terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

A Descoberta da América e a Questão da Longitude no Tratado de Tordesilhas (Transcrição)

Abordando a cartografia histórica por informações e dados cartográficos presentes em documentações textuais do século XV ao XVIII, temos como objetivo primeiro discutir as razões que levaram os representantes dos reinos ibéricos nas negociações do Tratado de Tordesilhas a adotar um referencial longitudinal como raia divisória, mesmo sabedores da grande dificuldade na época da determinação precisa da longitude local. A origem da questão de natureza cartográfica decorrente dos termos do Tratado de Tordesilhas está na disputa por domínios territoriais ultramarinos entre Portugal e  Espanha. originada em consequência da viagem descobridora de Colombo em 1492  que, objetivando atingir o Extremo Oriente, acabou por  desembarcar em   uma  ilha, equivocadamente por ele considerada como parte do arquipélago de Cipango (Japão).  Assim, o Tratado de Tordesilhas procura legitimar a posse pela Espanha das ilhas por  Colombo descobertas, frente ao  rei de Portugal, única nação então concorrente na  disputa do controle das ilhas atlântica.
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O Tratado de Tordesilhas e Expansão da América Portuguesa
Não que fosse de todo impossível a obtenção da longitude local por observação  astronômica até o século XVIII. Contudo, esta era feita por um complexo processo,  baseado no cálculo das diferenças horárias locais de dois lugares em consideração, no  momento de determinada conjunção planetária, usualmente da Lua. Além da diferença de tempo ser obtida de forma pouco precisa, por se usar principalmente ampulhetas, não  se contava ainda com o instrumento ótico adequado. Andrés de San Martin, cosmógrafo  da frota de Magalhães, ao passar pelo costa do Brasil em direção às Molucas,  determinou  a diferença de longitude entre o Rio de Janeiro e Sevilha pelo método da  conjunção da Lua com Júpiter, encontrando uma diferença de “17 hora y 15 m., es  decir, más de 158° al O.; de modo tal que la posición de la capital brasileña (...) vênia  a quedar al sur de la China, cerca de Austrália” (Pastor, 1942:45).
Por esta razão, causa, a princípio, estranheza que se tenha adotado, ainda no século XV, o marco longitudinal como referencial divisório territorial. Acreditamos poder identificar as razões da adoção deste insólito referencial na complexa conjuntura política e social deste momento de transição do medievo para os tempos modernos
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Alguns anos após, D. João III iniciou a divisão do território americano sob o seu domínio em capitanias hereditárias, sendo a primeira concessão outorgadas em 1534. Porém, mais uma vez se esbarrava em uma questão cartográfica - como dividir uma grande porção territorial não só ainda não mapeada, como desconhecida sua verdadeira dimensão e os posicionamentos em latitude dos pontos correspondente às interseções da raia divisória de Tordesilhas com a linha da costa. Demonstrando grande habilidade, os responsáveis pelas redações das cartas de doações as fizeram a partir de um modelo único, onde a questão da extensão longitudinal foi inteligentemente contornada com a definição unicamente da a extensão da linha costeira seguida da expressão: “(...) e entrarão na mesma largura pelo Sertão, e terra firme a dentro tanto quanto puderem entrar, e for de minha Conquista” (Translado da Doação da Capitania do Espírito Santo. In DHBN, 1929:122). Neste modelo estava também expresso que esta concessão, ou mercê, era feita por D. João III não só como rei, mas também “como Governador, e perpetuo Administrador, que sou da Ordem, e Cavallaria do Mestrado de Nosso Senhor Jesus Christo” (Idem: 134).
Como ponto de referencia inicial para a contagem da extensão costeira, foi adotado a foz do Rio São Francisco (Cf. Translado da doação da Capitania de Duarte Coelho. In idem: 69). Processo eficiente, mas que levaria a capitania situada na posição extremo meridional avançar sobre o território espanhol ou, caso contrário, ocupar uma área menor do que a realmente lhe caberia. Surpreendentemente, na carta de doação desta, a Capitania de Santana, o ponto extremo meridional é identificado como estando em “altura de 28 graos, e hum terço”; ou seja, precisamente determinado na latitude de 28° e 20’ Sul (Cf. Translado da Carta de Confirmação de D. João V ao marquês de Cascais. In Madre de Deus, 1975:152-3).     
Como esta foi a mais meridional das capitanias concedidas, é este o ponto identificado como da interseção do meridiano divisório com a costa meridional. Contudo, até mesmo pela maneira precisa em que é expressa sua latitude, a sua identificação teria que ser feita a partir de mapas do nosso litoral onde não só as latitudes, mas também as longitudes, estivessem precisamente expressas. Por outro lado, o paralelo correspondente está situado no atual litoral de Santa Catarina, na praia de Itaperubá em Imbituba, próximo à cidade de Laguna. Respeitando, a princípio, o limite estabelecido em Tordesilhas para a ocupação litorânea, tendo Laguna como ponto extremo meridional, já no século XVII os domínios da Coroa de Portugal começam a se estender pelo sertão. No sul, este se deu a partir da fundação, em 1680, da Colônia do Santíssimo Sacramento, na margem setentrional do Rio da Prata, em frente a Buenos Aires. Este entrave português em pleno domínio espanhol funcionava como entreposto para um intenso fluxo de contrabando, por ser esta região deficientemente abastecida pela rota legalmente estabelecida por Madri. Ligada administrativamente a Capitania do Rio de Janeiro, a Colônia de Sacramento fornecia a Buenos Aires não somente mercadorias oriundas dos domínios portugueses, como escravos e açúcar, mas também manufaturados ingleses, adquiridos “a peso de ouro”, mas que possibilitava a reversão do ouro em moeda de prata espanhola, de valor proporcionalmente maior no mercado asiático (Cf. Brandão, 2009).
Nota: Parafraseando - Uma vez que o objetivo do trabalho transcrito foi discutir as razões que levaram os representantes dos reinos ibéricos nas negociações do Tratado de Tordesilhas a adotar um referencial longitudinal como raia divisória, não obstante a grande dificuldade na época no que diz respeito a determinação precisa da longitude local. Nesta caso temos que: “Andrés de San Martin, cosmógrafo da frota de Magalhães, ao passar pelo costa do Brasil em direção às Molucas, determinou a diferença de longitude entre o Rio de Janeiro e Sevilha pelo método da conjunção da Lua com Júpiter, encontrando uma diferença de “17 hora y 15 m., es decir, más de 158° al O.; de modo tal que la posición de la capital brasileña (...) vênia a quedar al sur de la China, cerca de Austrália” (Pastor,1942:45).”
               Por conseguinte, D. João III ao iniciar a divisão do território americano sob seu domínio em capitanias hereditária, sendo a primeira concessão em 1534, temos que: “Como ponto de referencia inicial para a contagem da extensão costeira, foi adotado a foz do Rio São Francisco” Por outro lado: “Surpreendentemente, na carta de doação desta, a Capitania de Santana, o ponto extremo meridional é identificado como estando em “altura de 28 graos, e hum terço”; ou seja, precisamente determinado na latitude de 28° e 20’ Sul. Baseado nessa observação deu-se a advertência no sentido que, o processo era eficiente, mas que levaria a capitania situada na posição extremo meridional avançar sobre o território espanhol, ou caso contrário, ocupar uma área menor do que a realmente lhe caberia.
              Torna-se oportuno trazer a baila o que disse Anthony Knivet em relatos de sua aventura, após passar pela aldeia de Guaipacaré, rumado para o sudoeste e subido uma enorme montanha coberta de floresta, passando para o Alto Sapucaí, em direção a serra das vertentes, advertindo os amigos no sentido que, o melhor seria atravessar do outro lado da montanha penetrando no seu subterrâneo:
              "Por isso, creio que o melhor caminho a seguir é tentar atravessar, pois sem dúvida Deus, que já nos livrou de perigos sem fim, não há de nos abandonar agora. Além disso, se tivermos a sorte de atravessarmos para o outro lado, decerto encontraremos espanhóis ou índios, pois sei que todos vocês já ouviram que num dia claro pode-se ver o caminho desde Potosi” (Fonte: http://migre.me/85rqi)
             Ademais posso concluir que,  não se constiui em nenhum desproposito, estando a cidade de Campanha-MG localizada na latitude 21° 50' 20" S a informação no sentido de constar em documentos na Prefeitura da cidade, relatos sobre o transporte de ouro da localidade para Argentina. Ou seja, resta evidenciado que,  em algum momento essa região esteve submetida a possessão Espanhola.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Delfim Moreira - Marmelópolis - Piquete 2011-08-06.wmv

