terça-feira, 30 de agosto de 2011

Transcrição - OS MUARES E AS MINAS: RELAÇÕES ENTRE A DEMANDA MINEIRA E O MERCADO DE ANIMAIS DE CARGA NOS SÉCULOS XVIII E XIX Carlos Eduardo Suprinyak CEDEPLAR/UFMG Cristiano Corte Restitutti FLCAr/UNESP e bolsista ICAM-USIMINAS

II – O PERÍODO COLONIAL: CONSOLIDAÇÃO DO MERCADO
A primeira grande onda de emigração ao planalto central do Brasil pressionou forte demanda por meios de transporte – inicialmente, cavalos. Até meados do século XVIII a demanda por animais de transporte pessoal e de carga supria-se de rebanhos de cavalos já existentes na área do rio São Francisco. A contínua expansão dos pólos auríferos na primeira  metade do século XVIII fez incrementar as linhas de abastecimento, tornando a condução de animais do distante sul do país, desde cedo, negócio lucrativo. A ampla utilização de cavalos para o transporte pessoal adiou a pressão de demanda por bestas muares (mulas), cruzamento do gado eqüino com o asinino (burros), mais compactas, fortes e resistentes, melhor adaptadas ao terreno montanhoso Os animais de carga constituíam demanda direta do setor mercantil envolvido na distribuição das importações. Desta forma, deve haver relação direta entre a demanda por bestas muares e o trânsito de entradas de mercadorias nos registros. Em 1716/17, os registros mineiros anotaram 11.612 cargas de secos e de molhados importadas, 83,3% via estrada velha de São Paulo (registro da Mantiqueira), as quais exigiriam cerca de 4.000 viagens de mula. Mais comumente feito em lombo de cavalos, o transporte exigiria mais viagens. Gastavam os paulistas dois meses “desde a vila de São Paulo até as Minas Gerais dos  Cataguás” em 1703, ou seja, pelo menos 1.500 animais estavam envolvidos no comércio de importação. Em 1718 aportaram em Portugal 8.926 kg de ouro, os quais poderiam ser conduzidos aos portos do Brasil em apenas 100 viagens de mulas 6.
Fonte: http://migre.me/5AFwH

                           Festa do Trapeiro em Piquete-SP - Julho de 2011

Nota: Guaratinguetá, foi por mais de 300 anos um grande entreposto,  centro de suprimento importante dos produtos destinados ao abastecimento das Minas Gerais, bem como, transporte do ouro destinado a Portugal, via Paraty-RJ.  Restando documentada, uma estrada entre Guaratiguetá e São João Del Rei, indiscutivelmente passando  por Piquete e pelo Registro de Itajubá, localizado na Garganta do Meia-Lua, caminho das Minas de Itajubá, descoberta atribuida a Miguel Garcia Velho em 1703, que desemboca na cidade de Marmelópolis-MG.  Outra e principal alternativa  era seguir em direção a Garganta do Embaú, rumo ao Registro da Mantiqueira. Assim como o Grande Sertões Veredas. É possivel  ignorar que as "VEREDAS DAS BRUMAS DAS TERRAS ERMAS" como definida pelos Portugueses, na palavra de Rocha Pombo, no que tange ao Núcleo Embrião de Piquete, se constituia pela própria geografia em indiscutivel caminho, atalho, senda. Ou seja, todos os Sertões tem nas suas veredas, verdadeiras veias artérias de transição, fato notório a dispensar esse meu desconforto em busca de provar o óbvio.  Piquete-SP, cuja toponímia significa curral de pedra, potreiro, mangueiro é um legitimo e secular caminho de tropas. Portanto, esse trânsito de entrada de mercadorias, equivalente a 11.612 cargas de secos e de molhados importados em 1716/1717. Sendo 83,3% via estrada Velha de São Paulo (registro da Mantiqueira), passou por Piquete.

Roteiro do Caminho Velho Rio de Janeiro, São Paulo e Minas, 1707

   Fonte: Sítio Histórico e Ecológico do Caminho do Our Paragy-rRJ
 Clique na imagem para reduzi-la
Fonte:MAPAS DE SANTOS Carta corográfica - Capitania de S. Paulo, 1766  http://migre.me/9hQRh
 http://www.teatroespaco.com.br/loja/config/imagens_conteudo/produtos/imagensGRD/GRD_10_mapa_Estrada_Real.jpg

- vereda (ve-re-da):  s. f. Caminho estreito, atalho, senda.
- Fig. Via moral: as veredas da salvação.
- Bras. Região com maior abundância de água e vegetação na zona das caatingas.
- (S da BA) Várzea ao longo de um rio.
- (GO) Clareira entre a vegetação rasteira.
- (Centro) Matas cercadas de campo, com buritis e pindaíbas pelos cerrados.
- Fig. Ocasião, momento: naquela vereda, eu fugi.
- Bras. (S) De vereda, de repente.
Fonte: http://migre.me/5AQQ0 

