dos sertões da Mantiqueira/sertões do Leste, na fronteira Sul da capitania de Minas Gerais3.
Nessa área proibiu-se a existência de sítios volantes e do trânsito de homens dispersos, sem ocupação definitiva. A denominação "áreas proibidas" foi criada em 1736 pelo Bando de Aditamento ao Regimento de Minerar, que proibia que se lançassem posses de terras situadas nas extremidades não povoadas da capitania, tentando-se evitar extravios do ouro ao impossibilitar a abertura de novos caminhos e picadas nos matos em áreas onde inexistiam registros e vigilância das patrulhas4.
Enveredar-se em imensas regiões inóspitas ao redor das áreas urbanas da capitania era adentrar nos sertões5. Apesar de ser o local onde a natureza, detentora de um caráter ambíguo, tinha odores que exalavam "um hálito pestilento" e rios que só serviam de "bebedouros a monstros feios e dispersos bandos de bárbara gente que habitam suas sombrias margens," possuía rios dadivosos, de onde se extraiam: ouro, diamantes, esmeraldas, safiras e águas marinhas6.Na literatura setecentista, o sertão é apresentado sob perspectiva romantizada, evocado ora como um paraíso em que tudo era belo, justo, perfeito e estava em harmonia, não obstante habitado por seres que devoravam "animais da mesma espécie" (os indígenas)7; ora como um lugar de passagem, de travessia, definido pelo exercício da liberdade e pela dramaticidade da escolha de cada um que se embrenhava a fim de decifrar aquele ambiente fantástico, povoado por animais e plantas de todos os tipos, tamanhos e nomes.
Na prática, geograficamente, o sertão mineiro era a área recoberta principalmente pela zona curraleira — o "sertão dos currais" —, confinando a capitania de Minas Gerais com a da Bahia, entendida como "um extenso e aberto sertão", onde não existia atividade mineratória e as terras eram planas e vistosas, porém "menos férteis" do que a do restante do "continente de Minas
."8
Em Minas Gerais não havia somente um único sertão, mas vários9. As principais descrições indicam ser a região povoada por inúmeras nações indígenas e com fraca população branca. Na comarca do rio das Mortes, os sertões eram para os moradores das vilas de São José e São João del Rei os cerrados do alto São Francisco e as picadas de Goiás, como então se nomeavam as terras localizadas no caminho que levava para Vila Boa de Goiás. Para os que residiam na Borda do Campo, podiam ser as escarpas da Mantiqueira. A região da atual Zona da Mata era toda conhecida pelo nome de "sertões de leste," e entre 1768 e 1814, os assentos de batismo da atual cidade de rio Pomba, localizada naquela paragem, eram abertos com a seguinte fórmula: Sertão do Rio da Pomba e Peixe dos Índios Cropós e Croatas. Além destes, para os homens de Vila Rica, os seus sertões eram as florestas cortadas pelo rio Doce e, para os moradores de Sabará, o médio São Francisco10.
Para a região da Mantiqueira, a visão de sertão associava-se aos diversos grupos indígenas que lá residiam: os coroados, carapós e puris; todos muito temidos e genericamente denominados botocudos, em virtude de uma espécie de botoque que os nativos daquela região usavam na boca e na orelha. Vencê-los, como às condições ambientais da mata Atlântica e à fauna que por lá vivia, era esforço para poucos. Percorrer os seus caminhos (ou como observavam as autoridades: os seus descaminhos), por tropeiros e vaqueiros que desciam e subiam suas rotas transportando gado e gêneros diversos, ou por "simples" viajantes que se dirigiam para as partes mais remotas da América portuguesa, era esforço sobre-humano. Um dado deve ser somado a essas dificuldades: a ação de salteadores que pelos caminhos andavam roubando e matando os viandantes11.
A região da Mantiqueira era um ponto nevrálgico na capitania, por ser área de fronteira "eriçada de morros elevadas e coberta de vegetação espessa, foi vista desde cedo o início da exploração aurífera como terreno propício ao descaminho e contrabando de ouro e pedras preciosas." Assim, desde o instante em que se abriu o Caminho Novo que ligava o Rio de Janeiro a Minas Gerais, no final do seiscentos, instalaram-se registros na serra por onde devia transitar qualquer comboio que saísse ou qualquer carregamento que entrasse em Minas. Com exceção dos sesmeiros estabelecidos ao longo daquela estrada, necessários ao abastecimento dos viajantes e à alimentação dos animais em trânsito — devido às roças que plantavam e aos pastos que mantinham —, nenhuma outra pessoa podia se fixar na região12.Durante muitos anos, os "matos gerais" da Mantiqueira ficaram esquecidos pelas autoridades metropolitanas. Registra-se que em 1755, quando algumas pessoas teriam aberto picadas que cruzavam aqueles sertões, o governador interino José Antônio Freire de Andrada, 2º conde de Bobadela (1752-1758), publicou o Bando de 20 de setembro daquele ano, confirmando os sertões do "distrito da Mantiqueira" como área proibida.No ano anterior, no mês de outubro, o então capitão Manuel Lopes de Oliveira, morador da fazenda da Borda do Campo, contígua ao sertão da Mantiqueira, representara ao mesmo governador notícias sobre a construção de três picadas feitas por "várias pessoas da freguesia da Borda do Campo", nos "matos gerais do Rio de Janeiro", com o "pretexto de necessária serventia para as suas fazendas". Como a abertura das picadas se avolumava naquelas paragens, o alferes João Carvalho de Vasconcelos, que patrulhava o Caminho Novo, repreendeu Manuel Lopes, que era o responsável por aquela área, para que "sem demora mandasse notificar as pessoas (...) para que não continuassem mais na abertura das ditas picadas"13.
A preocupação com os desvios era tanta que o mesmo alferes também notificou o capitão Sebastião Gonçalves Pinto a fim de que este parasse de incentivar a abertura de rotas alternativas nos sertões da Mantiqueira, da mesma forma que precedera contra Manuel Lopes de Oliveira. Ambos foram advertidos "para que as [picadas] não continuassem até ele governador [2ºconde de Bobadela] tomar sobre elas o conhecimento necessário, [com] pena de serem presos"14.
Essa medida paliativa por parte do alferes não adiantou nada, pois Manuel Lopes de Oliveira empreendeu política de expansão de terras na região, independentemente da proibição daqueles sertões.
A Coroa portuguesa considerava crime de lesa-majestade a abertura de vias de comunicação (que não fossem autorizadas pela metrópole), por recear o extravio dos quintos. Muitas vezes grupos de moradores tentaram abrir estradas à própria custa para facilitar o comércio e evitar a passagem pelos registros da capitania, onde eram feitos o controle de entrada e saída de pessoas e mercadorias e a cobrança dos impostos.