Éden, Eldorado, Sabarabuçu ... as (M)minas, A geopolítica do território - E o Núcleo Embrião de Piquete.





Figura 7. Articulação dos mapas da Capitania de Minas Gerais (ca. 1734-5), referentes à  região cartografada pelos padres matemáticos Diogo Soares e Domênico Capassi, com  o indicação do Meridiano do Rio de Janeiro (0 ). Há especulações em relação à escolha desta referência, considerada  uma estratégia para garantir o sigilo sobre o espaço ocupado pelos portugueses  em relação ao Tratado de Tordesilhas. A adoção do meridiano do Rio de Janeiro – e  não  o  de  Paris,  como  era  de  praxe  –  causaria  confusão  nos  estrangeiros,  principalmente espanhóis. Também convém considerar que a adoção do meridiano  mais  próximo  reduziria a  possibilidade  de  erros  (Almeida,  2001,  p.138-139; Bicalho, 1999, p.84). Notadamente  incompletos,  esses  quatro  mapas  não  podem  ser  considerados  fruto  exclusivo  de  levantamentos  científicos. Diante  da  extensão  territorial cartografada – aproximadamente 550km entre as latitudes 16 30' e 21 30' sul, abrangendo parte do sul da capitania até o rio Araçuaí (Figura 7) –, era  simplesmente impossível atender à risca às determinações expressas pelo próprio rei. E, certamente, os jesuítas recorreram a informações de segunda mão, seja  pela consulta à cartografia até então produzida, seja por meio de relatos fornecidos  por índios, sertanistas e colonizadores, aos quais podem estar relacionados vários  dos equívocos registrados nesses mapas.
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Nota: Parafraseando - O estudo cartográfico da conta da grande preocupação das autoridades Portuguesa, relativamente as informações de acesso a serra que resplandece. Região que fora denomidada "America Meridionale." Nesta direção resta claro que, estamos falando do Meridiano originado do tratado de Tordesilha, não obstante a impossibilidade de definir uma correta latitude. Por conseguinte, os registros cartográficos específicos da Capitania de Minas Gerais ao tomar como referência o meridiano de origem (0) que coincide com a cidade do Rio de Janeiro,  leva a especulações de estudiosos que a escolha dessa coordenada, resultou de uma estratégia para garantir o sigilo sobre o espaço ocupado pelos portugueses. A leitura correta possibilita identificar que a extensão  territorial cartografada, aproximadamente 550km, está entre as latitudes 16 30' e 21 30' sul, abrangendo parte do sul da capitania até o rio Araçuaí. Agora vejamos, somado ao fato de a linha imaginária possibilitar concluir que passa esta coordenada, pelo médio Vale, torna-se oportuno identificar às coordenadas geográficas relativamente ao Núcleo Embrião de Piquete. Ou seja: "Piquete é um município brasileiro do estado de São Paulo, na microrregião de Guaratinguetá e localiza a uma latitude 22º36'49"sul." Incrivelmente mais próxima da linha imaginária do que a cidade de Lorena,  com latitude 22º43'51" sul. Em conclusão, quando Alexandre Grymmer e Anthoni Knivet, ao desembarcar no limite de navegabilidade do Rio Paraíba na região do Guaipacaré, afirmando o primeiro que, segue rumo Oeste margeando um rio não navegável  e o segundo que, segue rumo Sudoeste, não estamos falando de um caminho que implica na absoluta correção e manutenção de rota em conformidade com o parâmetro adrede citado (entre as latitudes 16 30' e 21 30' sul)? Por outro lado, não obstante a preocupação de se manter o sigilo sobre os territórios da América Portuguesa, resultando em poucos registros cartográfico. É possível identificar outro motivo relativamente aos Franceses, no que diz respeito a tomada do Rio de Janeiro, que não fosse baseado em documentos que os levassem a serra resplandescente.  Assim como a reação dos Portugueses contra os tupinambás que, ao se aliaram aos inimigos franceses, foram trucidados ou tiveram que se refugiarem no mesmo sertão, que veio a ser designado como sertão dos índios bravos, na serra de jaguamimbaba, e alto do rio Sapucaí e Verde, caminho geral do s ertão. 
Fonte: http://migre.me/83POY
Fonte: http://migre.me/8405V

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Distribuição dos grupos de língua tupi na costa no século XVI

Ficheiro:Slide27.JPG
Ficheiro:Homtupinamba.jpg
Homem tupinambá - pintura de Albert Eckhout (1610 - 1666)
Fonte: http://migre.me/81gvM

