quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Seminário internacional “ Herança, identidade, educação e cultura: gestão dos sítios e lugares de memória ligados ao tráfico negreiro e à escravidão”

Nome da Palestra: O que é turismo cultural Palestrante: Hervé Barré, especialista em turismo cultural e desenvolvimento
Data: 20/08/2012 – 12:30
Hervé Barré lamenta o curto tempo que teria sua exposição. E fala da sua percepção e das propostas da Unesco em relação ao turismo de memória, associado à Rota de Escravos. A partir de ações rigorosas de pesquisa, do desenvolvimento, das visitas, da memória partilhada e da memória visitada, criaremos um diálogo que evitará o esquecimento das grandes tragédias da humanidade. Graças à criação da Rota do Escravo podese criar um diálogo entre as raças. Hervé entende a Unesco, há mais de 30 anos, a partir da convenção no México e da cúpula de Johanesburgo, que o turismo cultural é parte do desenvolvimento social. E a cultura é uma identidade social. O turismo cultural é um meio para garantir e assegurar esse desenvolvimento. Turismo é uma das principais atividades para valorizar a cultura no planeta e criar empregos. A cultura se define a partir da declaração da Unesco de desenvolvimento cultural. Os aspectos afetivos, culturais, espirituais e os modos de vidas, os sistemas de valores são agentes desse desenvolvimento. Intentase aproximar o desenvolvimento cultural aos objetivos sociais e econômicos. É importante relacionar os agentes numa dimensão ética. Ou seja, manter o respeito às populações locais e evitar os excessos do turismo. O turismo mudou, e hoje é mais democrático. Nas últimas três décadas, as populações locais têm demonstrado mais interesse em atividades culturais, patrimoniais e ecológicas relacionadas ao turismo. A Unesco, por meio de seus trabalhos, reconhece as capacidades dessas populações. A identidade cultural atribui sentido ao turismo.
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O turismo de memória se baseia na declaração universal dos direitos humanos. A Rota do Escravo é um exemplo de turismo de memória. Ainda que o objetivo principal seja o turismo de massa, sua coabitação com o turismo de memoria é essencial. É  importantíssimo demonstrar que podem agir de forma conjunta. A infraestrutura deve ser pensada de acordo com as especificidades de cada visitante. Como exemplo, um turista jovem, em geral, terá
interesses diferentes de um turista de terceira idade: ambos devem ser contemplados. Restaurantes e lembranças, por sua vez, também devem ser adequados a cada lugar.
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Devemos encorajar as populações locais para que se apropriem dessa realidade e tenham mais autonomia a partir de meios e etapas de evolução. O investimento humano é necessário assim como o investimento financeiro. Para que se garanta a participação de todos devemos integrar os princípios da Unesco aos planos de gestão de governança democrática. É imperativo criar mais empregos e lutar contra a pobreza nos lugares de memória. Assim, serão garantidas melhores condições de vida e valorização de suas culturas. Isto será obtido com o reforço do turismo, da economia, da mobilização de recursos humanos, de aquisição de capacitação técnica e de competências profissionais. Dashur, no Egito, é exemplo desse processo de patrimônio mundial usado para o bem da população local. Com várias instituições envolvidas, é garantida a preservação para as futuras gerações e também a
promoção do desenvolvimento.
Fonte: http://migre.me/apA6j

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O RETRATO DO REI - Ana Miranda

Às margens do Paraíba, um rio caudaloso cercado de rochedos, havia um povoado com cabanas e uma pequena igreja sobre uma colina coberta de plantações de bananeiras. Atrás de uma das casas, pastavam cavalos que serviam de muda à escolta do ouro. A travessia do rio, avolumado pelas chuvas dos últimos dias, estava extremamente perigosa. As águas corriam com força. Uma balsa frágil transportou as  salvaguardas e os cavalos para o outro lado. Os animais, com olhos vendados, relinchavam. Mariana, Valentim e Aurora fizeram a travessia numa canoa. Mariana estava pálida e Aurora vomitou tudo o que tinha no estômago. No rancho, viajantes divertiam-se com mulheres; mulas comiam milho num coche; recoveiros empilhavam rolos de couro recheados de tabaco.  A travessia do rio, avolumado pelas chuvas dos últimos dias, estava extremamente perigosa. As águas corriam com força. Uma balsa frágil transportou as salvaguardas e os cavalos para o outro lado. Os animais, com olhos vendados, relinchavam. Mariana, Valentim e Aurora fizeram a travessia numa canoa. Mariana estava pálida e Aurora vomitou tudo o que tinha no estômago. No rancho, viajantes divertiam-se com mulheres; mulas comiam milho num coche; recoveiros empilhavam rolos de couro recheados de tabaco.
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Já entramos no Sertão das Minas?  perguntou Mariana, ao atingirem o sopé de uma montanha. Sim , disse Valentim, abaixando-se e recolhendo um punhado de terra vermelha. Aqui começa o Embaú. Embaú quer dizer garganta, vale. Estais vendo aqueles morros? Valentim apontou uma massa verdejante de matas. São a Mantiqueira , ele disse. Muros altos, para que nas Minas não cheguem os fracos. Valentim lavou a cara e as mãos numa fonte, examinou os cavalos e as mulas, saltou no dorso de seu animal e ordenou a partida. Viajou adiante, sempre a alguma distância das mulheres, junto com o condutor, às vezes sumindo numa curva. 
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Os nomes dos lugares se referiam a um detalhe da paisagem, a um fato ocorrido na região: Passa Vinte, Passa Trinta, riachos que se cruzavam vinte, trinta vezes; Pinheirinhos, onde floresciam bosques de pinheiros, lugar de roças de milho, abóbora, feijão, feitas pelos descobridores paulistas; Rio Verde, uma corrente de águas esverdeadas, com plantações às margens; Boa Vista, uma paisagem de campo regado por ribeirões; Rio Grande, cujas águas causavam medo pela violência com que corriam; Rio das Mortes, onde muitos haviam morrido ao atravessarem a correnteza ou em refregas de pelouradas.
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O Retrato do Rei (romance), Companhia das Letras, São Paulo, 1991;(http://migre.me/aoOKy)
Pé da Serra, (Bairro do Itabaquará), bifurcação de caminhos: a) Caminho Velho, via Conceição do Embabú, pela Garganta do Embaú; b) Caminho Geral do Sertão, via Garganta do Sapucaí, desfiladeiro de Itajubá, pelo Alto da Serra (Meia Lua).
 