POUSO E VENDA DE ESTRADA


ORIGEM DE PIQUETE E AS ROÇAS DE BENTO RODRIGUES: O roteiro do caminho contido na Obra de André João Antonil, possibilita afirmar que, a realização de roças eram privilégios de poucos, como os reconhecidamente descobridores das minas. Todavia não tinha essas roças, como sabemos, o propósito de fazer caridade. Uma vez que, os produtos eram vendidos por altos preços aos passageiros. Dada a escassez de alimentos, o valor de venda, reiterando,  eram elevados, ou seja, quanto maior era a necessidade maior o valor. As roças coincidiam com as paragens, pousos e estalagem, as quais se constituíam de vendas e outros serviços. Conseqüentemente os três dias demandados para percorrer as Roças de Bento Rodrigues, a partir do porto Guaipacará, até que se chegasse ao pé da serra, garantia-lhe o monopólio e o privilégio na venda dos produtos indispensáveis a sobrevivência dos viajantes, nesse trecho. Em fim, resta incontrastável que, essas paragem e pousos deram necessariamente origem a núcleos populacionais. Nos termos da assertiva contida no próprio roteiro. Ademais, resta indubitável ainda, pelo prestigio que desfrutava o filho de Fernão Dias que, essa exploração comercial, teve inicio muito antes da oficialização da concessão da sesmaria em 1707. Sendo certo que, havendo passado por esse caminho na expedição do pai, quando ainda contava com 13 anos de idade em 1674, soube escolher muito bem o que lhe interessava no caminho das 05 serras altas. Bem como, soma-se o fato de que no mesmo Roteiro de Antonil, existe uma outra referência a roça de propriedade de Garcia Rodrigues, antes de chegar as serras de Itatiaia. Restando evidente a existência de uma logística direcionada ao abastecimento dos que seguiam ou voltavam dessas jornadas, garantidora de grandes faturamentos.
Fonte: Imagem Casa do Grito:  http://migre.me/5AKUA



FINCA-PÉ

Nacionalismo é finca-pé.
É como o amor contrariado:
quanto mais se combate
e a família persegue...
mais se ama, mais se quer.
Reforma agrária é finca-pé,
Nào adianta falar,
nem dizer os defeitos...
se algum mal contém...
Gente assim apaixonada
não escuta ninguém.
Precisando lutar
— luta-se.
Precisando morrer,
— morre-se.
Pode-se tudo fazer
menos desistir.
Coragem, idealismo, confiança.
Certeza de um futuro melhor:
de homem, de mulher, de criança.
Eu também sou finca-pé.
E você, meu amigo,
porventura... não é? 
  Fernanda Brito
Do livro: "Poemas do Finca-Pé", Ed. autora, 1963, RJ 

Transcrição: MEMÓRIA DO JONGO: AS GRAVAÇÕES HISTÓRICAS DE STANLEY STEIN

JUSTIFICATIVA
Em 1948, o historiador norte-americano Stanley J. Stein chegava ao Brasil para realizar uma pesquisa sobre a economia cafeeira do Vale do Paraíba. Durante a pesquisa, o professor Stein visitou fazendas e entrevistou dezenas de pessoas, incluindo ex-escravos e seus descendentes. Nesse percurso, realizou algumas gravações, que permaneceram intocadas por mais de meio século até serem restauradas, recentemente. O material resultante consiste em cerca de 40 minutos de registros de gêneros musicais tradicionais, especialmente Jongos. Trata-se de um raríssimo exemplo de documentação sonora feita junto a ex escravos brasileiros e um documento único e insubstituível para a memória brasileira, especialmente para as comunidades afro-descendentes do Vale do Paraíba.
Este projeto propõe a edição dessas gravações históricas em um CD, que será encartado em um livro contendo a transcrição integral das gravações, uma entrevista com o Profº Stein e fotos inéditas realizadas durante seu trabalho de campo, além de diversos textos escritos por especialistas comentando o conteúdo das gravações em seus diferentes aspectos (históricos, antropológicos e musicológicos). O CD e o livro, com tiragem de 2.000 (dois mil) exemplares, serão lançados simultaneamente no mês de novembro de 2007 e terão parte da tiragem distribuída gratuitamente para instituições de ensino, pesquisa, bibliotecas e centros culturais do Brasil e do exterior.
Os escravos que trabalhavam nas fazendas de café, assim como seus descendentes, desenvolveram ao longo do tempo ricas e expressivas tradições culturais que ainda não foram devidamente documentadas e valorizadas pela sociedade brasileira.
As gravações realizadas por Stanley J. Stein em 1948-49, inéditas até hoje, são extremamente valiosas como registro dessas, tradições, inclusive por constituírem um raríssimo exemplo de documentação sonora feita junto à ex-escravos brasileiros. Trata-se de um documento único e insubstituível para a memória brasileira, especialmente das comunidades afro-descendentes do Vale do Paraíba. Resgatar essas gravações, divulgá-las e destacar sua relevância para a memória brasileira representa uma contribuição importante para a valorização das culturas de heranças africanas no Brasil, dando-lhes visibilidade e estimulando sua vitalidade. Dentre os gêneros musicais registrados nas gravações de Stein, destaca-se o jongo, uma das mais importantes expressões da cultura afro-descendentes na região sudeste e que hoje se encontra em processo de registro pelo IPHAN como bem de patrimônio imaterial, processo para o qual este projeto visa contribuir.
Fonte: http://migre.me/5AorZ  
FOTO: JONGO DE PIQUETE-SP  Nota: "Proclamado Patrimônio Cultural Brasileiro, em 2005, o jongo tem servido, simultaneamente como elemento de afirmação de identidade cultural para grupos de remanescentes de quilombos, como referência do legado de povos africanos de língua bantu no Brasil e como testemunho na contribuição de uma memória de descendente de escravos". (Fonte: http://migre.me/5AoSy -“Jongo: algumas considerações iniciais” Valéria Silva Batista e Silvia Cristina Martins de Souza e Silva)