Tupinambás

 Os tupinambás da Região Sudeste do Brasil tinham um vasto território, que se estendia desde o Rio Juqueriquerê, em São Sebastião/Caraguatatuba, no estado de São Paulo, até o Cabo de São Tomé, no estado do Rio de Janeiro. O grosso da nação  tupinambá localizava-se na Baía da Guanabara e em Cabo Frio, onde fabricavam o gecay, que era a mistura de sal e pimenta que os índios vendiam aos franceses (chamados pelos tupinambás de maíra[2], nome originário de Meire Humane), com os quais se aliaram quando estes estabeleceram a colônia da França Antártica na Baía de Guanabara. As tentativas de escravização dos índios para servirem nos engenhos de cana-de-açúcar no núcleo vicentino levaram à união das tribos numa confederação sob o comando de Cunhambebe chamada de Confederação dos Tamoios, englobando todas as aldeias tupinambás desde o Vale do Paraíba Paulista até o Cabo de São Tomé, com invejável poderio de guerra. É nesse ínterim que Nóbrega e Anchieta teriam sido levados por José Adorno de barco até Iperoig (atual Ubatuba), para tentar fazer as pazes com os índios. Segundo a tradição, Nóbrega voltou até São Vicente com Cunhambebe e o Padre José de Anchieta ficou cativo dos tupinambás em Ubatuba. Nesse período, ele teria escrito o Poema da Virgem. Fatos lendários e fantásticos teriam ocorrido nesta época do cativeiro, como o milagre de Anchieta: levitar entre os índios, que horrorizados, queriam que ele dali se retirasse pois pensavam tratar-se de um feiticeiro. Seja como for, os padres, com muita diplomacia, conseguiram desmantelar a Confederação dos Tamoios, promovendo a Paz de Iperoig, o primeiro tratado de paz das Américas. Diz-se que, depois de feitas as pazes, Nóbrega advertiu os índios de que, se voltassem atrás na palavra empenhada, seriam todos destruídos, profecia que, de fato, se concretizou. Quando os portugueses atacaram os franceses do Rio de Janeiro, estes pediram ajuda aos índios, que acudiram a seus aliados. Isto levou ao extermínio dos tupinambás que moravam em aldeias em torno da Baía da Guanabara, na segunda metade do século XVI. Os que conseguiram se salvar foram os que se embrenharam nos matos com alguns franceses e os índios tupinambás de Ubatuba que, para não ajudarem os irmãos do Rio e não correrem riscos, ou se embrenharam nos matos ou foram assimilados pelos colonos em Ubatuba, gerando a atual população caiçara daquela região assim como a população cabocla do Vale do Paraíba Paulista e Fluminense. Contudo, o golpe fatal aos tupinambás foi o ataque ao último reduto francês em Cabo Frio, com a destruição de todas as aldeias. Tudo destruído com fogo e passado ao fio da espada. Os sobreviventes ou se refugiaram nos matos e migraram para outras regiões ou alguns poucos ainda, no final do século XVI, podiam ser encontrados numa aldeia de índios cristãos próxima da então recém-fundada cidade do Rio de Janeiro, local onde morreu e foi enterrado o Padre Nóbrega. Por esses motivos e por algumas declarações que denotariam em tese conivência com o extermínio indígena é que o Padre José de Anchieta tem sido considerado muito polêmico até os dias atuais, embora, noutras oportunidades, tenha declarado que se entendia melhor com os índios do que com os portugueses.
Obs: As incríveis aventuras e estranhos infortúnios de Anthony Knivet, que foi com Thomas Cavendish em sua segunda viagem ao mar do sul – 1591: "Um dia, enquanto eu pescava sozinho por diversão, fiquei sentado pensando em como me achava e   no que já tinha sido. Então comecei a amaldiçoar o  dia em que pela primeira vez ouvi falar do mar, e me   lamentei, pensando como pude ser tão tolo em abandonar minha própria terra onde nada me faltava. Naquele  momento eu não tinha qualquer esperança de rever minha terra ou mesmo algum cristão. Enquanto eu lá  estava, sentado na margem do rio, em meio a esses pensamentos desesperados, aproximou-se um velho índio que era um dos chefes da tribo. Começou a conversar  comigo dizendo sentir falta do tempo em que estavam   em Cabo Frio, pois podiam comerciar com os franceses  e nada lhes faltava, mas que agora já não tinham facas nem   machadinhas, ou outras coisas, e se achavam tão desprovidos."
Fonte:http://migre.me/81lTf
Nota: O Rio Paraíba tornou-se verdadeira trincheira dos guerreiros tupinambás que se refugiaram no sertão. Assim como a serra de Jaguamimbaba. Alguma dúvida, quanto ao fato justificador, no que tange ao região, Núcleo Embrião de Piquete e a denominação de "Sertão dos Índios Bravos." Ademais, não se trata de uma citação alheatória, durante o Governo de Morgado de Mateus, cartas ao capitão Mor da freguesia da Piedade faziam expressas referências ao fato. Sendo também motivo de grande desespero das autoridades a ação dos núcleos de resistência formado pelos quilombolas. Ou o bairro do Quilombo, originou da criação de uma localidade destinada a reunião de negros africanos, para receber os Portugueses a "pão de ló", definitivamente, não é isso que tenho encontrado em minhas pesquisas.    

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Núcleo Embrião de Piquete e: "As incríveis aventuras e estranhos infortúnios de Anthony Knivet"(1)

Depois que deixamos o capitão, fizemos uma canoa bem grande da casca de uma árvore e começamos a descer um rio chamado Jaguari (3). Uma semana depois chegamos a uma pequena aldeia  de seis casas que parecia estar há muito desabitada.  Abandonamos então nossa canoa e decidimos continuar  o trajeto por terra. Nessa aldeia encontramos grande  quantidade de vasos de cerâmica e, dentro de alguns,  pepitas de ouro amarradas a linhas com as quais os  índios costumam pescar. Também encontramos pedras  verdes como grama e uma grande quantidade de pedras brancas e brilhantes como cristal. Muitas das  pedras, no entanto, eram azuis e verdes, vermelhas e  brancas, todas deslumbrantes de olhar. Quando vimos  as pepitas de ouro e essas pedras, calculamos estar muito próximos de Potosí.(4)  Rumamos então para sudoeste  e subimos uma enorme  montanha coberta de floresta.(5)

Clique na imagem para reduzi-la
Origem do Mapa http://migre.me/8qh1Y
Sitio Histórico Caminho do Ouro - Paraty