Ações individuais e coletivas permitiram a criação de desvios nos intrincados sertões da Mantiqueira. Incorporá-los aos espaços conhecidos e controlados da capitania correspondia a um processo de maior envergadura, que compreendia a interiorização da colonização, a conquista e a preservação dos territórios portugueses. Nesse contexto, o sertão, entendido como algo movediço e em constante alteração pela amplitude das explorações, se identificava com quatro grandes impulsos: o nordestino, voltado para a exploração do litoral açucareiro e que resultou na luta contra os holandeses; o nortista, voltado para a exploração da Amazônia; o sulista, até o Prata, tendo como pólo o Rio de Janeiro; e o paulista, de orientação centro-sul, devassando o interior da América do Sul — embrenhando-se nas escarpas da Mantiqueira, principalmente15.
O governador dom Rodrigo José de Meneses (1780-1783), recebendo informações sobre a ocupação descontrolada que ocorria naqueles sertões, da diminuição da arrecadação aurífera e dos boatos referentes aos extravios de ouro praticados nas infinitas picadas que cortavam de alto a baixo aquele local, mandou que se averiguasse a real situação daquela área vedada.
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 Parafraseando - Piquete do Sertão dos Índios Bravos; os coroados, carapós e puris. Vencê-los, como às condições ambientais da mata Atlântica e a fauna que por lá vivia, era esforço para poucos

Reconstituição dos caminhos da Estrada Real através da cartografia histórica e do geoprocessamento (Transcrição)

Antes do descobrimento das minas, o chamado “Caminho Geral do Sertão” (ou “Caminho dos Paulistas”) era a única via de ligação de    São Paulo com o território que corresponde hoje ao estado de Minas Gerais (RENGER, p. 136, 2007). Foi aberto pelos bandeirantes paulistas (que muitas vezes utilizavam antigas trilhas indígenas) primeiramente visando o aprisionamento de indígenas e em seguida a busca por ouro. Esse caminho encontrava-se com a rota que partia de Paraty em direção à Vila Rica (atual Ouro Preto) na altura de Taubaté, percurso este que ficou conhecido como “Caminho Velho”, pois foi o primeiro a ser utilizado oficialmente desde o descobrimento das minas. Fonte: http://migre.me/fzGzV
Mapa do Caminho Velho -  parafraseando: rota que partia de Paraty em direção à Vila Rica (atual Ouro Preto) passando pelo porto de Guaipacaré (Lorena-SP), Registro (Piquete-SP),  Conceição do Embaú (Cruzeiro-SP).
 

Explicação do Caminho Velho (Transcrição)

À procura do ouro e pedras preciosas seguiam os bandeirantes, desde o primórdio da história colonial, rumo ao interior. Depois de descobertas as minas de ouro, a grande invasão do território mineiro se fez, principalmente, pelo caminho do Rio de Janeiro e São Paulo, chamado de Caminho Geral do Sertão. Do Rio de Janeiro iam os viajantes por mar até Parati onde começava o caminho por terra, atravessando a Serra do Mar, juntando-se à terra paulista, em princípio Taubaté, e depois em Pindamonhangaba. Fundidos os caminhos num só, seguia este para as minas, atravessando a Serra da Mantiqueira na Garganta do Embaú e Passa-Trinta (hoje, Passa Quatro). O Caminho Geral do Sertão continuava por lugares onde hoje se situam as cidades de: Itanhandu, Santana do Capivari, Consolação, Pouso Alto, Boa Vista, Baependi, Conceição do Rio Verde, Cruzília, Ingaí. Seguia-se a travessia do Rio Grande, pouco depois de passar por Ibituruna, a do Rio das Mortes, chegando-se até o arraial do Rio das Mortes, atual cidade de São João Del Rey. (Fonte: http://migre.me/fzsgo) 


MAPA DO CAMINHO VELHO - VIA GUAIPACARÉ (LORENA), REGISTRO (PIQUETE-SP), CONCEIÇÃO DO EMBAÚ (CRUZEIRO-SP), PASSA VINTE (PASSA QUATRO-MG)
 

domingo, 21 de julho de 2013

Formação da rede regional de abastecimento do Rio de Janeiro: a presença dos negociantes de gado (1801-1811) - (Transcrição)

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Uma ilustração do relacionamento comercial entre São Paulo e Minas pode ajudar a confirmar a hipótese de uso do caminho da Piedade para a condução de uma parcela dos rebanhos de Minas para o Rio de Janeiro. Alguns moradores da vila de Santa Maria de Baependi (MG) representaram, com o apoio do capitão-mor Manoel Pereira Pinto, em 1817, a Câmara da vila de Lorena mostrando a necessidade de conserto do caminhoda Serra da Mantiqueira. Por tal via realiza va-se o escoamento de produtos do sudeste mineiro. Segundo as palavras do próprio capitão: “Atesto, e faço certo, não só pelas representações, que me têm sido feitas, como pelo pleno conhecimento, que tenho, que a Serra da Mantiqueira, por onde transitam numerosas tropas e viandantes para corte do Rio de Janeiro e a cidade de São Paulo se acha incapaz de se passar pelos grandes faltos e desmanchos das calçadas, que tem motivado grandes prejuízos de animais, e que não havendo reparo se arruinará a mesma estrada totalmente, e impossibilitará no todo a passagem, e por conseguinte se diminuirão os interesses reais” (AESP, Ordem  232).19
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Fonte: http://migre.me/fyQ6P