1492 - A Conquista do Paraíso (versão editada)

Desmundo - Trailer de Cinema // Desmundo - Theatrical Trailer

 Amor à terra?
Sempre considerada um levante nativista, a Guerra dos Emboabas, na verdade, opunha dois grupos que queriam as mesmas coisas: ouro e poder político (Adriana Romeiro)
O episódio é famoso. Bandeirantes paulistas descobrem enormes jazidas de ouro na região de Minas Gerais e reclamam exclusividade em sua exploração. Os achados atraem muitos portugueses e pessoas de todas as partes do Brasil. Esses forasteiros são pejorativamente chamados de “emboabas” – para alguns, a palavra designava o indivíduo que cobria as pernas para protegê-las dos perigos dos sertões. As tensões entre os dois grupos culminam em um conflito armado que ficou conhecido como Guerra dos Emboabas. Há exatos 300 anos.
O confronto entre paulistas e emboabas já foi tema de um sem-número de livros e estudos. No entanto, pouco se avançou no conhecimento do episódio. Ao longo dos anos, houve um debate acalorado e polarizado que nada mais fez do que mascarar as reais motivações da guerra. Ao contrário do que se defendeu por muito tempo, o fato é que nem os bandeirantes nem os emboabas eram movidos pelo amor à terra.
O levante emboaba entraria para os anais da história mineira e para a memória local como o evento mais formidável das origens da capitania. Prova disso é o poema épico “Vila Rica”, no qual Manuel da Costa narra o nascimento da vila mineira partindo do conflito entre paulistas e emboabas:
Levados de fervor, que o peito encerra
Vê os Paulistas, animosa gente,
Que ao Rei procuram o metal luzente
Co’as próprias mãos enriquecer o erário.

A construção de um mito: Antônio de Albuquerque e o levante emboaba* (Adriana Romeiro)∗∗

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“Notícias dos primeiros descobridores das primeiras minas de ouro pertencentes a estas Minas Gerais, pessoas mais assinaladas nestes empregos e dos mais memoráveis casos acontecidos desde os seus
princípios”, publicada recentemente na edição crítica do Códice Costa Matoso, organizada pela Fundação João Pinheiro. Surpreendentemente, nela a figura de Albuquerque está longe de alcançar a relevância que lhe atribui o poeta mineiro, e a sua atuação na pacificação do conflito entre paulistas e emboabas é descrita de forma sucinta e apressada, num tom muito diverso do épico claudiano. Na verdade, é na História da América Portuguesa, de Rocha Pita, que Albuquerque é primeiramente descrito como grande herói pacificador: partidário dos emboabas, aos quais atribuía o êxito de estabelecer a ordem em meio à tirania dos paulistas, Pita descreveu a passagem do governador pelas Minas como uma empresa destinada a “reduzir aquele grande número de súditos, que vagava sem firmeza, à vida urbana e política, erigindo as seis vilas cujos nomes deixamos já escritos”. À exaltação da figura do governador pelos emboabas, que teriam mesmo rogado a sua intervenção em território mineiro, contrapõe-se a detração dos paulistas, descritos como os adversários acérrimos de Albuquerque, desrespeitosamente ameaçado e maltratado por eles no célebre encontro nas imediações da vila de Guaratinguetá.9 É interessante observar que, ao mesmo tempo em que o poema se impõe como contraponto crítico à obra de Rocha Pita, fartamente contestado pelo autor, ele não deixa de validar o seu elogio a Albuquerque, apresentando-o, inversamente, como simpático à causa paulista, num claro exercício de licença poética.
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Guerra dos Emboabas - A História da Guerra dos Emboabas, os bandeirantes, paulistas e forasteiros na revolta dos emboabas, História do Brasil no século do ouro, História de São Paulo, início do ciclo do ouro na História do Brasil, o Capão da Traição.

bandeirante Borba Gato
O bandeirante Borba Gato: líder dos paulistas na Guerra dos Emboabas

Introdução 
Por volta do final do século XVII, os paulistas que residiam na capitania de São Vicente encontraram ouro no sertão. Este fato fez com que muitos garimpeiros e portugueses fossem para aquela região.
Causas e conflitos
Pelo fato de terem sido os primeiros a descobrir, os paulistas queriam ter mais direitos e benefícios sobre o ouro que haviam encontrado, uma vez que este, estava nas terras em que viviam.
Entretanto, os forasteiros pensavam e agiam diferentemente; estes, por sua vez, eram os chamados emboabas. Os emboabas formaram suas próprias comunidades, dentro da região que já era habitada pelos paulistas; neste mesmo local, eles permaneciam constantemente vigiando todos os passos dos paulistas. Os paulistas eram chefiados pelo bandeirante Manuel de Borba Gato; o líder dos emboabas era o português Manuel Nunes Viana.
Dentro desta rivalidade ocorreram muitas situações que abalaram consideravelmente as relações entre os dois grupos. Os emboabas limitaram os paulistas na região do Rio das Mortes e seu o líder foi proclamado "governador". A situação dos paulistas piorou ainda mais quando estes foram atacados em Sabará.
Após seu sucesso no ataque contra os paulistas, Nunes Viana foi tido como o "supremo ditador das Minas Gerais", contudo, este, por ordem do governador do Rio de Janeiro, teve que se retirar para o rio São Francisco.
Inconformados com o tratamento que haviam recebido do grupo liderado por Nunes Viana, os paulistas, desta vez sob liderança de Amador Bueno da Veiga, formaram um exército que tinha como objetivo vingar o massacre de Capão da Traição. Esta nova batalha durou uma semana. Após este confronto, foi criada a nova capitania de São Paulo, e, com sua criação, a paz finalmente prevaleceu.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

A MEMÓRIA COMO UM DIREITO FUNDAMENTAL, NÃO DEVE SER APROPRIADA, NEM TÃO POUCO, UTILIZADA COMO PRODUTO MERCADOLÓGICO EM DETRIMENTO DOS PRODUTORES DO FAZERES E QUEFAZERES DE UMA COMUNIDADE, SOB PENA DE CARACTERIZAR GRAVE VIOLAÇÃO AO DIREITO DE EXISTIR AO PERTENCIMENTO, OU SEJA, USURPAÇÃO.

Neste sentido, torana-se oportuno citar os seguintes ensinamentos: "Para Maria Tereza Luchiari (2005), essa súbita valorização pelo patrimônio cultural é revestida de um caráter muito mais capitalista, de acúmulo de riqueza e exclusão social, não interessando as questões de caráter cultural, de resgate e de pertencimento da comunidade.
A revalorização das paisagens constituídas por elementos históricos, como o patrimônio arquitetônico, tem atribuído às paisagens urbanas contemporâneas um novo sentido no campo do consumo cultural. O patrimônio arquitetônico tornou-se, hoje, cenário revestido de valores mercadológicos, descompromissados com o passado e com o lugar [...] (LUCHIARI, 2005, p. 95)." 
Fonte: http://migre.me/aniDv (Turismo e consagração dos “Lugares de Memória” nas cidades coloniais e imperiais brasileiras)