Nota:
3. No original “Janary”. Segundo Teodoro Sampaio, após abandonarem a canoa,
seguiram na confl uência do Jaguary com o Camanducaia, próximo à atual cidade
mineira de Santa Rita da Extrema.
4. Cálculo muito de acordo com a geografia da época, em que o sertão de São Paulo juntava-se ao Peru, a terra das fabulosas riquezas minerais.
5. Segundo Teodoro Sampaio, essa montanha seria o atual morro do Lopo, de 1.710 
metros de altura, na divisa entre São Paulo e Minas.
Parafraseando: IDENTIFICAÇÃO DO ROTEIRO NO TERRENO:   a) nota n.° 3 - Quanto ao  trecho transcrito, faz-se necessário lembar que a conclusão no sentido que, o caminho percorrido após abandonar a canoa, ocorreu na localidade de um rio de nome Jaguary e sua confluência com Camanducaia, próximo a cidade de Extrema, resulta equivocada e superada. A assertiva encontra fundamento no estudo sobre o roteiro descrito por Guilherme Glymmer, por sugestão de Capistrano de Abreu, realizado por Orville Derby, não obstante incorrer este, em inúmeros equívocos esclarece qualquer dúvida que possa existir, quanto ao rio Jaquari em questão: 
"Os dois rios que deram acesso ao Parayba eram indubitavelmente o Paratehy e o Jaguary. A Serra de Guarimunis, ou Marumiminis, é a atualmente conhecida pelo nome de Itapety, perto de Mogy das Cruzes, sendo possível que estes nomes antigos ainda sejam conservados no uso local. A referência a minas de ouro nesta serra talvez seja um acréscimo na ocasião de redigir o roteiro; mas é certo que em 1601, havia, desde uns dez ou doze anos, mineração nas vizinhanças de S. Paulo, e que antes de 1633, quando foi publicada a edição latina da obra de João de Láet, em que vem a enumeração das minas paulistas, a houve na localidade aqui mencionada. A referência aos campos, ao longo do primeiro destes rios, é, talvez, um caso de confusão com os do Rio Paraíba, visto que, conforme informações dos ajudantes da Comissão Geográfica e Geológica, que ultimamente levantaram a planta do vale do Paratehy, ali não existem campos notáveis. O rio então conhecido pelo nome de Rio de Sorobis, bem que a sua identidade com o Parahyba do litoral já era suspeitada, foi alcançado na foz do Jaguary, em frente da atual cidade de São José dos Campos. Nota-se que, já nessa época, era conhecido o curso excêntrico do alto Parahyba. Depois de 15 ou 16 dias de viagem o rio foi abandonado no começo da seção encachoeirada, perto da atual cidade da Cachoeira, e a bandeira galgou a Serra da Mantiqueira, seguindo um pequena rio que, muito provavelmente, era o Passa Vinte, que desce da garganta que depois serviu para a passagem da estrada dos mineiros e hoje para a da estrada de ferro Minas e Rio. Passando o alto da Serra, a bandeira entrou na região dos pinheiros, que os naturalistas holandeses (que evidentemente não conheceram a Araucária, desconhecida no Norte do Brasil) julgaram, pela descrição de Glimmer, que eram Sapucaias. 
b) nota 4 - Quando falamos do caminho percorrido em direção ao mar do sul, não estamos falando dos primeiros caminhos percorridos pelo sertão de São Paulo, em direção Paraguai, a partir do caminho geral do sertão, haja visto dos relatos de Alexandre Grymmer, ao se referir aos rios navegáveis na região do Alto Sapucaí, formadores da Bacia do Paraná, os quais desembocam nos Mares do Sul. Aliás, Athony Knivet, quando perguntado pelo velho índio da tribo, um dos  chefes, se conhecia o local exato em que eles poderiam encontrar navios franceses esclarece: ".....que tinha certeza que entre o rio da Prata e um rio chamado pelos portugueses de Patos....."
c)  nota 5 - Assim sendo, a enorme montanha coberta de florestanão é o atual morro do Lopo. A assertiva encontra fundamento no fato que, a pequena Aldeia onde abandonaram a canoa corresponde ao da Aldeia de Guaipacaré, limite de navegabilidade do Rio Paraíba do Sul. Bem como, o trajeto percorrido no rumo sudoeste, quando igualmente, Alexandre Grymmer à partir desse ponto declara que percorreu um rio não navegável (ribeiro da limeira), rumo Oeste, ou seja, sentido por do Sol,  era em direção ao  Núcleo Embrião de Piquete. Nessa direção, enquanto Anthony Knivet faz referência a uma enorme montanha coberta de floresta, Grymmmer fala da Raiz do Monte, relevo que deu origem a toponímia,  Meia Lua, atravessando quando da transposição, o que já fora designada, Garganta do Sapucaí, desfiladeiro notável ou garganta de Itajubá (Teodoro Sampaio), local em que veio a se instalar um  registro de passagem de mesmo nome.  (2) 
1) Fonte: http://migre.me/809vy
2) Fonte: http://migre.me/80gje

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Parte: 1 - As incríveis aventuras e estranhos infortúnios de Anthony Knivet -

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Eu e os doze portugueses de quem falei nos despedimos do capitão, preferindo seguir em direção  ao mar do Sul do que voltar sem nada.  Os nomes dos  portugueses eram: Francisco Tavares, Luís de Pina,  Gonçalo Fernandes, Tomás do Vale, Luís Coelho, Matias de Galo, João da Silveira, Pedro da Costa,  Antônio Fernandes, Jorge Dias, Manuel Caldeira 2  e eu mesmo, Anthony Knivet. Depois que deixamos o capitão, fizemos uma canoa bem grande da casca de uma  árvore e começamos a descer um rio chamado Jaguari(3) Uma semana depois chegamos a uma pequena aldeia  de seis casas que parecia estar há muito desabitada.
Notas:
1. Knivet e seus companheiros pretendiam fazer o mesmo que os japoneses do navio de Cavendish: atravessar o continente até atingir as lendárias riquezas do Peru, no mar do Sul. Andrew Battell, inglês que esteve no Brasil e na África, indicara o caminho por todos desejado: “Da cidade de Buenos Aires chegam todo o ano quatro ou cinco caravelas à Bahia, no Brasil, e a Angola, na África, que trazem grande carregamento de tesouros, que é transportado, por terra, do Peru até o rio da Prata.” 2. No original “Lewes de Pino, Tomas Delvare, Lewis Loello, Matheas del Galo, John de Silvesa, Petro de Casta, Gorgedias”.
3.No original “Janary”. Segundo Teodoro Sampaio, após abandonarem a canoa, seguiram na confluência do Jaguary com o Camanducaia, próximo à atual cidade mineira de Santa Rita da Extrema.
Fonte: http://www.zahar.com.br/doc/t1115.pdf
Obs:
1) "A primeira citação de Paraty e da trilha dos guaianás em um documento escrito apareceu apenas nos relatos do aventureiro inglês Anthony Knivet, de 1597. Ele seguiu na expedição de 2.700 homens, comandada por Martim Corrêa de Sá, pela trilha dos guaianás para aprisionar índios e descobrir tesouros escondidos por trás do paredão verde da serra.  (http://migre.me/7Z6bM)
2) "Os cronistas referem-se a estes como habitantes de beira-mar.    Knivet, porém, diz que da ilha Grande subiam a serra do Mar a buscar escravos quando lhes encomendavam. A afirmação comprova-se pela. existência da estrada do Facão, em cuja margem demora a cidade do Cunha, estrada que precedeu a invasão portuguesa." (Fonte: http://migre.me/7Z6qv)      
3) No estado de São Paulo há um outro rio também chamado Jaguari, afluente da margem esquerda do Rio Paraíba do Sul e que atravessa os municípios de Santa Isabel, Igaratá e Jacareí.(Fonte:http://migre.me/7Zl69)
3.1Os principais afluentes do rio Paraíba do Sul são o Jaguari, o Buquira, o Paraibuna, o Piabanha, o Pomba e o Muriaé. Esses dois últimos são os maiores e deságuam, respectivamente, a 140 e a 50 quilômetros da foz. Entre os sub-afluentes, está o rio Carangola, importante rio da bacia do rio Paraíba do Sul, posto que serve a duas unidades da federação, o Estado de Minas Gerais e o Estado do Rio de Janeiro. (Fonte: http://migre.me/7Zl7T).