Fonte: Blog do Vieira http://migre.me/fxRUK
DOC. ARQUIVO PUBLICO MINEIRO
Este mapa nos mostra como a região estava cortada e recortada por vários caminhos e muitas picadas. Vê-se, ainda o Caminho Velho e as diversas "fazendas" já existentes na região mineira.
1 - Monte Ita Picu
2 - Estrada do Picu (construída por volta de 1820)
3 - Lagoa da Aiuruoca
4 - Arraial de Baependi
5 - Registro da Mantiqueira
6 - Capela do Imbaú
7 - Registro de Itajubá
8 - (Barreira de Piquete)...lugar por onde se deve transpor a Serra...após o Registro de Itajubá
9 - Arraial de Itajubá
10 - Vila da Campanha
11 - Arraial de São Gonçalo
12 - Vista do Sapocahi Mirim
13 - Arraial de Santa Ana do Sapocahi (Silvianópolis)
14 - Arraial de Camanducaya
15 - Registro de Jaguari
16 - Morro do Lopo
17 - Campos do Selado (...de Camanducaya)
18 - Estrada... para caminho principal para Pindamonhangaba
19 - Fazenda de Itajubá
20 - Lugar do quartel da patrulha...do Campo de São Pedro
21 - Fazenda de Ignacio Caetano Vieira de Carvalho
22 - Fazenda de João Pereira
23 - Moradores de Itajubá (fazendeiros ?)
24 - Estrada para Itajubá
25 - Estrada para as Bicas (rio)
26 - Registro das Bicas
27 - Fazenda de João da Costa Manço
28 - Fazenda que foi do Cardoso
29 - Fazenda dos Pastos Novos...
30 - Quartel de São Paulo casa da guarda da ordenança da Vila de Pindamonhangaba
31 - Estrada que segue da Vila de Campanha para a de São José (?)
32 - Estrada que segue da Cerra da Mantiqueira para São Paulo 
Piquete-SP: Considerando o Mapa produzido entre 1800/1801,  que mostra em especial, os caminhos e Registros de passagem,  é oportuno destacar a barreira de piquete n.º 08 e o Registro de Itajubá n,º 07 e sua importância.  Tendo em vista,  o significado da própria palavra ppiquete, elemento toponímico, relacionado a potreiro, mangueiro, espaço destinado a contenção de animais próximos as casas e Ranchos. Neste caso reiterando, na proximidade do Registro de Itajubá,  ao piquete, no caminho de transposição  pelo Alto da Serra da Mantiqueira, Garganta do Sapucaí, Meia Lua, Boa Vista, resulta inquestionável, que se tratou de uma Rota comercial,  de intensa  atividade Tropeira  no espaço colonial de Piquete. Por outro lado, dada a Geografia, da região, resta evidente que, a estrada dos Marins, veio a se transformar em uma rota de Carreiros e igualmente de tropeiros.
Nota: Piquete - Pequeno potreiro, ao lado da casa, onde se põe ao pasto os animais utilizados diariamente. (Dicionário Gaudério http://migre.me/fySr0)


sábado, 20 de julho de 2013

CAMINHO NHÁ CHICA E PADRE VICTOR - CNCPV: A HISTÓRIA DA CAPELA DO DISTRITO DO RIO DAS MORTES...(Transcrição)

CAMINHO NHÁ CHICA E PADRE VICTOR - CNCPV: A HISTÓRIA DA CAPELA DO DISTRITO DO RIO DAS MORTES...: Capela de Santo Antônio do Distrito do Rio das Mortes Pequeno em São João del-Rei (MG) Para nos situarmos no contexto histórico da ép...
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Capela de Santo Antônio do Distrito do Rio das Mortes Pequeno em São João del-Rei (MG)
Para nos situarmos no contexto histórico da época, era São João del-Rei a mais promissora das vilas, ao lado de Vila Rica do Ouro Preto, e foi escolhida como capital de uma das grandes comarcas da capitania mineira: a Comarca do Rio das Mortes. Em 1714 a Capitania das Minas Gerais sediava três importantes comarcas: a de Vila Rica, com sede na hoje Ouro Preto, a do Rio das Velhas, cuja sede era Vila Real, hoje Sabará e a terceira e talvez mais importante, a nossa de Rio das Mortes, que tinha seu fórum em São João del-Rei. A Comarca de Rio das Mortes, para a cobrança do quinto do ouro, teve dilatado o trecho da capitania que se estende do Ribeirão das Congonhas, nas divisas da Comarca de Vila Rica até à Vila de Guaratinguetá, pela serra da Mantiqueira ao sul, não lhe assinalando a linha do oeste, por se tratar, como explica Diogo de Vasconcelos, de sertão desconhecido. Modificações tiveram lugar em 1823, data da sedição de Ouro Preto, quando São João del-Rei sediou o governo da capitania durante todo o período de comoção, até que fosse restaurada a ordem.
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MAPAS DE SANTOS
Fonte: Carta corográfica - Cap. de S. Paulo, 1766 .Apresentando o Estado Político da Capitania de São Paulo em 1766, foi elaborada esta carta, com particular atenção aos limites com Minas Gerais.
Nota: Parafraseando: "A Comarca de Rio das Mortes, para a cobrança do quinto do ouro, teve dilatado o trecho da capitania que se estende do Ribeirão das Congonhas, nas divisas da Comarca de Vila Rica até à Vila de Guaratinguetá, pela serra da Mantiqueira ao sul. Por conseguinte, o caminho de transposição, sempre foi pelo Alto da Serra, Núcleo Embrião de Piquete, em conformidade com o Mapa de Santos de 1766,  caminho pecorrido pelo Padre João de Faria Fialho. Sendo certo ainda que, Guaratinguetá  foi Vila da Região do Rio das Mortes, antes da criação da referida Comarca. Além de que, por mais de 300 anos Guaratinguetá-SP,  constituiu-se em principal entreposto de Abastecimento da Região. Restanto justificado se o caminho religioso se prolongasse e tivesse como destino o Santuario de  Frei Galvão em Guaratinguetá-SP" 

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AS PRIMEIRAS DIVISAS (Piquete do alto da serra chamada de Mantiqueira)