Transcrição: OS SERTÕES DA FOME: A HISTÓRIA TRÁGICA DAS MINAS DE OURO EM FINS DO SÉCULO XVII Adriana Romeiro1

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As mais belas páginas sobre a peculiar cultura dos sertanistas foram escritas por Sérgio Buarque de Holanda, que identificou nela o princípio da fronteira, entendida como “fronteira entre paisagens, populações, hábitos, instituições, técnicas, até idiomas heterogêneos que aqui se defrontavam, ora a esbater-se para deixar lugar à formação de produtos mistos ou simbióticos, ora a afirmarse ao menos enquanto não a superasse a vitória final dos elementos que se tivessem revelado mais ativos, mais robustos ou melhor equipados.”10 Em fins do século XVII, os paulistas haviam acumulado um sólido e inigualável repertório de saberes sobre a natureza, que os capacitava a extrair dela todo o necessário à vida, desde a subsistência até a farmacopéia. Em suas correrias pelos sertões, haviam aprendido a despender uma grande parte do tempo ao que chamavam de “empregos necessários (...) para o alimento e conservação da vida.”11 Antonil também observou que, em vez de caminhar de sol a sol, os paulistas o faziam até ao meio dia, quando então se arranchavam “como para terem tempo de descansar e buscar alguma caça ou peixe aonde o há, mel de pau e outro qualquer mantimento.”12 Disso fazia parte o plantio de roças de milho, mandioca e feijão, e a criação de aves e animais ao longo dos caminhos, o que era feito por uma parte da tropa, encarregada de seguir àfrente da expedição, garantindo assim a subsistência de todos. A estratégia previdente dos sertanistas foi, ainda no século XVII, incorporada ao arsenal dos saberes e práticas das expedições oficiais, pois no Regimento dado aD. Rodrigo de Castelo Branco, em 1679, consta, em seu capítulo primeiro,a seguinte recomendação: “toda a pessoa de qualquer qualidade que seja, que for ao sertão a descobrimentos, será obrigada a levar milho, e feijão, e mandioca, para poder fazer plantas e deixa-las plantadas, porque com esta diligência se poderá penetrar os sertões, que sem isso é impossível.”13 Tal costume implicava cálculos sofisticados quanto à época mais indicada para o plantio e quanto aos locais em que as roças deveriam ser plantadas - afinal, um erro dessa natureza podia comprometer o sucesso de toda uma expedição, jogando por terra o alto investimento feito nela.
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Nota: Eis a transcrição do trecho do artigo que nos remete a uma verdadeira Epopeia:"Antigo Testamento – que melhor se prestaram à identificação da natureza dos sertões: a célebre passagem em que Antonil compara as freguesias móveis das Minas com os filhos de Israel no deserto é reveladora.32 Como o deserto, transformado em floresta no imaginário medieval, a natureza mineira se apresentava como cenário de aflições e provações, o palco de uma experiência marcada pela fome e pelo sofrimento".pág 12
Por que razão, enquanto comunidade,  temos sido privados pela omissão da academia,  quanto a constituir o Núcleo Embrião de Piquete, um histórico e verdadeiro espaço de memória,  parte da logística de um "arsenal de técnicas destinadas à sobrevivêcia....das quais fazia parte o plantio antecipado de cereais, em nosso  caso as roças de Bento Rodrigues, no sertão dos índios bravos (grifo meu)? Por outro lado, se;  "Nos escritos de orientação pró-paulistas, os sertanistas são apresentados como homens dotados de excepcional bravura e coragem, capazes de suportar os mais terríveis trabalhos e as fadigas, sem jamais se abaterem, mesmo sob a ação da fome". Com absoluta certeza entre esses  estava o povo índio e negro daquelas paragens, tratando-se de uma sobrevivência digna de reconhecimento heróico, sabido que a crueldade da escravidão, "foi incapaz de atingir a sua força vital intenra",  parafraseando, os tambores nunca se calaram! 



FAROFA DA MAZÉ
Foto: Iça, consumo de hábito indigena,  estava entre as imundisses consumidas no Sertão da fome, segundo os Portugueses na época. Hoje a iguaria acupa um espaço no Caderno de Receitas de Olivier Anquier.(Fonte: http://migre.me/5AREd)




domingo, 28 de agosto de 2011

Transcrição - Parte 2 : A viagem de um magistrado: Caetano da Costa Matoso a caminho de Minas Gerais em 1749 - Laura de Mello e Souza Universidade de São Paulo -