domingo, 19 de agosto de 2012

Cicloturismo - ESTRADA REAL - DVD - cap-1

4 A EVOLUÇÃO DO NEGRO NA ECONOMIA COLONIAL (Transcrição)

4.1 O negro e a economia agroexportadora
O papel da população negra na economia colonial foi fundamental para o desenvolvimento das atividades empreendidas na colônia. O negro é peça fundamental na estrutura econômica agroexportadora.
4.1.1 Tráfico negreiro: aquisição de mão de obra escrava
A escravidão africana era uma instituição antiga na Península Ibérica. Em meados de 1450, os portugueses em suas viagens comerciais à África já retornavam com escravos. Por volta de 1480, os comerciantes lusitanos já haviam estabelecido um comércio permanente de escravos em vários pontos do continente africano, culminando com a exploração e ocupação da Ilha da Madeira, utilizando-se da mão de obra escrava no cultivo da cana-de-açúcar (Szmrecsányi, 2002).
O regime de trabalho compulsório tornou-se necessário a partir da expansão marítimo-comercial implementada a partir do século XV pelos países europeus. A necessidade de colonizar o Novo Mundo fez com que os europeus buscassem mão de obra na África para ocupar e explorar economicamente as novas terras. Nas palavras de Novais (1995, p.102), a “implantação de formas compulsórias de trabalho decorria fundamentalmente da necessária adequação da empresa colonizadora aos mecanismos do Antigo Sistema Colonial”.
O sistema colonial é que permitiu a exploração das novas terras e apresentou o trabalho compulsório como alternativa mais lucrativa. Acredita-se que a opção pelo negro no Novo Mundo, enquanto mão de obra, foi uma questão de interesse econômico da parte dos traficantes de escravos, uma vez que os comerciantes que compravam o açúcar nas colônias para venderem na Europa eram os mesmos que forneciam a mão de obra escrava aos senhores de engenho. Então, havia conveniência de se optar pelo negro, não só pelo lucro resultante do comércio do açúcar, mas principalmente pelos altos lucros obtidos no comércio de negros oriundos da África.
O comércio de escravos realizado pelos traficantes e referendado pelas metrópoles europeias, consistia numa atividade econômica muito lucrativa. O escravo negro era um dos principais produtos da pauta de importação do Brasil no final século XVIII, assim Prado Júnior (1994, p.116):
O ramo mais importante do comércio de importação é, contudo, o tráfico de escravos que nos vinham da costa de África: representa ele mais de uma quarta parte do valor total da importação, ou seja, no período 1796-1804, acima de 10.000.000 de cruzados, quando o resto não alcançava 30.000.000.
A especulação no comércio de escravo permitia aos traficantes altíssimas taxas de lucros. Conforme Prado Júnior (2006, p.232), o preço do escravo não era igual em toda a Colônia. Na Bahia, por exemplo, o preço de venda oscilava entre 140 a 150$000 réis , no Pará, entre 130 a 150$000 réis e no Maranhão a especulação foi ainda mais expressiva, ao passo que o preço de venda do escravo oscilou entre 250 a 300$000 réis. Neste período, final do século XVIII e início do XIX, a lucratividade do tráfico negreiro permitiu o aumento de capital de muitos traficantes metropolitanos, sobretudo quando se observa o total de escravos que desembarcavam na colônia portuguesa: cerca de 40.000 por ano.
Furtado (1995, p.43) afirma que no final do século XVI o “monte total dos capitais investidos na etapa da indústria resulta aproximar-se de 1.800.000 libras”. E por essa época havia 20.000 escravos no Brasil, sendo que três quartos, desse total, trabalhavam na indústria açucareira.
Considera-se que nesse período “o capital empregado na mão de obra escrava deveria aproximar-se de vinte por cento do capital fixo da empresa” (Furtado, 1995, p.43). Tal inversão de capital na aquisição da mercadoria-escravo propiciava aos comerciantes do tráfico uma renda significativa, ao passo que possibilitava a metrópole conseguir um saldo favorável na sua balança comercial, considerando as relações comerciais estabelecidas com a colônia, principalmente no que diz respeito ao comércio de escravos. Para Novais (1995, p.105) a “acumulação gerada no comércio de escravos, entretanto, fluía para a metrópole, realizavam-na os mercadores metropolitanos, engajados no abastecimento dessa ‘mercadoria’.”
De acordo com Alencastro (2000), Portugal foi um dos principais traficantes de negros para as colônias da América, porém não foi o único que participou desse negócio altamente lucrativo. Países como Holanda, Inglaterra e principalmente Brasil, também tiveram sua participação no comércio do Atlântico Sul.
Inicialmente, os lusitanos dominaram o tráfico negreiro no Atlântico Sul, especialmente após a União Ibérica em 1580; no momento em que a coroa espanhola conferiu aos portugueses o monopólio do fornecimento de escravos, através dos contratos de “asiento”, para as possessões da Espanha na América (Alencastro, 2000).
A presença do Brasil no tráfico de escravos também foi marcante. O tráfico de escravos realizados pelos brasileiros, segundo Novais (1994, p.116) já vinha ocorrendo desde o século XVII:
O exemplo da Bahia é ainda mais típico: desde o século XVII, vinha se desenvolvendo e se avolumando o tráfico direto com a Costa da Mina, do qual ficavam praticamente excluídos os mercadores metropolitanos; o que se devia (...) ao fato de que os negociantes da Bahia encontravam na Costa da Mina mercado para o tabaco de terceira qualidade (“o refugo”), proibido em Portugal, e do qual detinham praticamente a produção; os holandeses, dominadores na região africana, tinham excluído os portugueses e só davam entrada aos ofertantes do tabaco que permitiam o tráfico negreiro.
As necessidades da colônia em relação à mão de obra escrava acabavam por atacar o monopólio metropolitano no que se refere ao fornecimento de escravos. Neste contexto, a cultura do tabaco era incentivada, o que privilegiava a posição dos negociantes da Bahia, que aos poucos iam se tornando independentes do Reino.
O tráfico baiano de escravos dava lugar a um amplo contrabando envolvendo os ingleses, holandeses e franceses na Costa da África. Ou seja, como eram os principais produtores de tabaco, produto preferido no continente africano, os traficantes baianos negociavam diretamente com os outros mercadores metropolitanos, quebrando o pacto colonial estabelecido pela metrópole portuguesa.
A princípio, o tabaco não tinha grande expressão enquanto produto de exportação. O quantitativo que não era exportado para a metrópole (o chamado refugo), os comerciantes brasílicos conseguiram um mercado lucrativo na Costa da África. Tal fato despertou a cobiça e o interesse dos mercadores lusitanos, uma vez que todo negócio lucrativo na colônia, pelo pacto colonial, deveria favorecer aos portugueses e não aos colonos. Além do mais, a utilização do tabaco como moeda de troca por escravos estava minando os interesses portugueses no continente africano. Para eliminar a concorrência dos americanos, os metropolitanos cobraram, através desta carta ao governador da Bahia, providências no sentido de lhes conceder “privilégios e isenções” no comércio do artigo tabaco, para que efetivamente pudessem eliminar o contrabando baiano na Costa da África.
Em consonância com as ideias mercantilistas, o trecho desta carta apresenta “a definição do tráfico de escravos no quadro do colonialismo mercantilista” (Novais, 1994, p.194), no qual se devia formar um ramo do comércio colonial, neste caso o tráfico, que possibilitasse a acumulação de capital para a metrópole. No entanto, os principais artigos de troca que se estabeleceram no escambo com a África, foram o açúcar e principalmente o tabaco e a cachaça ou geribita. Inicialmente os portugueses reinaram absolutos no comércio negreiro, todavia, posteriormente os comerciantes brasílicos praticamente monopolizaram a produção do tabaco e da cachaça, estabelecendo comércio direto com a Costa da África, trocando esses produtos por negros e os transportando em suas próprias embarcações.
O tráfico de escravos brasílico também estava minando o “exclusivo metropolitano” português referente às importações de produtos manufaturados. O ofício de Martinho de Melo e Castro de 1785, atesta a fragilidade do comércio metropolitano ao confirmar que pelos “nocivos canais da África” os interesses portugueses sofrem um “jugo tão intolerável e injurioso” por parte de holandeses, ingleses e franceses, referindo-se às relações comerciais que esses países praticavam com comerciantes da Bahia e Rio de Janeiro.
Outro importante produto na pauta de escambo entre Brasil e África era a aguardente ou cachaça. Este produto era muito consumido na colônia, mas seu destino principal era a África. Prado Júnior (1994, p.38) afirma que além das destilarias anexas aos engenhos, havia também estabelecimentos produtores de aguardentes mais modestas – as chamadas engenhocas ou molinetes. Toda essa produção seria destinada principalmente “para as costas da África, onde servia no escambo e aquisição de escravos”.
Outra região que produzia aguardente para escambo na África era o Rio de Janeiro. Aliás, a produção de aguardente no Rio é notável, ela vem, sobretudo, de Ilha Grande, Angra dos Reis e Parati. Esta última atingiu um padrão de qualidade que a aguardente passou a ser sinônimo de Parati (Prado Júnior, 2006).
Segundo Alencastro (2000), o período brasílico em Angola se caracterizou pela entrada da cachaça nos mercados africanos. Em 1679, a coroa Portuguesa proibiu o comércio da cachaça em Angola por considerar que havia concorrência com seu produto nobre: o vinho. Porém, dez anos depois a Câmara de Luanda, capital de Angola, solicitou ao Conselho Ultramarino que restabelecesse o comércio da cachaça por se tratar do principal produto no resgate de escravos. Em relação a essa proibição, a Câmara de Salvador e alguns governadores brasílicos se posicionaram contra tal medida metropolitana.
Em 1795, o comércio da cachaça em Luanda é liberado. Conforme estatísticas de J. C. Curto, do total de bebida alcoólica legalizada que entrou em Luanda no período de 1699 a 1703, 78,4% correspondia à cachaça. Ainda segundo Curto, a cachaça teria servido para adquirir 25% dos escravos exportados da África Central para a América Portuguesa entre 1710 e 1830. Outros estudos, como os realizados por J. Ribeiro Jr., P. Verger e outros, afirmam que 48% dos 2.027.000 escravos que entraram na América Portuguesa no período de 1701 a 1810 foram adquiridos na troca por tabaco ou cachaça (Alencastro, 2000).
A produção interna de artigos destinados ao escambo na África, teve papel importante no estabelecimento de circuitos internos dentro da colônia. Em artigo publicado no I Congresso de História Econômica, o economista Ronaldo Marcos dos Santos analisa a formação de “circuitos internos às economias coloniais” como consequência das próprias contradições do sistema colonial metrópole-colônia, inserindo nesta questão a concorrência do tráfico negreiro realizado pelos negociantes americanos.
A crescente expansão da rede interna de comércio colonial promoveu um aumento da demanda de escravos, favorecendo os traficantes tanto portugueses quanto brasílicos. Embora o tráfico de escravos buscasse atender especialmente a grande lavoura no Nordeste e à região das minas no período áureo do ouro, não se pode negar que o tráfico impulsionou a acumulação interna de capital bem como a dinamização de atividades produtivas e mercantis na América portuguesa. Assim, pode-se concluir que a escravidão no Brasil foi impulsionada pelos interesses não só da metrópole, mas também pelos interesses dos comerciantes e traficantes da colônia. Fonte:http://migre.me/alBlF