Capítulo 1 - AS PRIMEIRAS DIVISAS (Transcrição)
Por ordem de D. Brás Baltazar da Silveira, governador e capitão-general de Minas  Gerais e de São Paulo  1, datada de 6 de agosto de 1714, as Câmaras de Vila Rica, Vila Real e N. S. do Carmo (atual Mariana), fixaram as suas respectivas divisas com S. João del Rei,  ficando o limite desta última, com Guaratinguetá, pela Serra da Mantiqueira 2. Sendo o termo assinado pelo governador das duas capitanias, constituía ato acabado e  legal. Mas em setembro daquele mesmo ano a Câmara de Guaratinguetá praticou ato que poderia ser considerado nulo, indo colocar um marco divisório no morro do Caxambu, nas  proximidades de Baependi 3. Em época não identificada, mas provavelmente pouco depois, a Câmara de S. João del  Rei destruiu esse marco e colocou outro no alto da Serra da Mantiqueira.  Pelo alvará régio de 2 de dezembro de 1720, D. João V dividiu em dois o governo de  São Paulo e Minas, para que um governador residisse nas Gerais e o outro em São Paulo, com toda a marinha inclusive e, quanto aos limites, ficaram sendo, no sertão, os que tinha a  Comarca e Ouvidoria de São Paulo com a Comarca e Ouvidoria do Rio das Mortes 4. O primeiro governador e capitão-general de São Paulo, depois da divisão e também o  primeiro a residir em nossa capital, foi D. Rodrigo Cesar de Menezes, que tomou posse em 5  de abril de 1721 5. Os governadores das capitanias reunidas tinham a faculdade de  escolher o local de sua  residência e até então haviam-se estabelecido em Vila Rica (atual Ouro Preto), por motivos puramente fiscais.  Sucedeu-lhe Antônio da Silva Caldeira Pimentel, que tomou posse no dia 15 de agosto de 1727  6. A Câmara Municipal de Guaratinguetá ambicionava o território até o Morro do  Caxambu e, em 1731, obteve, por meio de uma representação de Caldeira Pimentel, parcial  satisfação dos seus desejos, com a expedição da provisão régia de 23 de fevereiro desse ano,   mandando repartir com mais igualdade o território entre as duas vilas e dizendo que o governador da Capitania de São Paulo “se alargasse para os montes que ficam entre a vila de  Guaratinguetá e Rio das Mortes” 7.  A Provisão de 23 de fevereiro de 1731 ordenava que o governador de Minas devia  entender-se com o de São Paulo, ajustando os “limites que por esta devem ter um e outro  governo e me dareis conta para aprovar se me parecer, declarando a distância de uma e outra parte: se naquela parte se acha alguma serra ou rio que possa servir de demarcação entre os  dois governos” 8. Quais eram essas divisas? Autos de posse efetuados por Minas Gerais 9 nos dão conta de que os próprios mineiros consideravam as raias como sendo pelo rio Sapucaí 10. No auto de ratificação de posse do arraial de Santo Antônio do Val da Campanha do Rio Verde (atual Campanha), lavrado a 25 de fevereiro de 1743, afirmam os oficiais da  Câmara de São João D’El Rei “estarem há muitos anos de posse não só do mesmo arraial e de  seus distritos, mas ainda de todos os sertões até o rio Sapucaí, e há muitos anos sem  contradição alguma, e pela estrada geral que vai deste distrito para a cidade de São Paulo até o  alto da serra chamada de Mantiqueira” 11. As minas de Campanha foram descobertas em 1720  e a freguezia criada em 1724.  Numa narrativa dos acontecimentos da época, feita em 1765, por Inácio Alves Pimenta, testemunha ocular dos fatos, afirma ele que o capitão Bartolomeu Correia Bueno foi  intimado pelo ouvidor do Rio das Mortes Cipriano José de Souza para que dentro de duas  horas despejasse a sua comarca e se pusesse da outra parte do rio  Sapucaí, distrito seu. O  Capitão solicitou para sair à noite, no que foi atendido, pondo-se da parte de cá do rio, onde  dominou algum tempo, e ficou tudo no mesmo ser. Bartolomeu Correia Bueno havia sido  nomeado guarda-mor das minas de Santo Antônio do Rio Verde, descobertas pelos paulistas 12.  Em uma informação, datada provavelmente de 1765, o capitão-mor de Mogi das  Cruzes diz que quando se descobriram as minas da Campanha do Rio Verde, que estão da  outra parte do Rio Sapucaí para as partes das Minas Gerais, e por estar esta parte neste tempo da divisão de São Paulo por se dizer, e na paragem chamada Caxambu, mandou o Sr. General  de São Paulo e o Exmo. Sr. D. Luís de Mascarenhas ao capitão Bartolomeu Correia Bueno,  morador na Freguesia de São João de Atibaia, este chegando lá, veio do Rio das Mortes o  Ouvidor, cujo nome não me lembra (era o dr. José Antonio Calado), e o botou fora daquelas  minas e suas posses no dito Rio Sapucaí, que o distrito de S. Paulo era daquele rio para esta  parte, e para melhor firmar a sua posse mandou fazer no meio daquele rio um girau e sobre ele  fez atos possessórios...(ilegível)...e nesta forma se constituíram senhores daquela Campanha 13.  Os paulistas também consideravam as divisas como sendo pelo rio Sapucaí, no seu  álveo ou madre, significando, assim, que as mesmas eram pelo fio da corrente e não a margem    direita somente. A Bula “Condor Lucis Aeternae”, mais conhecida como “Motu Próprio” do Papa  Benedito XIV, estabeleceu as divisas entre os bispados de São Paulo e Mariana  independentemente do Rio de Janeiro e fixou as divisas eclesiásticas tal como estavam firmadas as das Câmaras Seculares, ficando as mesmas, pois, pelo Rio Sapucaí  14.  A Provisão Régia de 30 de abril de 1747 determinou que “sirva de limites dessas  Capitanias de São Paulo e Minas o Alto da Serra da Mantiqueira,” para desta sorte se evitarem  as desordens que podem resultar de ficar o dito sítio administrado e regido por duas  jurisdições, o que assim ficareis entendendo” 15.  A divisa, pois, foi claramente determinada pelo Alto da Serra da Mantiqueira. E como  o Alto da Serra da Mantiqueira fica ao norte alguma coisa do Rio Sapucaí, ficou este servindo  de divisa, sendo: os arraiais de Santo Antônio, S. Gonçalo e todo o mais terreno ao Norte do Sapucaí para Minas Gerais, e o Arraial de Santa Ana e todo o terreno ao sul do dito rio para a   Capitania de São Paulo.