4. O viajante:
Costa Matoso difere de outros viajantes por quase não falar da natureza, ou fazê-Ia de forma breve e lacônica. Seu olhar curioso capta instantâneos do que vê, privilegiando pessoas e situações concretas, anotando rendimentos e despesas da Coroa. Registra invariavelmente a rotina da jornada: as partidas sempre entre cinco e seis da manhã; a's tardes quentes, impróprias para viajar, entrecortadas por relâmpagos, trovoadas e fortes pancadas de chuva; os cavalos e bestas patinando na lama, cedendo ao peso das cargas ou dos cavaleiros. Anota cada pouso por que passa ou onde pernoita, numa meticulosidade e aplicação de cartógrafo. Locomove-se com bússola, dando sempre a direção dos trajetos. Seu relato indica um homem prático, atento aos aspectos concretos da vida, nada afeito a divagações.
A mata virgem que cobria a serra do Mar e seguia por sobre a Mantiqueira para rarear nos Campos Gerais foi objeto da admiração de muitos viajantes, antes e depois do ouvidor. A ele, parece que só causou incômodo. As descrições das cavalgadas mata adentro soam claustrofóbicas:
"assim continuava sempre o caminho todo fechado de um e outro lado, e quando não era copado, ao menos era quase inacessível ao sol, e para se ver o céu se precisa de se levantar a cabeça na muita altura das árvores"20.
Saudava os morros descobertos, apesar do calor apertar na ausência da cobertura vegetal densa:
"contudo vinhajá com algum desafogo, vendo que respirava e se estendiam mais ao longe os objetos da vista, deixando aquele afogado e melancólico caminho em que em dez dias não via outra coisa senão o mato e árvores imediatas a mim"21.
Homem afeito a controlar a paisagem com os olhos, esquadrinhando as distâncias para melhor avaliá-Ias e estimar a duração das jornadas, Costa Matoso sente alívio quando a mata densa fica para trás:
"Vim entrando pelo que chamam campo, deixando já o caminho a que chamam do mato; é chamado campo por descoberto a respeito do mato, e na verdade é caminho excelente e desafogado [ .. .]. E assim dava este caminho lugar a alguma extensão de léguas na vista para a parte de oeste, que para a de leste ia sempre a vista em pouca distância dos mesmos matos a que aqui chamam os Gerais..."22
Fonte: http://migre.me/5ycLv 
Nota:  Esse relato em sintonia com os relatos de roteiros de viajem de André João Antonil, e outros, possibilita vislumbrar a indescritível logística e técnicas de navegação utilizada. Restando claro que se orientavam por bússolas na definição do trajeto.  Fala-se das matas claustofobicas e das caminhadas por dez dias quando então via-se somente mato. Nesta condições, quando  se afirma que do Guaipacaré seguia-se por um afluente do rio Paraíba, talvez o ribeiro da lameira, resta claro que inexistindo qualquer possibilidade de se avistar ao longe a rota pretendida,  a obediência ao instrumento de orientação era de rigor. Por outro lado quando faz Antonil referência as muralhas da Mantiqueira, ou seja as cinco serras altas,  logo após referir-se as roças de Bento Rodrigues na região do Guaipacaré, atencipando a narrativas relativamente aos Ribeirões, resta claro que a visão da serra, se deu após vencer a mataria e de  uma visão em perspectiva, ou seja, em uma elevação, como afirma; "Saudava os morros descobertos",   o que resultaria impossível fosse o caminho pela planice do Paraíba que indiscutivelmente segue rumo Leste e não Norte.     






Transcrição - Revista Brasileira de História André Figueiredo Rodrigues História Social / FFLCH/USP

 A história de Minas Gerais, na sua origem, é a história das catas de ouro e faiscação de diamantes pelos ribeirões e córregos que cortavam a região montanhosa dos matos gerais dos índios cataguás.
Desde o primeiro século após o descobrimento do Brasil, várias entradas foram feitas naquelas paragens: pelo Norte, vindos da Bahia; pelo Leste, do Espírito Santo; e pelo Sul, oriundas do Rio de Janeiro e principalmente de São Paulo. Nenhuma dessas incursões que andavam em busca de riquezas minerais ou caçando indígenas promoveram o povoamento do território. Pelo contrário, esta última atividade concorreu para o seu despovoamento com o deslocamento dos silvícolas aprisionados como escravos para as fazendas de São Paulo ou para as de criação de gado e/ou engenhos do Nordeste açucareiro.
A ocupação do território mineiro começou com a bandeira de Fernão Dias Paes, no último quartel do século XVII. O bandeirante, partindo de São Paulo, rumou sentido Norte em busca de esmeraldas. Apesar de ter achado turmalinas, nunca encontrou as esmeraldas que tanto procurou, a não ser em seus delírios de febre, que o fizeram "ver a serra resplandecente". Seu sonho, porém, levou aos primeiros achados auríferos e deu origem às próprias Minas Gerais.
A partir de 1674, com a "bandeira das esmeraldas", tiveram início as primeiras manifestações do povoamento por europeus e seus descendentes da atual área do Estado de Minas Gerais, sendo então fundados os primeiros núcleos de aldeamento e a abertura de caminhos que, com suas paragens e roças, permitiram aos viandantes descansar e conseguir alimentos e víveres para sua manutenção no ir-e-vir pelos sertões e brenhas então desconhecidos.
Somente na última década do seiscentos, com a descoberta de ouro por Antônio Rodrigues Arzão nos sertões do rio Casca (1692), teve início o verdadeiro povoamento de Minas Gerais1.
Nos últimos anos do século XVII começou a corrida do ouro para as minas. Em pouco tempo, os descobertos auríferos foram se enchendo de gente de toda parte, sobretudo da Bahia e do Rio de Janeiro, que eram as regiões mais populosas da América portuguesa naquela época, e também de Portugal. Em poucos anos, no território até então habitado por indígenas passaram a viver pessoas das mais diversas origens e procedências.
Os caminhos encheram-se de sertanistas e aventureiros, acendendo a cobiça geral de homens de todos os estamentos e profissões pela riqueza propiciada na extração aurífera. Houve um verdadeiro rush desenfreado e indisciplinado, como não se vira na história americana até aquele momento.
Surgiram da noite para o dia povoados ao longo de caminhos sinuosos ou junto às datas de mineração, destacando-se as vilas do ouro (Mariana, Ouro Preto, Sabará, São João del Rei, Caeté, Pitangui, Serro Frio e São José del Rei). Para abastecer essas aglomerações, desenvolveu-se uma intensa rede comercial, com produtos de primeira necessidade e artigos de luxo trazidos da região portuária do Rio de Janeiro e de outras capitanias, como São Paulo, Bahia, Pernambuco e Rio Grande (do Sul). Além da existência, desde os primeiros anos das Minas, de roças e paragens que se dedicavam à produção e escoamento de produtos agrícolas (alimentos e bebidas — notadamente aguardente), pastoris (bois, vacas e ovelhas) e têxteis (tecidos grosseiros), direcionados ao abastecimento interno da capitania mineira2.
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quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Tropeiro escravo negro conduzindo tropa de mula. Pintura de Jean Baptista Debret..