Parafraseando: Por uma questão de lógica, o roteiro em questão possibilita algumas considerações: a) Tendo em vista o fato de haver Anthony Knivet, sido escravizado por 10 anos pelos Correa de Sá, a dinastia que por tantos anos governou o Rio de Janeiro. Os quais tiveram envolvimento direto na confederação dos Tamoios. b) Havendo registro que subiram por Parati e Cunha. c) Estando eu fazendo essas considerações, exatamente da cidade de Extrema-MG, uma vez que, exerço minhas atividades nessa região faz mais de 11 anos,  havendo permanecido por 09 anos em Cambuí-MG, o que me obriga a transpor o jaquari, assim como transitar pelo vale do camaducaia,  posso afirmar "data maxima venia" . que, Teodoro Sampaio equivocou-se. Em definitivo, o desdobramento natural dos fatos conduz para assertiva seguinte, o jaguari em questão, não pode ser outro, senão, o da confluência com o Paraíba,  pela margem esquerda, no trecho do caminho dos paulistas, no mesmo contexto em que se dá a confluência do rio Buquira e rio Paraibuna. Assim sendo, existe dúvida de que o percurso navegado tenha sido pelo rio Paraíba abaixo, até o limite de sua navegabilidade. E que a pequena aldeia existente no local onde aportaram era a aldeia de Guaipacaré.  Sendo certo que, Guaratinguetá era a  localidade em que, o caminho Velho, encontra-se com o caminho dos Paulista, caminho geral do Sertão etc. Tomado de indizível felicidade, deixando de lado, os aspectos mirabolantes, na identificação do roteiro de Guilherme Glymmer. Com absoluta certeza, o mesmo trilhado, à partir do Paraíba do Sul, por Anthony Knivet, reservando me por ora, ao aspecto que resolve a questão do rio Jaguari,   passo a transcrever: 
                       Por sugestão de Capistrano de Abreu, Orville Derby fez um estudo sobre o roteiro descrito por Guilherme Glymmer, inserido na obra de Margraff, a fim de identificá-lo no terreno:
"Os dois rios que deram acesso ao Parayba eram indubitavelmente o Paratehy e o Jaguary. A Serra de Guarimunis, ou Marumiminis, é a atualmente conhecida pelo nome de Itapety, perto de Mogy das Cruzes, sendo possível que estes nomes antigos ainda sejam conservados no uso local. A referência a minas de ouro nesta serra talvez seja um acréscimo na ocasião de redigir o roteiro; mas é certo que em 1601, havia, desde uns dez ou doze anos, mineração nas vizinhanças de S. Paulo, e que antes de 1633, quando foi publicada a edição latina da obra de João de Láet, em que vem a enumeração das minas paulistas, a houve na localidade aqui mencionada. A referência aos campos, ao longo do primeiro destes rios, é, talvez, um caso de confusão com os do Rio Paraíba, visto que, conforme informações dos ajudantes da Comissão Geográfica e Geológica, que ultimamente levantaram a planta do vale do Paratehy, ali não existem campos notáveis. O rio então conhecido pelo nome de Rio de Sorobis, bem que a sua identidade com o Parahyba do litoral já era suspeitada, foi alcançado na foz do Jaguary, em frente da atual cidade de São José dos Campos. Nota-se que, já nessa época, era conhecido o curso excêntrico do alto Parahyba. Depois de 15 ou 16 dias de viagem o rio foi abandonado no começo da seção encachoeirada, perto da atual cidade da Cachoeira, e a bandeira galgou a Serra da Mantiqueira, seguindo um pequena rio que, muito provavelmente, era o Passa Vinte, que desce da garganta que depois serviu para a passagem da estrada dos mineiros e hoje para a da estrada de ferro Minas e Rio. Passando o alto da Serra, a bandeira entrou na região dos pinheiros, que os naturalistas holandeses (que evidentemente não conheceram a Araucária, desconhecida no Norte do Brasil) julgaram, pela descrição de Glimmer, que eram Sapucaias.
Fonte: http://migre.me/7ZTzZ


Fonte: http://migre.me/b29N9 - Apresentando o Estado Político da Capitania de São Paulo em 1766, foi elaborada esta carta, com particular atenção aos limites com Minas Gerais.

Parte: 2 - As incríveis aventuras e estranhos infortúnios de Anthony Knivet -

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Abandonamos então nossa canoa e decidimos continuar o trajeto por terra. Nessa aldeia encontramos grande quantidade de vasos de cerâmica e, dentro de alguns, pepitas de ouro amarradas a linhas com as quais os índios costumam pescar. Também encontramos pedras verdes como grama e uma grande quantidade de pedras brancas e brilhantes como cristal. Muitas das pedras, no entanto, eram azuis e verdes, vermelhas e brancas, todas deslumbrantes de olhar. Quando vimos as pepitas de ouro e essas pedras, calculamos estar muito próximos de Potosí. (4)  Rumamos então para sudoeste e subimos uma enorme montanha coberta de floresta.(5)
Nota:
4. Cálculo muito de acordo com a geografi a da época, em que o sertão de São Paulo juntava-se ao Peru, a terra das fabulosas riquezas minerais.
5. Segundo Teodoro Sampaio, essa montanha seria o atual morro do Lopo, de 1.710 metros de altura, na divisa entre São Paulo e Minas.
Parafraseando: Após minhas andanças por Minas, quis o bom Deus, que fizesse essas considerações contemplando as montanhas de Extrema. Então vejamos, ao abandonar a canoa e resolverem seguir o trajeto à pé, estavam na aldeia de Guaipacaré, limite de navegabilidade do Rio Paraíiba. Rumaram para o sudoeste, da mesma forma que Alexandre Grymmer, em seus relatos, seguiu à partir desse ponto, um rio (ribeiro da limeira), rumo Oeste, ou seja, em direção ao por do sol, Núcleo Embrião de Piquete.