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16. Fonte: http://migre.me/fxR7h

 Fonte: Blog do Vieira http://migre.me/fxRUK
DOC. ARQUIVO PUBLICO MINEIRO
Este mapa nos mostra como a região estava cortada e recortada por vários caminhos e muitas picadas. Vê-se, ainda o Caminho Velho e as diversas "fazendas" já existentes na região mineira.
1 - Monte Ita Picu
2 - Estrada do Picu (construída por volta de 1820)
3 - Lagoa da Aiuruoca
4 - Arraial de Baependi
5 - Registro da Mantiqueira
6 - Capela do Imbaú
7 - Registro de Itajubá
8 - (Barreira de Piquete)...lugar por onde se deve transpor a Cerra...após o Registro de Itajubá
9 - Arraial de Itajubá
10 - Vila da Campanha
11 - Arraial de São Gonçalo
12 - Vista do Sapocahi Mirim
13 - Arraial de Santa Ana do Sapocahi (Silvianópolis)
14 - Arraial de Camanducaya
15 - Registro de Jaguari
16 - Morro do Lopo
17 - Campos do Selado (...de Camanducaya)
18 - Estrada... para caminho principal para Pindamonhangaba
19 - Fazenda de Itajubá
20 - Lugar do quartel da patrulha...do Campo de São Pedro
21 - Fazenda de Ignacio Caetano Vieira de Carvalho
22 - Fazenda de João Pereira
23 - Moradores de Itajubá (fazendeiros ?)
24 - Estrada para Itajubá
25 - Estrada para as Bicas (rio)
26 - Registro das Bicas
27 - Fazenda de João da Costa Manço
28 - Fazenda que foi do Cardoso
29 - Fazenda dos Pastos Novos...
30 - Quartel de São Paulo casa da guarda da ordenança da Vila de Pindamonhangaba
31 - Estrada que segue da Vila de Campanha para a de São José (?)
32 - Estrada que segue da Cerra da Mantiqueira para São Paulo
Nota: Relativamente a questão de divisa a barreira de piquete intem 08 do mapa, foi instalada exatamente no Alto da Serra, espaço denominado hoje como, Bairro da Boa Vista, Meia Lua em Piquete-SP.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

TROPEADA AMIGOS DO TAIOBA - 2013 - "NO CAMINHO DE SÃO PAULO PARA AS MINAS GERAIS, E PARA O RIO DAS VELHAS”

 “ROTEIRO DO CAMINHO DE SÃO PAULO PARA AS MINAS GERAIS, E PARA O RIO DAS VELHAS”Gastão comumente os paulistas desde a vila de São Paulo até as Minas Gerais dos Cataguás pelo menos, dois meses; porque não marchão de sol a sol, mas até ao meio dia; quando muito até uma ou duas horas da tarde; assim para se arrancharem, como para terem tempo de descançar, e de buscar alguma caça, ou peixe, onde o há, mel de páo, e outro qualquer mantimento. E desta sorte aturão com tão grande trabalho.“O roteiro do seu caminho desde a vila de São Paulo, até a Serra de Itatiaia, onde se divide em dous; um para as minas do Caité, ou Ribeirão de Nossa Senhora do Carmo, e do Ouro Preto; e outro para as minas do Rio das Velhas; e o seguinte em que se apontão os pousos, e paragens do dito caminho, com as distâncias que tem, e os dias que pouco mais ou menos se gastão de uma estalagem para outra, em que os mineiros pousão, e se é hoje necessário descanço, e se refazem do que hão mister, e hoje se achão em tais paragens.“No primeiro dia saindo da vila de São Paulo vão ordinariamente pousar em Nossa Senhora da Penha, por ser (como eles dizem) o primeiro arranco de casa; e não são mais que duas legoas.“Daí vão à aldeia de Tacuaquicetuba, cominho de um dia.“ “Gastão da dita aldeia até a vila de Mogi, dous dias.“De Mogi vão às Larangjeiras, caminhando, quatro ou cinco dias até o jantar.“Das Laranjeiras até a vila de jacareí, um dia até as três horas.“De Jacareí até a vila de Taubaté dois dias até o jantar.“De Taubaté a Pindamonhangaba, freguezia de Nossa Senhora da Conceição, dia e meio.‘De Pindamonhangaba até a vila de Guaratinguetá cinco ou seis dias até o jantar.De Guaratinguetá até o porto de Guaipacare, onde ficão as roças de Bento Rodrigues, dois dias até o jantar. Destas roças até ao pé da serra afamada da Mantiqueira pelas cinco serras muito altas, que parecem os primeiros morros, que o ouro tem no caminho, para que não cheguem lá os mineiros, gastão-se três dias até o jantar. Daqui começão a passar o ribeiro, que chamão passa vinte, porque vinte vezes se passa; e se sobe as serras sobreditas; para passar as quais, se descarregão as cavalgaduras, pelos grandes riscos dos despinhadeiros, que se encontrão; e assim gastão dois dias em passar com grande dificuldade estas serras; e daí se descobrem muitas e aprazíveis arvores de pinhões que a seu tempo dão abundancia deles para o sustento dos mineiros, como também porcos mantezes, araras, e papagaios.“Logo passando outro ribeiro, que chamão passa trinta, porque trinta e mais vezes se passa, se vai aos pinheiros; lugar assim chamado, por ser o principio deles; e aqui há roças de milho, abóboras, e feijão, que são as lavouras feitas pelos descobridores das minas, e por outros, que por ai querem voltar. E só disto constão aquelas, e outras roças nos caminhos, paragens das minas; e quando muito tem de mais algumas batatas. Porém em algumas delas hoje, achão-se, criação de porcos domésticos, galinhas, e frangões, que vendem por alto preço aos passageiros, levantando-os tanto mais, quanto é maior a necessidade dos que passão. E daí vem o dizerem, que todo o que passou a serra da Amantiqueira, ai deixou dependurada, ou sepultada a consciência.“Dos Pinheiros se vai à estalagem do Rio Verde, em oito dias, pouco mais ou menos, até o jantar,e esta estalagem tem muitas roças, e vendas de cousas comestiveis, sem lhe faltar o regalo de doces.“Daí caminhando três, ou quatro dias pouco mais, ou menos, até o jantar, se dá na afamada Boa Vista; a quem nem se deu este nome, pelo que se descobre daquele monte, que parece um mundo novo, muito alegre; todo campo bem estendido, e todo regado de ribeirões, uns maiores que outros, e todos com seu mato que vai fazendo sombra, com muito palmito, que se come, e mel de páo, medicinal, e gostoso. naTem este campo seus altos e baixos; porem moderados; e por ele se caminha com alegria, porque tem os olhos que ver e contemplar perspectiva o Monte Caxambu, que se levanta as nuvens com admirável altura.Da Boa Vista se vai à estalagem chamada Ubay, aonde também há roças, e serão oito dias de caminho moderado até o jantar.“Do Ubay, em três ou quatro dias vão ao Ingay.“Do Ingay, em quatro ou cinco dias se vai ao Rio Grande; o qual quando está cheio, causa medo pela violência com que corre, mas tem muito peixe, e porto com canoas e quem quer passar, paga três vinténs e tem perto suas roças.“Do Rio Grande se vai em cinco dias, aos Rios da Morte, assim chamado pelas que nele se fizerão: e esta é a principal estalagem aonde os passageiros se refazem, por chegarem já muito faltos de mantimentos. E neste rio, e nos ribeirões e córregos, que nele dão, há muito se tem tirado e tira: e o lugar muito alegre, e capaz de fazer nele morada estável, se não fosse tão longe do mar.“Desta estalagem vão em seis dias ou oito dias às plantações de Garcia Rodrigues.“E daqui em dois dias chegão à Serra de Itatiaia.“Desta serra seguem-se dois caminhos: um que vai dar nas Minas Gerais do Ribeirão de Nossa Senhora do Carmo, e do Ouro Preto; e outro, que vai a dar nas minas do Rio das Velhas: cada um deles de seis dias de viagem E desta serra também começão as roçarias de milho e feijão a perder-se de vista, donde se provem os que assistem, e lavrão nas minas.
Nota: (Essa estrada vem relatada na obra de Antonil intitulada “Cultura e Opulência do Brasil” publicada em 1711, com o titulo “Roteiro do Caminho de São Paulo para as Minas Gerais e para os Rios das Velhas" e vem descrita no volume XI dos “Documentos Interessantes de Orville Derby citada por (LEITE, Mário. A Região da Mantiqueira, Ensaio Descritivo. Lisboa-Portugal: Composto e Impresso Na Sociedade Industrial de Tipografia, Limitada, 1951, 1.º ed., p. 121)