Transcrição - Contribuições dos tropeiros: os negros muito contribuíram na alimentação do gaúcho: cangica, mogango, quirera torresmo, etc. Na  música, instrumentos de percussão e a Milonga (ritmo afro-plantino), que além de dança tem outro significado: milonga para os negros era palavrório, palavras soltas, sem obrigação. Palavras como matungo (cavalo velho, lento, de pouca utilidade) e porongo (planta da qual é fabricada a cuia para o chimarrão) são apenas algumas das poucas palavras incorporadas pelo “idioma gauchês” que são de origem negra.
Escravos, os negros contribuíram muito na economia, com sua mão-de-obra nas casas  estâncias, como  amas-de-leite, trabalhos nas charqueadas, além de viverem como posteiros ou posseiros (postos que ficavam até mesmo de seis a doze léguas da casa do estancieiro senhor de escravo, onde os negros moravam para cuidar das fronteiras da propriedade de seu dono), tendo uma  liberdade muito grande, pois não fugiam para não deixar para trás a esposa e os filhos, que permaneciam na casa do senhor de escravos. A fabricação de artefatos de couro também era responsabilidade não só de homens livres, mas também de negros.
Fonte:  http://migre.me/5yUIb



Manifesto do Exercito de um homem Só - Patrono São Miguel Arcanjo defensor da fé: "O carrasco mata sempre duas vezes – a segunda vez, através do silêncio" não obstante, continuarei lutando contra os moinhos de ventos do ostracismo imposto ao meu direito e de minha comunidade de existir como agente e protagonista de sua própria História. "COMUNIDADE AFRO-PIQUETENSE, MAIS DE 300 ANOS"


http://www.metodista.org.br/arquivo/imagens/escravo.jpg
                                       Fonte: http://migre.me/5BoM5
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLmt4hr9gCQwXjskOLwxXGqS7hjbkdT4zf6t58uCdKI_LK_1iCF1WpmE3jRKjuMBKTiCS5hSs6FyjIioaqtHKM-0w4CmABeUHVCmeLqLoBcUqP_0eLyGd6zY_JDYZFrf-iT5UgrdGB6g9S/s400/escravidao.jpg  
         Fonte:  http://migre.me/5BoTD 
         Credito Roberto Pinheiro Acruche                                         





quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Transcrição: TAlmanach Perpetuum CARTAS E NOTÍCIAS CURIOSAS DA COLÔNIA

Livro III: Cultura e Opulência do Brasil pelas minas do ouro

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CAPÍTULO XI

Roteiro do caminho velho da cidade do Rio de Janeiro para as minas gerais dos Cataguás e do rio das Velhas.

EM MENOS DE TRINTA DIAS, marchando de sol a sol, podem chegar os que partem da cidade do Rio de Janeiro às minas gerais, porém raras vezes sucede poderem seguir esta marcha, por ser o caminho mais áspero que o dos paulistas. E, por relação de quem andou por ele em companhia do governador Artur de Sá, é o seguinte. Partindo aos 23 de agosto da cidade do Rio de Janeiro foram a Parati.

De Parati a Taubaté.

Serra da Bocaina
Em breve: O Engenho e Os Quilombos
De Taubaté a Pindamonhangaba. De Pindamonhangaba a Guaratinguetá. De Guaratinguetá às roças de Garcia Rodrigues. Destas roças ao Ribeirão. E do Ribeirão, com oito dias mais de sol a sol, chegaram ao rio das Velhas aos 29 de novembro, havendo parado no caminho oito dias em Parati, dezoito em Taubaté, dous em Guaratinguetá, dous nas roças de Garcia Rodrigues e vinte e seis no Ribeirão, que por todos são cinqüenta e seis dias. E, tirando estes de noventa e nove, que se contam desde 23 de agosto até 29 de novembro, vieram a gastar neste caminho não mais que quarenta e três dias.
Fonte: http://migre.me/5yxX9 
Nota:  Em conformidade com os roteiros contidos nessa obra, o  caminho dos Paulista, até o pé da serra 03 (três) dias. No caminho do Rio de Janeiro, até o Ribeirão 02 (dois) dias, o tempo percorrido pelas roças de Bento Rodrigues ou Garcia Rodrigues, corresponde ao Núcleo que veio dar origem a Piquete.
                          Fonte:  SHECO (Sítio Histórico e Ecológico do Caminho do Ouro) Paraty