Parte: 3 - As incríveis aventuras e estranhos infortúnios de Anthony Knivet -

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Chegamos num lugar de terra seca e marrom, cheio de morros, rochas e nascentes de vários córregos.(6) Em muitos desses córregos encontramos pequenas pepitas de ouro do tamanho de uma noz, e muito ouro em pó feito areia. Depois disso, chegamos a uma região bonita onde avistamos uma enorme montanha brilhante à nossa frente (7). Levamos dez dias para alcançá-la pois, ao tentarmos atravessar a planície(8)  mesmo longe da  serra, o sol ficava forte demais e não podíamos mais avançar por causa da  claridade que refletia e nos cegava. Enfim, lentamente conseguimos chegar ao sopé dessa montanha, onde encontramos muitos  tamanduás. (9)
Nota:
6. Ainda segundo Teodoro Sampaio, esse sítio estaria nas vizinhanças do Guaripocaba de Bragança Paulista.
7. A montanha brilhante, segundo Teodoro Sampaio, seria a serra de Itaberaba, um prolongamento da Mantiqueira, entre os municípios de Nazaré Paulista e Santa Isabel. Itaberaba, em tupi, quer dizer “montanha reluzente”. Gabriel Soares de Sousa, em seu Tratado descritivo do Brasil, de 1587, dá testemunho semelhante: “E não há dúvida senão que entrando bem pelo sertão desta terra há serras de cristal finíssimo, que se enxerga o resplandor delas de muito longe, e afirmaram alguns portugueses que as viram que parecem de longe as serras da Espanha quando estão cobertas de neve, os quais e muitos mamelucos e índios que viram essas serras dizem que está tão bem criado e formoso esse cristal em grandeza, que se podem tirar pedaços inteiros de dez, doze palmos de comprido, e de grande largura e fornimento.” Também Pero de Magalhães de Gândavo, no Tratado da Terra do Brasil, se refere ao mito tupi do itaberabaçu, ou sabarabuçu: “A esta capitania de Porto Seguro chegaram certos índios do sertão a dar novas dumas pedras verdes que havia numa serra muitas léguas pela terra adentro, e traziam algumas delas por amostra. E os mesmos índios diziam que daquelas havia muitas, e que esta serra era mui fermosa e resplandecente.” (16)  Aventuras e infortúnios de Anthony KnivetSeguimos por ela pelo menos vinte dias antes de encontrarmos algum meio de subi-la. Finalmente achamos um rio que passava por baixo da montanha e decidimos descobrir algum modo de atravessá-lo.(10)  Alguns dos nossos, no entanto, achavam melhor continuar margeando o sopé da montanha ao invés de penetrar no seu subterrâneo pois, diziam, se o rio não atravessasse até o outro lado, estaríamos perdidos, uma vez que seria impossível retornar contra a corrente. Então respondi:  “Amigos, o melhor é arriscar nossas vidas agora como já fizemos antes em outros lugares. Caso contrário, temos que nos preparar para ficar vivendo como animais selvagens aqui onde nossa vida durará quanto Deus quiser, sem que pesem posses, nome ou religião. Por isso, creio que o melhor caminho a seguir é tentar atravessar, pois sem dúvida Deus, que já nos livrou de perigos sem fim , não há de nos abandonar agora. Além disso, se tivermos a sorte de atravessarmos para o outro lado, decerto encontraremos  
8. Essa planície seriam os campos entre Bragança e Atibaia, no estado de São Paulo, de onde partiram para o sul e atingiram a montanha brilhante.
9. No original “tamandros”.
Parafraseando: Ao falarmos de lugar de terra seca e marrom, não estamos falando exatamente das terras que vieram a garantir o sucesso do café no Vale do Paraiba e Sul de Minas. Por outro lado, a região bonita onde avistaram uma enorme montanha brilhante à frente, não é o contraforte, da Mantiqueira, das cinco serras altas do roteiro de Andre João Antonil, da Serra de Jaguamimbaba no lado paulista, nesse caso a Amantiqueira como era designada no lado Mineiro?  ou seja, essa planície se constitui na região do Alto Sapucaí, região dos pinheiros, Porém, antes de chegarem a essa montanha brilhante. "subiram uma enorme montanha coberta de floresta", restando indubitável, não se trata da Serra do Lopo, mas  da mesma Raiz do Monte do roteiro da expedição de André de Leão, a mesma Mantiqueira Quadrilheira do Padre João de Faria Fialho.
                      Pico do Meia Lua




  

Parte: 4 - As incríveis aventuras e estranhos infortúnios de Anthony Knivet -

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Seguimos por ela pelo menos vinte dias antes de encontrarmos algum meio de subi-la. Finalmente achamos um rio que passava por baixo da montanha e decidimos descobrir algum modo de atravessá-lo. (10)  Alguns dos nossos, no entanto, achavam melhor continuar margeando o sopé da montanha ao invés de penetrar no seu subterrâneo pois, diziam, se o rio não atravessasse até o outro lado, estaríamos perdidos, uma vez que seria impossível retornar contra a corrente. Então respondi: “Amigos, o melhor é arriscar nossas vidas agora como já fizemos antes em outros lugares. Caso contrário, temos que nos preparar para ficar vivendo como animais selvagens aqui onde nossa vida durará quanto Deus quiser, sem que pesem posses, nome ou religião. Por isso, creio que o melhor caminho a seguir é tentar atravessar, pois sem dúvida Deus, que já nos livrou de perigos sem fim, não há de nos abandonar agora. Além disso, se tivermos a sorte de atravessarmos para o outro lado, decerto encontraremos espanhóis ou índios, pois sei que todos vocês já ouviram que num dia claro pode-se ver o caminho desde Potosí até esta montanha.” Quando terminei de dizer isto, os portugueses decidiram arriscar a travessia. Com grandes caniços, construímos uma coisa larga, tinha três jardas e meia de largura por seis de comprimento, para que coubéssemos deitados e pudéssemos dormir nela. Matamos grande quantidade de tamanduás e os assamos bem para servirem de alimento, pois não sabíamos quanto tempo ficaríamos no subterrâneo. 
Notas:  
10 . Segundo Teodoro Sampaio, um sumidouro, uma furna, cuja parte superior encontrava-se coberta de vegetação, como o então conhecido sumidouro do rio São Francisco. Esse sumidouro descrito por Knivet seria no rio do Peixe, afluente do Jaguari.
Parafraseando: A montanha que objetivam penetrar no seu subterrâneo, atravessar do outro lado pelo sumidouro, uma furna, cuja parte superior encontra-se coberta de vegetação está localizada necessariamente a partir do Alto do Sapucaí. Sumidouro esse contido nos relatos da Bandeira de Fernão Dias Paes Leme.