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Caminho do Ouro, de Paraty a Ouro Preto:

ESTRADAS REAIS NO SÉCULO XVIII: A IMPORTÂNCIA DE UM COMPLEXO SISTEMA DE CIRCULAÇÃO NA PRODUÇÃO TERRITÓRIAL BRASILEIRO - Rafael Straforini (Universidade do Estado do Rio de Janeiro/FE - Brasil)

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Sistema de circulação e o controle do território
Como expressa a historiografia, a mineração de metais preciosos tornou-se a atividade central da política exploratória da América Portuguesa no Setecentos, logo, o seu destino deveria ser, indubitavelmente, os portos da Colônia. O porto de Santos foi o primeiro a ter função de escoar o ouro para a metrópole, dada a proximidade com as minas, a rede de clientelismo que favorecia os “paulistas poderosos" (ANDRADE, 2002) no recebimento dos lotes minerais, bem como na proximidade e acesso que essa praça portuária tinha à vila de São Paulo, que, na ocasião, constituía-se como o principal ponto de entroncamento de vários caminhos e rotas de penetração (ABREU, 1963), resultado da tradição bandeirista. Desses, o caminho do vale do Paraíba que conduzia à Serra da Mantiqueira, após seguir o vale, tornou-se a principal rota de entrada de migrantes, da saída do ouro e do próprio abastecimento das minas nos seus primeiros anos. Era o chamado Caminho Geral do Sertão. Prado Jr. (2000) e Santos (2001), dentre outros autores, utilizaram os relatos de Padre Antonil [16] para descrever a rota paulista que partindo da vila de São Paulo, passava pela Penha, Itaquaquecetuba, Mogi das Cruzes, Laranjeiras, Jacareí, Taubaté, Pindamonhangaba, Guaratinguetá e Lorena. Transpunha-se a serra da Mantiqueira pela garganta do Embau e, vencida a “cordilheira” o caminho bifurcava-se, indo um dos ramos para as minas de Ribeirão do Carmo e Ouro Preto e o outro para as minas do Rio das Velhas. A esse caminho, juntou-se uma variante que partia do Rio de Janeiro por terra até Sepetiba, seguia por mar até Paraty e daí, subia a Serra do Mar atingindo o planalto nas proximidades da vila bandeirante de Guaratinguetá, seguindo desse ponto em diante pelo mesmo Caminho Geral. Esse caminho do Rio de Janeiro às Minas Gerais, passando por Paraty passou a ser chamado no século XVIII de Caminho Velho.
 Via Registro (Piquete)
Via Alto da Serra (Piquete)  - Garganta do Sapucaí, Desfiladeiro de Itajubá, Garganta do Meia Lua.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

CULTURA E OPULÊNCIA DO BRASIL - CAPÍTULO IX Como se há de haver o senhor do engenho com seus escravos.