Meia-lua é a toponímia de um relevo que se constitui em uma das Montanhas do contra forte, relacionado ao Núcleo Embrião de Piquete. Por conseguinte, entre as inúmeiras tomonimias na Estrada Real, como as definidas no Simpósio de Cartografia Histórica realizado em Paraty em maio de 2011, poucas estão relacionadas a tradição cultural Negra, sendo posssivel considerar que essa pode ser uma rarissima exceção, no Itinerário de Cultura Negra, Rota da Diáspora..... no Sertão da Mantiqueira; " sincretizados com elementos de culturas nativas (povos indígenas) e de origem européia."

 
 

fechado
  • Meia-lua de compasso: também conhecida por rabo-de-arraia, sendo a meia-lua de compasso uma variação do golpe rabo-de-arraia que vem da capoeira de Angola. Ficando de lado, agacha-se sobre a perna da frente, estendendo a perna de trás. Faz-se um movimento de rotação varrendo a horizontal com a perna de trás esticada, apoiando-se na perna da frente, terminando em posição de ginga. O corpo do aplicante fica rente à perna da frente sobre a qual ele está agachado. O aplicante pode colocar as duas mãos ao chão para aumentar a sua segurança, ou apenas uma ou nenhuma mão.
Meia lua.gif

  • Meia-lua de frente: estando com as pernas lado a lado, lança-se uma das mesmas estica varrendo a horizontal em um movimento de rotação fazendo a trajetória de uma meia-lua. Acerta-se o adversário com a parte interna do pé.
*Capoeira de Angola ou somente Angola é o estilo de capoeira mais próximo de como os negros escravos jogavam a capoeira. Caracterizada por ser mais lenta, porém rápida, movimentos furtivos executados perto do solo, como em cima, ela enfatiza as tradições da capoeira, que em sua raiz está ligada aos rituais afro-brasileiros, caracterizados pelo candomblé. Sua música é cadenciada, orgânica e ritualizada e o correto é estar sempre acompanhada por uma bateria completa de oito instrumentos, chamada de bateria de Angola.[1]
É uma manifestação da cultura popular brasileira onde coexistem aspectos normalmente compreendidos de forma segmentada pela cultura que se fez oficial, como o jogo, a dança, a mímica, a luta e a ancestralidade, unidos de forma coesa, simples e sintética. Possui suas origens em elementos da cultura de várias matizes de povos africanos que foram escravizados e mantidos em cativeiro no Brasil no século XIX, sincretizados com elementos de culturas nativas (povos indígenas) e de origem européia.[2]


Bateria da capoeira de Angola é a bateria de tocadores da roda de capoeira de Angola.
  • Fonte:  Wikipédia, a enciclopédia livre.  http://migre.me/5yh18 
  • Nota: "No que concerne à memória de toponímia africana, conforme Dick (1990, p. 152), o número de designativos africanos deixou um legado pequeno ao português brasileiro, "cerca de trezentos termos mais ou menos, numa desproporção clara com o total de negros imigrados". Isto pode ser explicado por razões históricas: o negro veio para o Brasil na condição de trabalhador subjugado e escravizado, por isso sua cultura e sua língua foram inferiorizadas. Verificamos que há uma baixa incidência de topônimos que têm base em línguas africanas nos nomes de municípios e distritos da Estrada Real. Citamos apenas dois: Monjolos e Caxambu." Fonte 1.º Simpósio de Cartografia Histórica: Fonte: http://migre.me/5yrdZ

O patrimônio cultural imaterial das populações tradicionais e sua tutela pelo Direito Ambiental

As comunidades tradicionais urbanas estão muito atreladas à noção de memória sócio-urbana, que é nada mais, nada menos, que a expressão máxima da riqueza cultural que o meio ambiente urbano pode oferecer [18]; formando, assim, uma paisagem intangível ao nosso "tato", porém perceptível aos demais sentidos. São essas comunidades as responsáveis por tornar certos locais, como bairros e praças, localidades dotadas de características culturais distintas do restante da cidade, diferindo este conceito do de populações tradicionais rurais, visto que estas teriam um modo de produção diferente do existente nas sociedades urbano-industriais, enquanto que as populações tradicionais urbanas teriam como principal caractere uma manifestação cultural diferenciada e perceptível no espaço urbano, com bairros marcados pela presença de uma comunidade diferenciada [19], como é o caso do Pelourinho, em Salvador (BA), cuja população era considerada portadora de um modo de viver distinto do restante da metrópole soteropolitana [20], ou como observamos em São Paulo, no bairro da Liberdade, onde a imigração japonesa, na primeira metade do século XX, tornou-se a responsável por fomentar a criação de um espaço cultural extremamente distinto e peculiar em relação ao restante do município paulistano.