terça-feira, 16 de julho de 2013

Registro de Itajubá (Transcição)

O posto fiscal de Itajubá localizava-se na região sul da capitania de Minas, mais precisamente próximo à cidade de mesmo nome, e pertencia à comarca do Rio das Mortes. Pelo fato de estar próximo da fronteira entre São Paulo e Minas, é possível dizer que muitas mercadorias que vinham da região sul da colônia, assim como daquela capitania, foram importadas para a região mineradora por este registro. Apesar da proximidade do registro de Itajubá com a fronteira entra as duas capitanias, não é possível perceber uma grande diversidade de mercadorias que foram introduzidas através do registro no período que vai de 1750 a 1832. Mas a pouca diversidade de produtos não quer dizer que o volume de mercadorias importadas não seja significativo. Para ilustrar tal afirmativa, o rendimento só de impostos cobrados sobre importações chegou a 235$548,60 no período em destaque.Os principais produtos importados e o valor total dos impostos arrecadados sobre eles se encontram no quadro a seguir:
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DOC. ARQUIVO PUBLICO MINEIRO
(Transcrição) Este mapa nos mostra como a região estava cortada e recortada por vários caminhos e muitas picadas. Vê-se, ainda o Caminho Velho e as diversas "fazendas" já existentes na região mineira.
1) Monte; 2) Ita-Picu e estrada velha; 3) Lagoa da Iuruoca; 4) Arraial de Baependi; 5) Registro da Mantiqueira; 6) Capela do Imbaú; 7) Registro de Itajubá; 8) (Barreira de Piquete)...lugar por onde se deve transpor a Serra...após o Registro de Itajubá; 9) Arraial de Itajubá; 10) Vila da Campanha; 11) Arraial de São Gonçalo; 12) Vista do Sapocahi Mirim; 13) Arraial de Santa Ana do Sapocahi (Silvianópolis); 14) Arraial de Camanducaya; 15) Registro de Jaguari; 16) Morro do Lopo; 17) Campos do Selado (...de Camanducaya); 18) Estrada... para caminho principal para Pindamonhangaba; 19) Fazenda de Itajubá; 20) Lugar do quartel da patrulha...do Campo de São Pedro; 21) Fazenda de Ignacio Caetano Vieira de Carvalho; 22 -Fazenda de João Pereira; 23) Moradores de Itajubá (fazendeiros ?); 24) Estrada para Itajubá; 25) Estrada para as Bicas (rio); 26) Registro das Bicas; 27) Fazenda de João da Costa Manco; 28) Fazenda que foi do Cardoso; 29) Fazenda dos Pastos Novos...; 30) Quartel de São Paulo- casa da guarda da ordenança da Vila de Pindamonhangaba; 31) Estrada que segue da Vila de Campanha para a de São José (?); 32 Estrada que segue da Cerra da Mantiqueira para São Paulo.
Fonte Blog do Vieira: http://migre.me/fuF8v
OBS: Em conformidade com o Mapa temos: A) n.º 07 corresponde ao Alto da Serra (Bairro Boa Vista), Meia Lua, onde fora instalado o Registro de Itajubá.  B) n.º 08 Barreira de Piquete, resultante do conflito de divisa entre as Capitanias de São Paulo e Minas Gerais. C) n.º 9 Arraial de Itajubá compreendido hoje pela região ocupada pela cidade de Marmelópolis-MG e Delfim Moreira-MG.