OS ESCRAVOS são as mãos e os pés do senhor do engenho, porque sem eles no Brasil não é possível fazer, conservar e aumentar fazenda, nem ter engenho corrente. E do modo como se há com eles, depende tê-los bons ou maus para o serviço. Por isso, é necessário comprar cada ano algumas peças e reparti-las pelos partidos, roças, serrarias e barcas. E porque comumente são de nações diversas, e uns mais boçais que outros e de forças muito diferentes, se há de fazer a repartição com reparo e escolha, e não à cegas. Os que vêm para o Brasil são ardas, minas, congos, de São Tomé, de Angola, de Cabo Verde e alguns de Moçambique, que vêm nas naus das Índia. Os ardas e os minas são robustos. Os de Cabo Verde e de São Tomé são mais fracos. Os de Angola, criados em Luanda, são mais capazes de aprender ofícios mecânicos que os das outras partes já nomeadas. Entre os congos, há também alguns bastantes industriosos e bons não somente para o serviço da cana, mas para as oficinas e para o meneio da casa.
Uns chegam ao Brasil muito rudes e muito fechados e assim continuam por toda a vida. Outros, em poucos anos saem ladinos e espertos, assim para aprenderem a doutrina cristã, como para buscarem modo de passar a vida e para se lhes encomendar um barco, para levarem recados e fazerem qualquer diligência das que costumam ordinariamente ocorrer. As mulheres usam de fouce e de enxada, como os homens; porém, nos matos, somente os escravos usam de machado. Dos ladinos, se faz escolha para caldeireiros, carapinas, calafates, tacheiros, barqueiros e marinheiros, porque estas ocupações querem maior advertência. Os que desde novatos se meteram em alguma fazenda, não é bem que se tirem dela contra sua vontade, porque facilmente se amofinam e morrem. Os que nasceram no Brasil, ou se criaram desde pequenos em casa dos brancos, afeiçoando-se a seus senhores, dão boa conta de si; e levando bom cativeiro, qualquer deles vale por quatro boçais.
Melhores ainda são, para qualquer ofício, os mulatos; porém, muitos deles, usando mal do favor dos senhores, são soberbos e viciosos, e prezam-se de valentes, aparelhados para qualquer desaforo. E,contudo, eles e elas da mesma cor, ordinariamente levam no Brasil a melhor sorte; porque, com aquela parte de sangue de brancos que têm nas veias e,talvez, dos seus mesmo senhores, os enfeitiçam de tal maneira, que alguns tudo lhes sofrem, tudo lhes perdoam; e parece que se não atrevem a repreendê-los: antes,, todos os mimos são seus. E não é fácil cousa decidir se nesta parte são mais remissos os senhores ou as senhoras, pois não falta entre eles e elas quem se deixe governar de mulatos, que não são os melhores, para que se verifique o provérbio que diz: que o Brasil é o inferno dos negros, purgatório dos brancos e paraíso dos mulatos e das mulatas; salvo quando, por alguma desconfiança ou ciúme o amor se muda em ódio e sai armado de todo o gênero de crueldade e rigor. Bom é valer-se de suas habilidades quando quiserem usar bem delas, como assim o fazem alguns; porém não se lhes há de dar tanto a mão que peguem no braço, e de escravos se façam senhores. Forrar mulatas desinquietas é perdição manifesta, porque o dinheiro que dão para se livrarem, raras vezes sai de outras minas que dos seus mesmo corpos, com repetidos pecados; e, depois de forras, continuam a ser ruína de muitos.
Opõem-se alguns senhores aos casamentos de escravos e escravas, e não somente não fazem caso dos seus amancebamentos, mas quase claramente os consentem, e lhes dão princípio, dizendo:
Fonte: http://migre.me/ajasM

CULTURA E OPULÊNCIA DO BRASIL (André João Antonil)

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CAPÍTULO VII
Da abundância de mantimentos, e de todo o usual que hoje há nas minas, e do pouco caso que se faz dos preços extraordinariamente altos.
SENDO A TERRA QUE DÁ OURO esterilíssima de tudo o que se há mister para a vida humana, e não menos estéril a maior parte dos caminhos das minas, não se pode crer o que padeceram ao princípio os mineiros por falta de mantimentos, achando-se não poucos mortos com uma espiga de milho na mão, sem terem outro sustento. Porém, tanto que se viu a abundância do ouro que se tirava e a largueza com que se pagava tudo o que lá ia, logo se fizeram estalagens e logo começaram os mercadores a mandar às minas o melhor que se chega nos navios do Reino e de outras partes, assim de mantimentos, como de regalo e de pomposo para se vestirem, além de mil bugiarias de França, que lá também foram dar. E, a este respeito, de todas as partes do Brasil, se começou a enviar tudo o que dá a terra, com lucro não somente grande, mas excessivo. E,não havendo nas minas outra moeda mais que ouro em pó, o menos que se pedia e dava por qualquer cousa eram oitavas. Daqui se seguiu mandarem-se às minas gerais as boiadas de Paranaguá, e às do rio das Velhas as boiadas dos campos da Bahia, e tudo o mais que os moradores imaginaram poderia apetecer-se de qualquer gênero de cousas naturais e industriais, adventícias e próprias. E, ainda que hoje os preços sejam mais moderados, contudo porei aqui um rol, feito sinceramente por quem assistiu nas gerais três anos, dos preços das cousas que por comum assento lá se vendiam no ano 1703, repartindo-o em três ordens, a saber: os preços que pertencem às cousas comestíveis; o do vestuário e armas; e os dos escravos e cavalgaduras, que são os seguintes:
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Preços dos escravos e das cavalgaduras
Por um negro bem feito, valente e ladino, trezentas oitavas.
Por um molecão, duzentas e cinqüenta oitavas.
Por um moleque, cento e vinte oitavas.
Por um crioulo bom oficial, quinhentas oitavas.
Por um mulato de partes, ou oficial, quinhentas oitavas.
Por um bom trombeteiro, quinhentas oitavas.
Por uma mulata de partes, seiscentas e mais oitavas.
Por uma negra ladina cozinheira, trezentas e cinqüenta oitavas.
Por um cavalo sendeiro, cem oitavas.
Por um cavalo andador, duas libras de ouro.
E estes preços, tão altos e tão correntes nas minas, foram causa de subirem os preços de todas as cousas, como se experimenta nos portos das cidades e vilas do Brasil, e de ficarem desfornecidos muitos engenhos de açúcar das peças necessárias e de padecerem os moradores grande carestia de mantimentos, por se levarem quase todos aonde vendidos hão de dar maior lucro.