Transcrição - Parte 1: A viagem de um magistrado: Caetano da Costa Matoso a caminho de Minas Gerais em 1749 - Laura de Mello e Souza Universidade de São Paulo -

3. O Caminho
Costa Matoso percebeu com acuidade que o Caminho promovia e reforçava a condição social. Ao longo dele vicejou um grupo de potentados, que como tantos outros desempenhou o papel ambíguo próprio a tais homens na América Portuguesa: a descendência de Garcia Rodrigues Pais15.
Era ele o primogênito de Fernão Dias Pais e de sua mulher Maria Garcia Betim, e como escreveu Diogo de Vasconcellos, "foi o homem que ligou seu nome a toda a história de Minas nos primeiros tempos, desde a expedição de seu pai em 1674 até o ano de 1738, quando morreu aos 7 de março em São Paulo"16. Em 1701 já principiara a abertura do Caminho Novo, conforme relatava em carta ao rei D.Pedro II17. No ano seguinte, o monarca fazia-o Guarda-Mor das Minas. Em 1718, por remuneração aos serviços prestados, viria o favor responsável pela fixação definitiva dele e dos seus na região que ajudara a desbravar: a concessão de 4 sesmarias à sua pessoa e de mais uma a cada filho seu, todas a serem escolhidas ao longo da estrada - tamanha quantidade de terra, que acabaria largando "muita parte" para ficar só com a que bordejava o Caminho, "que é coisa imensa", conforme julgou Costa Matoso.
Garcia Rodrigues parece ter sido potentado característico dos primeiros tempos das Minas: orgulhoso, proclamando-se independente mas, ao mesmo tempo, useiro de cortejar o poder. Costa Matoso registrou um seu comportamento que provavelmente ouviu dos contemporâneos: agraciado pelo rei com a guardamoria, não a quis aceitar, "dizendo, arrogantemente, que ele não queria que el-rei lhe fizesse mercê porque ele é que as queria fazer a el-rei". A atitude foi vista pelo ouvidor como soberba própria a paulistas, estando então ainda vivos na memória os episódios da guerra emboaba, pródigos em insolências praticadas pelos habitantes de São Paulo: "e levado desta mesma elevação de paulista", prossegue Costa Matoso, "deu a el-rei a passagem destes dois rios [Paraíba e Paraibuna], que no princípio mandava fazer pelos seus escravos sem emolumento e ofereceu a el-rei, dizendo que podia fazer nela um bom rendimento." O colono plebeu que concede favores ao rei imita a ética própria à nobreza européia, assim incorporada em meio rústico e de sedimentação social ainda em curso18. A independência de Garcia Rodrigues não o impedia contudo de ir amiúde a Ribeirão do Carmo, "tendo voto sempre ouvido nas deliberações do governador D.Braz, de quem foi amigo"19.
Pedro Dias Pais Leme, ou simplesmente Pedro Dias, como escreve Costa Matoso, era o primogênito da união entre Garcia Rodrigues e D. Maria Antonia Pinheiro da Fonseca, sua prima. Quando o ouvidor passou pelo Caminho, era "o Guarda-Mor de todas as Minas", pois sucedera ao pai, morto onze anos antes. Continuava agindo como potentado absoluto da região do Caminho Novo, onde era "senhor de duas léguas de terreno, pelo caminho que vim até a borda deste rio [Paraibuna], de cinco até Paraibuna, de mais duas até Três Irmãos, e sem medida pela largura, por ser tudo sertão, de que usa como lhe parece".
Ao longo do Caminho, ainda tinham terras outros parentes de Garcia Rodrigues: o sogro, Alcaide-Mor do Rio de Janeiro, e que emprestara o nome a uma das roças onde paravam os viajantes; o cunhado :Manuel de Sá, casado com uma de suas irmãs; o juiz-de-fora do Rio, Luís Fortes, que vinha a ser irmão de Manuel de Sá; um membro da família do juiz-de-fora. Esta constela-ção é um exemplo das redes de famílias extensas típicas dos tempos antigos, e que, no caso, tinha por coluna dorsal o Caminho Novo das Minas.
Fonte: http://migre.me/5ycLv
Nota: Por ser oportuno uma breve analogia, entre o contido no relato que Costa Matoso fez, quando de sua viagem pelo caminho novo  relativamente a descendência de Garcia Rodrigues Pais. O Quilombo vai falar!  Convenhamos que as Roças de Bento Rodrigues, constantes do Roteiro de Viagem de André João Antonil, localizada na Freguesia de Nossa Senhora da Piedade, por onde transitavam os viajantes por 03 (três) dias,  pelas cinco serras altas, até o jantar, para se chegar ao pé na serra,  não era nenhuma "roça de pé de couve" de fundo de  quintal. Nessas condições ainda que se faça ouvidos moucos,  resulta  incontrastável,  dada verossimilhança, no que diz respeito às benécias advinda do potentado, ou seja, a condição de Soberano de poder absoluto do beneficiário que, o núcleo embrião de Piquete estava contido, nessas Roças, constituindo-se de pouso e vendas.  Agora vem a mais absoluta evidência, no sentido de se tratar Piquete de um núcleo originado de aldeiamento indigena e comunidade tradicional negra,  esta hoje, com a clara natureza juridica de "comunidade tradicional negra urbana", ou Bento Rodrigues deu "férias coletiva" a seus escravos quando da formação de suas Roças no trecho em questão? Eis o fundamento da assertiva: "deu a el-rei a passagem destes dois rios [Paraíba e Paraibuna], que no princípio mandava fazer pelos seus escravos sem emolumento e ofereceu a el-rei, dizendo que podia fazer nela um bom rendimento."
*potentado – chefe de um Estado não-democrático, em geral usado para indicar que se trata de alguém com grande riqueza. Fonte: http://migre.me/5ygbi