Parte: 5 - As incríveis aventuras e estranhos infortúnios de Anthony Knivet -

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Depois que tínhamos feito todos os preparativos, que incluíam levar boa quantidade de madeira e encomendar nossas almas a Deus, nos lançamos no túnel, onde o ruído das águas ressoava tão alto que nos parecia algum feitiço. Entramos numa segunda-feira de manhã e saímos numa outra manhã (se ficamos um ou dois dias no subterrâneo não sei). Logo que avistamos a claridade ficamos muito contentes mas, ao sairmos, vimos casas nas duas margens. Reunimo-nos então para decidir o que seria melhor fazer: escondermo-nos e tentar passar pela aldeia durante a noite ou nos apresentarmos aos índios. Todos nós concordamos que o melhor seria irmos até eles. Então eu disse: “Bem, amigos, já que assim decidimos, vamos defi nir desde já o que faremos e diremos, pois sem dúvida eles nos perguntarão quem somos e de onde viemos.” Os  portugueses então disseram: “Nós lhes diremos que somos portugueses.” Eu então respondi: “Eu lhes direi que sou francês.” (11) Fomos  em direção às casas dos índios, que, assim que notaram nossa presença, vieram aos brados, sacudindo seus arcos e flechas. Ao se aproximarem, amarraram nossas mãos e nossas cinturas e desse jeito nos levaram até suas casas. Logo vieram dois ou três anciãos e nos perguntaram quem éramos, ao que os portugueses responderam que eram portugueses e eu, que era francês.
Nota:
11. Muitos anos antes, Hans Staden também se salvara de ser devorado por esses mesmos índios dizendo ser francês.
12. Provavelmente, dente de capivara
Parafraseando: Ao haver declarado que: "Entramos numa segunda-feira de manhã e saímos numa outra manhã",  sendo honesto,  não é  possível identificar a localidade em questão.  Mas a evidência é a de que estamos falando da região em que veio a ser localizadas às primeiras minas de ouro na região do  Sul de Minas. A exemplo das Minas de Itajubá.

Parte: 6 - As incríveis aventuras e estranhos infortúnios de Anthony Knivet -

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Duas horas depois levaram um dos portugueses, amarraram-lhe outra corda à cintura e conduziram-no a um terreiro, enquanto três índios seguravam a corda de um lado e três do outro, mantendo o português no meio. Veio então um ancião e pediu a ele que pensasse em todas as coisas que prezava e que se despedisse delas pois não as veria mais. Em seguida veio um jovem vigoroso, com os braços e o rosto pintados de vermelho, e disse ao português: “Estás me vendo? Sou aquele que matou muitos do teu povo e que vai te matar.” Depois de ter dito isso, ficou atrás do português e bateu-lhe na nuca de tal forma que o derrubou no chão e, quando ele estava caído, deu-lhe mais um golpe que o matou. Pegaram então um dente de coelho (12) , começaram a retirar-lhe a pele e carregaram-no pela cabeça e pelos pés até as chamas da fogueira. Depois disso, esfregaram-no todo com as mãos de modo que o que restava de pele saiu e só restou a carne branca. Então cortaram-lhe a cabeça, deram-na ao jovem que o tinha matado e retiraram as vísceras e deram-nas às mulheres. Em seguida, o desmembraram pelas juntas: primeiro as mãos, depois os cotovelos e assim o corpo todo. Mandaram a cada casa um pedaço e começaram a dançar enquanto todas as mulheres preparavam uma enorme quantidade de vinho. No dia seguinte ferveram cada junta num caldeirão de água para que as mulheres e as crianças tomassem do caldo. Durante três dias nada fi- zeram a não ser dançar e beber dia e noite. (13) Depois disso mataram outro da mesma maneira que lhes contei, e assim foram devorando todos menos eu.
Notas:
12. Provavelmente, dente de capivara.
13. Descrição extremamente precisa do ritual de canibalismo, também relatado por outros cronistas do século XVI.
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Obs: No tempo em que, vindo da Bahia, d. Francisco de Souza, esteve pela primeira vez em S. Paulo, aí vivia Guilherme Glymmer, flamengo, que tomou parte em uma expedição ao sertão e que dela fez uma descrição, que encontrou abrigo na obra de P. Marcgrave – História Botânica do Brasil – nos termos seguintes:
"Da aldeia sobredita até estes rios não vimos pessoa alguma, mas soubemos que além das montanhas vivia uma tribo de selvagens assaz numerosa. Estes, informados (não sei como) da presença de europeus naqueles sítios, despacharam um dos seus para nos espreitar. Caindo este em nosso poder, demo-nos pressa em arrepiar carreira, de medo desses bárbaros e por nos escassearem os viveres, ficando por explorar o metal por cuja causa havíamos sido mandados; e, quase mortos de fome, voltamos aquela aldeia de selvagens.
Parafraseando: Haja visto, dos relatos acima, após transpor a Raiz no monte, estando no mesmo contexto, a expedição de André de Leão, em conformidade com os relatos de Alexandre Grymer, não era para arrepiar carreira, de medo desses bárbaros...? (http://migre.me/7XnZX)


Parte: 7 - As incríveis aventuras e estranhos infortúnios de Anthony Knivet -

Ao ver todos os portugueses sendo mortos, esperei que o mesmo  acontecesse comigo, mas quando os índios interromperam os banquetes vieram até onde eu estava e disseram: “Não tenhais medo, pois os vossos antepassados foram nossos amigos e nós,  amigos deles, mas os portugueses são nossos inimigos, e nos  escravizam, e por isso fizemos com eles isto que vistes.” Depois de ouvi-los, disse-lhes que não tinha o que temer pois sabia que eram meus amigos e não meus inimigos, e que eu por muito tempo tinha sido prisioneiro dos portugueses.
Parafrasendo: É possível ter dúvida de que, o Núcleo Embrião de Piquete, não obstante ao nomandismo,  fora ocupado em algum momento também,  pelos tamoios, que em razão da confederação sangrenta  imposta pela coroa portuguesa, refugiaram-se no caminho da serra acima e sertão. Sertão este já designado como sertão dos índios bravos.