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Fonte: ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil. 3. ed. Belo Horizonte : Itatiaia/Edusp, 1982. (Coleção Reconquista do Brasil). http://migre.me/ajasM

Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas.(André João Antonil)

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Na obra, por exemplo, comenta os danos causados no Brasil pela descoberta das Minas Gerais: "Convidou a fama das Minas tão abundantes do Brasil homens de toda casta e de todas as partes, uns de cabedal, outros vadios. Aos de cabedal, que tiraram muita quantidade dele nas catas, foi causa de se haverem com altivez e arrogância, de andarem sempre acompanhados de tropas de espingardeiros de animo pronto para executarem qualquer violência, e tomar sem temor algum da justiça, grandes e estrondosas vinganças. Convidou-os o ouro a jogar largamente e gastar em superfluidades quantias extraordinárias sem reparo, comprando por exemplo um negro trombeteiro por mil cruzados (400 mil réis, ou seja, quatro vezes mais o que valia um escravo) e uma mulata de mau trato por dobrado preço, para multiplicar com ela contínuos e escandalosos pecados. Os vadios que vão às Minas tirar ouro não dos ribeiros mas dos canudos em que o ajuntam e guardam os que trabalham nas catas, usaram de traições lamentáveis e de mortes mais que cruéis, ficando estes crimes sem castigo, porque nas Minas a justiça humana não teve ainda tribunal nem o respeito de que em outras partes goza, aonde há mineiros de suposição, assistidos de numeroso e seguido presídio; e só agora poderá esperar-se algum remédio, indo lá governar governado e mineiros." (supostamente uma alusão ao novo governador da Minas, Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho) "E até os Bispos e prelados de algumas religiões sentem sumamente o não se fazer conta das censuras para reduzir os seus bispados e conventos não poucos clérigos e religiosos que escandalosamente por lá andam ou apóstatas ou fugitivos. O irem também às Minas os melhores gêneros de tudo o que se pode desejar foi causa que crescessem de tal sorte os preços de tudo o que se vende, que os senhores de engenho e os lavradores se achem grandemente empenhados, e que por falta de negros não possam tratar do açúcar nem do tabaco como faziam folgadamente nos tempos passados que eram as verdadeiras Minas do Brasil e de Portugal. E o pior é que a maior parte do ouro que se tira das minas passa em pó e em moedas para os reinos estranhos, e a menor é a que fica em Portugal e nas cidades do Brasil, salvo o que se gasta em cordões, arrecadas e outros brincos, dos quais se vêem hoje carregadas as mulatas de mau viver e as negras muito mais do que as senhoras. Nem há pessoa prudente que não confesse haver Deus permitido que se descubra nas Minas tanto ouro para castigar com ele ao Brasil, como está castigando, no mesmo tempo tão abundante de guerras, aos Europeus com o ferro." 

Assim, Cultura e opulência do Brasil é uma obra que para além do seu contéudo, é em si estudada; seu contexto, sua estrutura, seu autor, elementos que proporcionam aos historiadores grandes objetos de estudo.

Mapa contido na pag. 250 da Obra  Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas. Introdução e notas de Andrée Mansuy Diniz Silva. São Paulo: USP, 2007.
Registro (Piquete) 
Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre. http://migre.me/aj15i 

Às toneladas - A descoberta do ouro alterou as relações econômicas na Colônia e enriqueceu a metrópole. Angelo Alves Carrara

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Em Minas, na contabilidade das lojas e vendas, ao lado dos  réis (plural de real), aparecia a unidade monetária fundamental: a “oitava” de ouro – o equivalente a 3,586 gramas. A oitava,  por sua vez, dividia-se em 32 frações: eram os “vinténs” de ouro. Cinco vinténs davam um “tostão”, e 20 vinténs completavam um “cruzado de ouro”. Quem acumulasse um quilo de ouro podia ter acesso a bens consideráveis. Este valor era suficiente para comprar 75 cabeças de gado ou 2.250 sacos de milho com cerca de 30 quilos cada um. Ou, ainda, para adquirir uma mercadoria muito valorizada na economia da época: um saudável escravo africano. O maior desafio do governo era a cobrança do “quinto” – 20% devido à Coroa, calculado em cima de qualquer quantidade de metal ou pedra preciosa extraída na Colônia. Após várias tentativas de se encontrar o sistema mais eficaz de cobrança, chegou-se finalmente ao método adotado a partir de 1751: foram instaladas quatro casas de fundição, nas sedes das quatro comarcas de Minas: Vila Rica, Rio das Mortes, Serro Frio e Sabará. Ficou, então, proibida a circulação do ouro em pó: nas casas de fundição, o metal ganhava a forma de barras e o carimbo real, com o devido desconto do quinto. A nova ordem também tabelou o preço do ouro. Ao entrar, em pó, nas casas de fundição, ele valia 1.200 réis a oitava (até então, costumava ser negociado por 1.500 réis). Ao sair, já “quintado”, seu valor era de 1.500 réis a oitava.
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 Fonte: http://migre.me/aj0wJ

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

A EXPEDIÇÃO DE MARTIM AFONSO DE SOUZA

 

Carta corográfica - Capitania de S. Paulo, 1766  Apresentando o Estado Político da Capitania de São Paulo em 1766, foi elaborada esta carta, com particular atenção aos limites com Minas Gerais. Fonte:  http://migre.me/a4Yyo
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Nota:(Carta ao Rei de Portugual) - Em julho de 1550, de Porto Seguro, o capitão Duarte de Lemos escreveu ao soberano, garantindo-lhe que ali "é a terra onde está o ouro, porque de nenhuma destas partes podem ir melhor a ele que por esta", já que o Peru "está na altura de dezessete graus que é onde esta capitania está (...)". Fonte: http://migre.me/ajcUf

O Tratado de Tordesilhas - 1494 A Divisão do Mundo

"Estrada Real"

sábado, 11 de agosto de 2012

Vale do Paraíba - Documentos e Pesquisas: As Roças de Bento Rodrigues Caldeira – Século XVII...