 



 

ESTRADAS REAIS NO SÉCULO XVIII: A IMPORTÂNCIA DE UM COMPLEXO (Transcrição)

Sistema de circulação e o controle do território
Como expressa a historiografia, a mineração de metais preciosos tornou-se a atividade central da política exploratória da América Portuguesa no Setecentos, logo, o seu destino deveria ser, indubitavelmente, os portos da Colônia. O porto de Santos foi o primeiro a ter função de escoar o ouro para a metrópole, dada a proximidade com as minas, a rede de clientelismo que favorecia os “paulistas poderosos" (ANDRADE, 2002) no recebimento dos lotes minerais, bem como na proximidade e acesso que essa praça portuária tinha à vila de São Paulo, que, na ocasião, constituía-se como o principal ponto de entroncamento de vários caminhos e rotas de penetração (ABREU, 1963), resultado da tradição bandeirista. Desses, o caminho do vale do Paraíba que conduzia à Serra da Mantiqueira, após seguir o vale, tornou-se a principal rota de entrada de migrantes, da saída do ouro e do próprio abastecimento das minas nos seus primeiros anos. Era o chamado Caminho Geral do Sertão. Prado Jr. (2000) e Santos (2001), dentre outros autores, utilizaram os relatos de Padre Antonil [16] para descrever a rota paulista que partindo da vila de São Paulo, passava pela Penha, Itaquaquecetuba, Mogi das Cruzes, Laranjeiras, Jacareí, Taubaté, Pindamonhangaba, Guaratinguetá e Lorena. Transpunha-se a serra da Mantiqueira pela garganta do Embau e, vencida a “cordilheira” o caminho bifurcava-se, indo um dos ramos para as minas de Ribeirão do Carmo e Ouro Preto e o outro para as minas do Rio das Velhas. A esse caminho, juntou-se uma variante que partia do Rio de Janeiro por terra até Sepetiba, seguia por mar até Paraty e daí, subia a Serra do Mar atingindo o planalto nas proximidades da vila bandeirante de Guaratinguetá, seguindo desse ponto em diante pelo mesmo Caminho Geral. Esse caminho do Rio de Janeiro às Minas Gerais, passando por Paraty passou a ser chamado no século XVIII de Caminho Velho.
O rápido crescimento populacional da região aurífera e sua necessidade de abastecimento, bem como o escoamento rápido e seguro do ouro demandavam um sistema de circulação com qualidades não encontradas nem no Caminho Velho, muito menos no Caminho Geral, dadas as suas dimensões espaço-temporal alargadas. Faltava, desta forma, dotar os sertões das Minas Gerais dos Cataguás, como assim era chamada a região aurífera, de um sistema de circulação mais rápido e seguro com o objetivo de garantir maior fluidez na circulação do ouro, mercadorias, alimentos, pessoas e informações, logo, maior controle sobre a arrecadação dos impostos, como o quinto real e o dízimo. Em outras palavras, podemos dizer que a exploração das minas de ouro deu-se num ritmo veloz, enquanto a circulação continuava viscosa em virtude das inúmeras dificuldades encontradas nos primeiros caminhos. A intenção da abertura de um caminho que ligasse diretamente a cidade do Rio de Janeiro às Minas Gerais já aparecia em cartas escritas pelo então Governador do Rio de Janeiro – Artur de Sá e Meneses – ao Rei de Portugal, como na de 24 de maio de 1698. Nela, o Governador demonstra preocupação com “o extravio do ouro por caminhos outros, com as dificuldades que se acham os mineiros de todas as vilas e os do Rio de Janeiro de chegarem” e, por fim, com o próprio abastecimento de gêneros alimentícios para justificar sua ida a São Paulo com o objetivo de “encontrar alguém para a abertura de um caminho que viesse pôr fim a tais inconvenientes à Fazenda do Rei” [17]
Na própria carta, o Governador informa que um certo Amador Bueno havia se oferecido para a abertura do caminho, porém, “eram tão grandes os interesses que me pedia, que o excusei sobre a dita diligência”. Como esse era um negócio de grandes possibilidades lucrativas, o paulista Garcia Rodrigues – o descobridor das chamadas esmeraldas - se prontificou em abrir tal caminho em menos tempo. Antes de nos revelar uma simples negação a um e a autorização a outro, a carta nos revela os conflitos existentes entre os paulistas para o controle do futuro Caminho Novo. [18]
O debate travado sobre o ponto de partida e a data do início da abertura do Caminho Novo nos revela que, sob qualquer um dos pontos de vista, havia, de fato, um enorme interesse em controlar o mais rápido possível o caminho do ouro. A rapidez em que iniciou as obras e a concessão, já em 1700, por ordem do Governador do Rio de Janeiro, do direito exclusivo de fazer ou manter negócio no Caminho Novo [19] , mesmo que se limitando a uma picada para pedestres, evidencia que Garcia Rodrigues não só sabia utilizar muito bem a memória de seu pai [20] para garantir mercês junto à Corte e de seus representantes na Colônia (poder de crédito), como sabiamente previu que o controle do caminho do ouro lhe garantiria poder político e econômico por décadas, ou ainda, como bem mostrou RODRIGUES (2002), por séculos! [21] . Seu itinerário [22] era o seguinte:
“Descendo da Borda do Campo (atual Barbacena) pelo vale do Paraibuna, abandonava-o pouco abaixo de Simão Pereira, e, cruzando o rio, ia ter diretamente ao Paraíba em Paraíba do Sul. Das margens do Paraíba tomava o caminho rumo geral de SSW e, passando por Pau Grande (perto da estação de Avelar) e pelo atual Pati do Alferes, alcançava a serra do Couto que permitia a passagem relativamente fácil da bacia do Paraíba para a dos altos formadores do Santana, chegando-se, então, à frente escarpada voltada para a Baixada e drenada pelos afluentes do Iguaçu. Do sítio do Couto, alcançava a baixada pelo vale do Pilar, afluente do Iguaçu, acompanhando-o até a sede da freguesia do Pilar. Daí dois rumos poderiam ser tomados: descer pelo rio até a Guanabara e o Rio de Janeiro, ou chegar a esta cidade por terra, atravessando o rio Iguaçu e em dois dias alcançar Irajá” (Bernardes, 1961, p.60).