Parte: 8 - As incríveis aventuras e estranhos infortúnios de Anthony Knivet -

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Eu já estava há dois meses com esses índios chamados tamoios, (14)  quando eles foram guerrear contra os temiminós. Na hora da luta, quase perdemos terreno, pois os temiminós estavam em muito maior número, de tal forma que tivemos que nos refugiar nas montanhas. Quando notei a forma primitiva como lutavam, e como, desordenadamente, lançavam-se sobre o inimigo como touros, ensinei-lhes como se portarem numa batalha, como prepararem uma emboscada e como retrocederem levando seus inimigos a uma armadilha. Foi assim que mantivemos a vantagem sobre o inimigo e me tornei tão importante entre eles que não iam para uma batalha sem que eu os acompanhasse. Em pouco tempo, de tanto combatermos os temiminós, eles decidiram abandonar a região fugindo de nós. Assim pudemos viver em paz. Os tamoios me ofereceram várias esposas, mas recusei, dizendo que não era do nosso costume tomar por esposas mulheres que não fossem da nossa terra. Depois que vencemos os temiminós, vivemos em paz por quatro meses até que veio uma outra tribo de canibais, chamada tupiniquins. (15) Estes montaram sua aldeia muito perto de nós, numa montanha chamada pelos índios de Itapeva (16),  isto é, “montanha de ouro”. Logo que soubemos de sua chegada, nos preparamos para lutar contra eles. Juntamos cinco mil dos mais  fortes e, em cinco dias, chegamos à sua aldeia. Mas,  como eles já tinham nos avistado, haviam abandonado a aldeia e fugido.  Perseguimo-los durante dez dias,  aprisionando muitos anciãos e mulheres que, assim  que capturávamos, matávamos. Assim os seguimos até  que chegamos às margens de um grande rio que não  ousamos atravessar, temendo que nosso inimigo nos  atacasse quando desembarcássemos na outra margem. Então voltamos para casa atravessando o rio chamado Morgege (17), e continuamos em paz por mais oito meses,  até que nos mudamos para outro lugar. 
Notas:
15. “Topinaques” no original. Os tupiniquins eram aliados dos portugueses. 
16. No original “Tamiuva”. Segundo Teodoro Sampaio, a serra de Itapeva (ou do Jambeiro) se estende entre o rio Jaguari e o rio Guararema, afluentes do Paraíba. Segundo Carvalho Franco, a leitura correta seria “Itajubá”, que significa pedra ou montanha amarela.
17. O rio Tietê, segundo Teodoro Sampaio.
Parafraseando: Não sou eu quem está falando: "Segundo Carvalho Franco, a leitura correta seria “Itajubá”, que significa pedra ou montanha amarela." Assim sendo, não estamos falando da regão do Alto Sapucaí que deu origem ao rio de mesmo nome e do rio Verde, das Minas de Itajubá, caminho geral do sertão, estrada Real do Sertão.  Em definitivo relativamente a busca dos mares do Sul,  a Hidrografia da regão  nos conduz a descrição de Alexandre Grymmer que,  quando ao passar pela região em 1601, após transpor a montanha do sumidouro, em cuja base,  veio a se instalar o registro Itajubá,  após percorrer a região dos pinheiros, esclarece,: "Três dias depois, chegamos a um rio, que deriva do Nascente, e, atravessando-o, durante quatorze dias, tomamos a direção de Noroeste, através de campos abertos e outeiros despidos de árvores, até outro rio, que era navegável e corria da banda do Norte. Atravessamo-lo em umas embarcações chamadas jangadas, e, quatro ou cinco léguas mais adiante, topamos outro rio que corria quase de Norte e era navegável. Creio, porém, que estes três rios, afinal, confluem num só leito e vão desaguar no Paraguai, em razão de que o curso deles é para o Sul, ou para o Ocidente." (http://migre.me/7XpCo)

Parte: 9 - As incríveis aventuras e estranhos infortúnios de Anthony Knivet -

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Lá eu andava completamente nu, sem usar nada, somente algumas folhas que amarrava no corpo por vergonha. Um dia, enquanto eu pescava sozinho por diversão, fi quei sentado pensando em como me achava e no que já tinha sido. Então comecei a amaldiçoar o dia em que pela primeira vez ouvi falar do mar, e me lamentei, pensando como pude ser tão tolo em abandonar minha própria terra onde nada me faltava. Naquele  momento eu não tinha qualquer esperança de rever minha terra ou mesmo algum cristão. Enquanto eu lá estava, sentado na margem do rio, em meio a esses pensamentos desesperados, aproximou-se um velho índio que era um dos chefes da tribo. Começou a conversar comigo dizendo sentir falta do tempo em que estavam em Cabo Frio, pois podiam comerciar com os franceses e nada lhes faltava, mas que agora já não tinham facas nem machadinhas, ou outras coisas, e se achavam tão desprovidos. Ao ouvir isto respondi que eu desejava ardentemente que ele e os seus fossem morar de novo na costa, livres das ameaças dos  portugueses.(18).  Voltamos para a aldeia e o índio contou a todos o que eu lhe tinha dito. Na manhã seguinte vieram pelo menos vinte dos seus principais na casa em que eu dormia e me perguntaram se eu conhecia o local exato em que eles poderiam encontrar navios franceses. Eu lhes respondi que tinha certeza que entre o rio da Prata e um rio chamado pelos portugueses de Patos encontraríamos franceses e, se não os encontrássemos, lá os portugueses não poderiam nos fazer mal. Além do mais, acrescentei, seria melhor morar na costa,  onde teríamos abundância de tudo, do que ali, onde não tínhamos qualquer outro alimento exceto raízes. Esses anciãos contaram isto ao povo e todos quiseram ir para a costa, então decidiram partir. Preparamos as provisões e partimos de nossa morada, sendo ao todo trinta mil. 
Nota:
18. No capítulo IV, Knivet dá uma versão diferente: “Muitas vezes eu lhes falava sobre as idas e vindas de nossos navios ingleses para os estreitos de Magalhães e como tratávamos bem todas as tribos e como tínhamos todo tipo de coisa útil para eles. Essas palavras fizeram com que os canibais quisessem ir até o litoral e me perguntaram como poderiam ir viver na costa sem se tornarem escravos dos portugueses.”
Obs: A Confederação dos Tamoios é a denominação dada à revolta liderada pela nação indígena Tupinambá, que ocupava o litoral do que hoje é o norte paulista, começando por Bertioga e litoral fluminense, até Cabo Frio, envolvendo também tribos situadas ao longo do Vale do Paraíba, na Capitania de São Vicente, contra os colonizadores portugueses, entre 1556 a 1567, embora tenha-se notícia de incidentes desde 1554.(Fonte: http://migre.me/7XRvu)
Parafraseando: A conversa do velho índio com Anthony Knivet, dizendo sentir falta do tempo em que estavam em Cabo Frio, não diz respeito a Confederação dos Tamoios, revolta liderada pela nação indigena Tupinambá que ocupava o litoral  norte paulistas e litoral fluminense,  até Cabo Frio, envolvendo também tribos situadas ao longo do Vale do Paraíba,  contra os portugueses.  É difícil entender que no caminho do sertão, o rio do Paraíba e a serra da mantiqueira eram verdadeiras trincheiras na luta dos Tupinambá contras os portugueses.  A citação quanto ao fato de que podiam comerciar com os franceses, não está ligado à aliança que tinham os tupinambá com esses durante a tentativa de criação da França Antártica entre 1555 a 1560 no Rio de Janeiro? Ou seja, com o apoio dos tupinambá, não teriam os Franceses adentrado por esse sertão antes mesmo dos portugueses?

GUIA DA UNESCO - Una guía para la administración de sitios e itinerarios de memoria.

Ficha 22: Ruta de la libertad (A Rota da Liberdade), São Paulo, Brasil (A Rota da Liberdade), São Paulo, Brasil ■ ANTECEDENTES ■ ANTECED...