(Transcrição) Vale do Paraíba - Documentos e Pesquisas: As Roças de Bento Rodrigues Caldeira – Século XVII...: O povoamento do atual município de Lorena está ligado ao caminho para as Minas Gerais, ao aprisionamento de índios, mas, sobretudo pela existência de extensas áreas de fronteira comercial e agrícola, que contribuiu para o estabelecimento de famílias nessas áreas, onde existiram atividades econômicas concomitantes. A primeira, de necessidade primária, que foi a utilização da terra para sobrevivência, por aqueles que não possuíam cabedais suficientes para expedições ao sertão dos minérios; a segunda, em função da estratégica localização no caminho para as Minas Gerais, que possibilitou a formação de um estreito relacionamento socioeconômico intra-regional por intermédio de redes de crédito, abastecimento e transporte de mercadorias (Fonte: http://migre.me/afSxj)
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“ROTEIRO DO CAMINHO DE SÃO PAULO PARA AS MINAS GERAIS, E PARA O RIO DAS VELHAS”
Gastão comumente os paulistas desde a vila de São Paulo até as Minas Gerais dos Cataguás pelo menos, dois meses; porque não marchão de sol a sol, mas até ao meio dia; quando muito até uma ou duas horas da tarde; assim para se arrancharem, como para terem tempo de descançar, e de buscar alguma caça, ou peixe, onde o há, mel de páo, e outro qualquer mantimento. E desta sorte aturão com tão grande trabalho.“O roteiro do seu caminho desde a vila de São Paulo, até a Serra de Itatiaia, onde se divide em dous; um para as minas do Caité, ou Ribeirão de Nossa Senhora do Carmo, e do Ouro Preto; e outro para as minas do Rio das Velhas; e o seguinte em que se apontão os pousos, e paragens do dito caminho, com as distâncias que tem, e os dias que pouco mais ou menos se gastão de uma estalagem para outra, em que os mineiros pousão, e se é hoje necessário descanço, e se refazem do que hão mister, e hoje se achão em tais paragens.“No primeiro dia saindo da vila de São Paulo vão ordinariamente pousar em Nossa Senhora da Penha, por ser (como eles dizem) o primeiro arranco de casa; e não são mais que duas legoas.“Daí vão à aldeia de Tacuaquicetuba, cominho de um dia.“ “Gastão da dita aldeia até a vila de Mogi, dous dias.“De Mogi vão às Larangjeiras, caminhando, quatro ou cinco dias até o jantar.“Das Laranjeiras até a vila de jacareí, um dia até as três horas.“De Jacareí até a vila de Taubaté dois dias até o jantar.“De Taubaté a Pindamonhangaba, freguezia de Nossa Senhora da Conceição, dia e meio.‘De Pindamonhangaba até a vila de Guaratinguetá cinco ou seis dias até o jantar. “De Guaratinguetá até o porto de Guaipacare, onde ficão as roças de Bento Rodrigues, dois dias até o jantar. “Destas roças até ao pé da serra afamada da Mantiqueira pelas cinco serras muito altas, que parecem os primeiros morros, que o ouro tem no caminho, para que não cheguem lá os mineiros, gastão-se três dias até o jantar. 
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(Essa estrada vem relatada na obra de Antonil intitulada “Cultura e Opulência do Brasil” publicada em 1711, com o titulo “Roteiro do Caminho de São Paulo para as Minas Gerais e para os Rios das Velhas" e vem descrita no volume XI dos “Documentos Interessantes de Orville Derby citada por (LEITE, Mário. A Região da Mantiqueira, Ensaio Descritivo. Lisboa-Portugal: Composto e Impresso Na Sociedade Industrial de Tipografia, Limitada, 1951, 1.º ed., p. 121)
"Destas roças até ao pé da serra afamada da Mantiqueira pelas cinco serras muito altas, que parecem os primeiros morros, que o ouro tem no caminho, para que não cheguem lá os mineiros, gastão-se três dias até o jantar."
Bairro do Itabaquara,  Piquete-SP: Pé da Serra, localidade onde ocorria a bifurcação dos caminhos a) Via Caminho Geral do Sertão (latitude 22º 36' Sul), Garganta do Sapucaí, desfiladeiro de Itajubá, Meia Lua, em demanda do Alto Sapucaí, Centro Oeste, Sabaraçu, Serras das Vertentes, Alto São Francisco etc.; b) Via Caminho Velho, Vale do Embaú, transpondo os ribeiros, passando por Conceição do Embaú (Cruzeiro) para alcançar a Garganta de mesmo nome.

OS SERTÕES DA FOME: A HISTÓRIA TRÁGICA DAS MINAS DE OURO EM FINS DO SÉCULO XVII (Adriana Romeiro 1)

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Grande parte da imagem de exímios sertanistas, projetada sobre os  paulistas, devia-se ao arsenal de técnicas destinadas à sobrevivência nos matos, das quais fazia parte o plantio antecipado de cereais. Nos escritos de orientação pró-paulistas, os sertanistas são apresentados como homens dotados de excepcional bravura e coragem, capazes de suportar os mais terríveis trabalhos e as fadigas, sem jamais se abaterem, mesmo sob a ação da fome. Para o frei Gaspar da Madre de Deus, nem portugueses, nem os “brasileiros naturais de outras capitanias” exibiam a mesma habilidade, pois que quando os acompanhavam em suas viagens aos sertões, freqüentemente desistiam, retrocedendo “por se não atreverem a suportar as fomes e os incômodos que neles sofriam.”14 As fontes mostram que, uma vez instalados nas Minas, os paulistas reeditaram o velho costume de cultivar roças destinadas à subsistência,  mantendo plantações e criações junto às lavras e datas. Um pouco diferente,  contudo, era a situação daqueles que, provenientes da Europa e mesmo  da América Portuguesa, não estavam suficientemente  familiarizados com  as técnicas de sobrevivência nos matos. As dificuldades começavam pelo  caminho: sem poder contar com os recursos naturais, ficavam à mercê das  provisões que levavam e dos mantimentos vendidos à beira das estradas -  segundo Ambroise Jauffret, os que partiam do Rio de Janeiro, por exemplo,  seguiam até Taubaté, onde compravam milho, abóbora e feijão para serem  consumidos ao longo de uma jornada de vinte dias, ao fim da qual chegavam  ao Rio das Mortes, onde novamente se abasteciam para alcançar as minas  do Ribeirão do Carmo.15 Assim que chegavam as Minas, todos tratavam primeiro de plantar suas  roças nas imediações das datas minerais, instalando-se depois nos arraiais e  povoados, para esperar até que os mantimentos pudessem ser colhidos.16  Só então é que tinham início os trabalhos de mineração. Por sorte, os ritmos da  agricultura ajustavam-se perfeitamente aos ritmos da mineração: na estação  das águas, entre novembro e fevereiro, era praticamente impossível lavrar  os rios e ribeirões, em razão do grande volume de água; mas era a época  propícia para o plantio do milho, mandioca e feijão. Nos relatos, percebe se a existência de um padrão bem definido: em novembro, antes de partir,  procedia-se à semeadura; regressava-se em fevereiro, quando se iniciavam a  colheita e os trabalhos de mineração. Entre o plantio do milho e a colheita,  eram necessários mais ou menos noventa dias. No caso do feijão, o ciclo girava  em torno de sessenta dias. Mais longo, o ciclo da mandioca tinha doze meses.  Apropriadamente, Sérgio Buarque de Holanda dá o nome de “civilização  do milho” à cultura dos paulistas, chamando a atenção para o papel decisivo  que o cereal desempenhou nas formas de subsistência da gente do Planalto.17 Nos sertões mineiros, o milho consumido prescindia da moagem, que era uma  técnica desconhecida pelos índios, que preferiam o milho verde cozido ou a pipoca. Aliás, aos paulistas é atribuída uma preferência especial pela pipoca,  conhecida à época como “milho escolhido da brasa.” Nada se comparava,  porém, ao consumo maciço do milho amadurecido, empregado para a fabricação da farinha – o verdadeiro pão da terra, nas palavras de Holanda  - , e a canjica grossa, descrita pelo biográfo de Belchior de Pontes como um  “guisado especial de São Paulo.” Talvez a principal razão pela preferência  dada ao milho esteja na facilidade com que podia ser transportado por longas  distâncias, sob a forma de grão, para ser depois semeado, ajustando-se, por  isso mesmo, às exigências de mobilidade característica dos sertanistas.18
Fonte: http://migre.me/af6Dh
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Caminho Velho, via Registro (Piquete-SP) e Conceição do Embaú (Cruzeiro-SP)