Nos dez primeiros anos de sua existência, o Caminho do Couto não passava de uma picada aberta na mata com inúmeros problemas e limitações para os viandantes e comerciantes, a saber: a estrada era tão estreita que permitia a passagem somente de pedestres, obrigando, dessa forma, o transporte de toda sorte de mercadorias ser realizado nas costas de escravos negros e índios, o que o tornava extremamente oneroso; ausência de pousos e estalagens em extensos trechos do caminho, impondo aos viandantes o pernoite “no mato”; e, talvez o maior dos problemas, a irregularidade ao longo do ano no abastecimento de alimentos pelas poucas roças existentes. [23]
De qualquer forma, nesses primeiros anos, a possibilidade de fazer o percurso das Minas de Ouro ao Rio de Janeiro em dez dias era uma vantagem imensurável se comparada aos caminhos Geral e Velho, tanto para o erário Real, que passava a ter maiores condições de controle da produção e circulação do ouro, quanto para os comerciantes que abasteciam as minas e, sobretudo, aos migrantes que mais rápido chegavam à região aurífera. [24] Todavia, a vantagem temporal do Caminho Novo de Garcia Rodrigues, ou Caminho do Couto como também era conhecido, não foi capaz de proporcionar a fluidez que a mineração passou a demandar a partir da segunda década do Setecentos, resultado do próprio crescimento da população e da produção aurífera, bem como da necessidade cada vez maior de fornecimento de gêneros da terra e mercadorias em geral.
Em requerimento de 1723, encaminhado ao Rei [25] , moradores do rio Inhomirim explicitam os problemas do Caminho do Couto e pediam autorização para abertura de uma outra variante mais rápida e segura, dada “as muitas inconveniências, moléstias, perdas e riscos de vida que continuamente experimentam os viandantes deste atual Caminho”. Nas palavras dos próprios moradores, “o lucro que tiram dele [transporte pelo Caminho Novo], nêle o tornam a deixar, gastando mais de oito dias até o Paraíba.” Explicitando que já conheciam uma outra variante de trajeto para o caminho – talvez já previamente utilizado como rota alternativa para o não pagamento dos tributos reais – os mesmos moradores elencam suas vantagens que:
“fazendo-se o caminho pelo rio Inhomirim que desde a barra é povoado de moradores, com estalagem à beira d’água, cômodos pastos para as bestas até o pôrto e que as dito acomodar, porque de qualquer pôrto poderão carregar bestas e marchar até o Paraíba sem tirar cargas, nem sentirem inconveniência de subir serra nem alugarem canoas por não ser necessário e sobretudo ser o caminho muito breve que em três dias se poderá ir à Paraí [26]
No mesmo ano, o Governador do Rio de Janeiro, Aires de Saldanha, ordena ao sargento-mor Bernardo Soares de Proença que “vá aquele sertão fazer o referido exame” para comprovar as “ditas” vantagens anunciadas pelos moradores do Inhomirim.
Tão logo comprovada a vantagem desta variante, o sargento Bernardo de Proença colocou-se efetivamente na tarefa de torná-la em condições de circulação, levando aproximadamente quatro meses e meio nessa tarefa. [27] Este passou a ser chamado de Caminho de Proença ou Caminho de Inhomirim. Segundo Bernardes (1961, p.62):
“abandonando este [Caminho do Couto] ao sul do Paraíba (atual Encruzilhada), seguia para sudeste na direção do vale do Fagundes e de seu afluente Secretário, que acompanhava antes de ganhar o Piabanha, cujo curso seguia até o alto da serra. Daí descia à Baixada pelo vale do Inhomirim ou Estrela até o porto de mesmo nome, por onde se alcançava por água o Rio de Janeiro”.
O interesse e a necessidade em tornar a circulação entre as Minas Gerais e o porto do Rio de Janeiro mais rápida era tão evidente que o processo de abertura dessa variante do Caminho Novo foi também extremamente rápido, pois, da petição dos moradores do Inhomirim ao comunicado por parte do Governador do Rio de Janeiro do término das obras (06/10/1725) [28] não se passaram mais que dois anos.
Esse fato nos prova o quanto a Coroa Portuguesa estava empenhada em fincar seu poder e controle sobre as Minas Gerais. Das primeiras expedições de descobrimento no século XVII até a abertura dos Caminhos do Couto e de Inhomirim, o chamado “sertão das minas” já passara por inúmeras transformações socioespaciais, tais como o surgimento de outros caminhos e rotas menores de circulação interna, crescimento demográfico, surgimento de inúmeras vilas, degradação ambiental dos rios e riachos, dizimação da população indígena, entre outras. No entanto, a Coroa ainda não conseguira instalar-se efetivamente com seu cetro de poder nessa área, objetivando maior controle e arrecadação de impostos sobre a produção aurífera. Faltava a esse novo território um sistema de circulação capaz de garantir maior fluidez para o escoamento do ouro, às mercadorias vindas do litoral e aos gêneros da terra de abastecimento, bem como maior fluidez do controle régio, que chegava nas minas muito lentamente.
Os Caminhos do Ouro proporcionaram a dinamização, normatização e. conseqüentemente, maior controle dos processos socioespaciais já instalados nas Minas Gerais em anos anteriores. Em outras palavras, podemos dizer que foi a partir da abertura destes que novos sistemas de objetos e sistemas de ações representativos das forças metropolitanas e locais se densificaram, garantindo e viabilizando a transformação da configuração territorial brasileira. Fonte: http://migre.me/fuCGf
 
 Caminho Velho - via Registro (Piquete-SP), Conceição do Embaú (Cruzeiro-SP)

GUIA DA UNESCO - Una guía para la administración de sitios e itinerarios de memoria.

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