Carta corográfica - Capitania de S. Paulo, 1766 
Apresentando  o Estado Político da Capitania de São Paulo em 1766, foi elaborada esta carta, com particular atenção aos limites com Minas Gerais. Fonte:  http://migre.me/a4Yyo



sexta-feira, 10 de agosto de 2012

COMBOIO DE ESCRAVOS

IDENTIDADES DE FRONTEIRA E TRANSGRESSÕES DE LIMITES: SÃO PAULO E MINAS GERAIS (1930-1935) (Transcrição)

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(Transcrição) Alvará de 2 de Dezembro de 1720, que pela primeira vez determinou parâmetros para definir a divisa entre as duas capitanias. Por esse Alvará foi delegado às Câmaras Municipais de Guaratinguetá e São João Del Rei estabelecerem os locais por onde deveria passar a linha demarcatória entre São Paulo e Minas. Segundo Prudente de Morares, depois de muitas discussões, os indicados para tal tarefa, levando a cabo sua missão, estabeleceram em 1714 “o início do ponto divisório entre essas Comarcas, o morro do Caxambu, na antiga Freguesia de Baenpendi, lugar onde foi colocado um marco. Daí partiram as divisas que, indo até o Rio Grande, extremavam as duas capitanias”. Contudo, os moradores do Rio das Mortes arrancaram o marco que havia sido colocado no morro do Caxambu e vieram colocá-lo no alto da Serra da Mantiqueira; e a provisão régia de 30 de Abril de 1747 determinou, sancionando esse fato, que a linha divisória partisse do marco colocado no alto da Mantiqueira e seguisse o rio Sapucaí e Rio Grande. Outra provisão, igualmente régia, de 9 de maio de 1748, confirmou aquela linha divisória, que partindo da Mantiqueira seguia o Rio Sapucaí até o Rio Grande. Mas esta provisão estabeleceu a cláusula de ser aquela linha divisória, se fosse do agrado do Governador geral de Minas, Gomes Freire de Andrade. Como era natural, o Governador de Minas não se agradou dessa linha divisória, visto que os mineiros já então estavam ocupando parte do território abrangido por São Paulo por essa divisa; e então determinou que se estabelecesse uma nova linha partindo do mesmo marco do alto da Mantiqueira, mas em vez de seguir o Rio Sapucaí e cair no Rio Grande, seguiria pela crista daquela serra  até a serra de Mogi-Guaçú e daí desceria Rio Grande. Essa é a terceira linha divisória. É aquela que está sendo respeitada atualmente em conseqüência da posse que tomaram os mineiros dos territórios aquém do Sapucaí.4.
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Fonte:  (Flávia Arlanch Martins de Oliveira), http://migre.me/aenu7
Nota: No que diz respeito aos parâmetros para definição da divisa entre as duas capitanias, resta plenamente justificável, quando então fui questionado, quanto ao fato do Registro de Itajubá, constar de cartografias históricas, aquem da crista posterirormente definida como linha divisória, ou seja, a posição do Registro no caso em questão, correspondia a localidade denominada hoje, Boa Vista (Meia Lua). Sendo possível concluir que, se os mineiro conseguiram aquém do Sapucaí empurrar a divisa até o Alto da serra, uma vez que pretendiam os Paulista que fosse essa no morro Caxambu, no jogo de empurra, em se tratando de território já ocupado por Mineiros, acabou restando como conclusiva, a terceira linha divisória definida pela crista da Serra. Fato que leva a inferir que, para mesma localidade, istó é, crista da Serra, fora deslocado o Registro. Sendo certo que, por inúmeiras vezes, Antonio Carlos Chaves trouxe a baila, a história do deslocamento de um Registro para o Alto da Serra, neste contexto de cidade. Restando definitivamente esclarecida a assertiva em conformidade com o Mapa de 1801. Tratando a referência numérica n.º 07 do Registro de Itajubá, no Alto da Serra e, a referência numérica n.º 05 do Registro Mantiqueira na Garganta do Embaú.. (grifos meus).
Vista do Alto da Serra - Desfiladeiro de Itajubá - Garganta do Sapucaí - Boa Vista - Meia Lua.
A toponímia - Alto da Serra, espaço colonial de Piquete-SP, Boa Vista, Garganta do Sapucaí, Desfiladeiro de Itajubá, Serra de Jaguamimbaba, Rota Afro da Diáspora, consta da Cartografía Histórica, a exemplo do contido no Mapa de Santos de 1776.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Rotas do extremo-sul de Minas Gerais para o Rio de Janeiro (c.1820)


Obs. Apenas principais caminhos, rios e localidades.
(Transcrição) 
1. Panorama dos Registros Sul-mineiros c.1800-1830
As informações das exportações e importações através dos registros não são uniformes ao longo do tempo; dificilmente os dados são completos para todos os registros em um ano específico (ver Anexo A). Por outro lado, em princípios do século XIX a circulação direta (e captada pelo fisco) do Sul de Minas com a capitania do Rio de Janeiro estava restrita aos registros da Mantiqueira e Itajubá. Dos outros cinco registros estudados, dois captam o comércio com a capitania de São Paulo (Jaguari e Campanha de Toledo), dois foram criados na década de 1810 (Rio Preto, c.1812 e Sapucaí-Mirim, primeira notícia em 1818) e outro foi criado apenas na década de 1820 (Picu, 1822). Destes setes postos fiscais, os principais em volume do fluxo mercantil eram Mantiqueira – a antiga rota do caminho velho, Rio Preto e Picu. O registro do Rio Preto situava-se na ponta mineira de novíssimas estradas em território fluminense – a instalação da Corte fez caducar a antiga proibição de abertura de estradas. A criação deste registro sugere a pré-existência de caminhos alternativos e a possibilidade de extravio aos direitos5. Já o registro do Picu foi instalado para fiscalizar a picada do Picu, construída por particulares de Pouso Alto exportadores de fumo6. Por encurtar o caminho para o Rio de Janeiro captou a maior parte do trânsito antes dirigido à Mantiqueira. As principais importações sul-mineiras podem ser divididas em cinco categorias: escravos, animais de carga (especialmente muares), sal, fazendas secas (mormente metais e tecidos) e líquidos diversos (vinho, vinagre, azeite, aguardente do reino, espíritos diversos, cachaça da terra). Mantiqueira, Rio Preto e Picu concentravam as entradas, exceto de animais de carga (Tabela 1). 
Fonte: http://migre.me/abUoA
Nota: Núcleo Embrição de Piquete, Caminho do Ouro, Rota consolidade de acesso ao Registro de Itajubá, no Alto da Serra e Registro Mantiqueira, via Itabaquara, (Vale do Embaú).

GUIA DA UNESCO - Una guía para la administración de sitios e itinerarios de memoria.

Ficha 22: Ruta de la libertad (A Rota da Liberdade), São Paulo, Brasil (A Rota da Liberdade), São Paulo, Brasil ■ ANTECEDENTES ■ ANTECED...