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Piquete na "Rota da Diáspora Negra no Sertão da Mantiqueira", uma vez que "Escravos serviam de carregadores", em se tratando de Bandeiras.

biblio 
Transcrição:
IX - O SERTÃO
A invasão flamenga constitui mero episódio da ocupação da costa. Deixa-a na sombra a todos os respeitos o povoamento do sertão, iniciado em épocas diversas, de pontos apartados, até formar-se uma corrente interior, mais volumosa e mais fertilizante que o tênue fio litorâneo.
biblioPodemos começar pela capitania de São Vicente. O estabelecimento de Piratininga, desde a era de 530, na borda do campo, significa uma vitória ganha sem combate sobre a mata, que reclamou alhures o esforço de várias gerações. Deste avanço procede o desenvolvimento peculiar de São Paulo.
biblioO Tietê corria perto; bastava seguir-lhe o curso para alcançar a bacia do Prata. Transpunha-se uma garganta fácil e encontrava-se o Paraíba, encaixado entre a serra do Mar e a da Mantiqueira, apontando o caminho do Norte. Para o Sul estendiam-se vastos descampados, interrompidos por capões e até manchas de florestas, consideráveis às vezes, mais incapazes de sustarem o movimento expansivo por sua descontinuidade. A Este apenas uma vereda quase intransitável levava à beira-mar, vereda fácil de obstruir, obstruída mais de uma vez, tornando a população sertaneja independente das autoridades da marinha, pois um punhado de homens bastava para arrostar um exército, e abrir novas picadas, domando as asperezas da serra, rompendo as massas de vegetação, arrostando a hostilidade dos habitantes, pediria esforços quase sobre-humanos.
biblioSob aquela latitude, naquela altitude, fora possível uma lavoura semi-européia, de alguns, senão todos os cereais e frutos da península. Ao contrário o meio agiu como evaporador: os paulistas lançaram-se a bandeirantes.
biblioBandeiras eram partidas de homens empregados em prender e escravizar o gentio indígena. O nome provém talvez do costume tupiniquim, referido por Anchieta, de levantar-se uma bandeira em sinal de guerra. Dirigia a expedição um chefe supremo, com os mais amplos poderes, senhor da vida e morte de seus subordinados. Abaixo dele com certa graduação marchavam pessoas que concorriam para as despesas ou davam gente.
biblioFigura obrigada era o capelão. “Meu capelão saiu para fora estando eu para sair para a campanha”, escrevia Domingos Jorge Velho em novembro de 692, “mandei-o buscar; não quis vir; de necessidade busquei o inimigo; sem ele morreram-me três homens brancos sem confissão, cousa que mais tenho sentido nesta vida; peço-lhe pelo amor de Deus me mande um clérigo em falta de um frade, pois se não pode andar na campanha e sendo com tanto risco de vida sem capelão”. Montoya fala nestes “lobos vestidos de pieles de ovejas, unos hipocritones, los cuales tienen por oficio mientras los demás andan robando y despojando las iglesias y atando indios, matando y despedazando niños, ellos, mostrando largos rosarios que traen al cuello, lléganse á los padres [jesuítas espanhóis] pidenles confesion... y mientras están hablando de estas cosas van pasando las cuentas del Rosario muy aprisa”.
biblioEscravos serviam de carregadores. Compunha-se a carga de pólvora, bala, machados e outras ferramentas, cordas para amarrar os cativos, às vezes sementes, às vezes sal e mantimentos. Poucos mantimentos. Costumavam partir de madrugada, pousavam antes de entardecer, o resto do dia passavam caçando, pescando, procurando mel silvestre, extraindo palmito, colhendo frutos; as pobres roças dos índios forneciam-lhes os suplementos necessários, e destruí-las era um dos meios mais próprios para sujeitar os donos.
biblioSe encontravam algum rio e prestava para a navegação, improvisavam canoas ligeiras, fáceis de varar nos saltos, aliviar nos baixios ou conduzir à sirga. Por terra aproveitavam as trilhas dos índios; em falta delas seguiam córregos e riachos, passando de uma para outra banda conforme lhes convinha, e ainda hoje lembram as denominações de Passa-Dois, Passa-Dez, Passa-Vinte, Passa-Trinta; balizavam-se pelas alturas, em busca de gargantas, evitavam naturalmente as matas, e de preferência caminhavam pelos espigões. Alguns ficaram tanto tempo no sertão que “volviendo a sus casas hallaron hijos nuevos, de los que teniendolos ya a ellos por muertos, se habian casado com sus mujeres, llevando tambien ellos los hijos que habian engedrado en los montes”, informa-nos Montoya. Os jesuítas chamam à gente de S. Paulo mamalucos, isto é, filhos de cunhãs índias, denominação evidentemente exata, pois mulheres brancas não chegavam para aquelas brenhas.
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Fonte: http://migre.me/5y2fW


PIQUETE, CAMINHO DO SERTÃO, ESPAÇO COLONIAL, SERTÃO DOS ÍNDIOS BRAVOS, CAMINHO DO ELDOADO, CAMINHO DA BANDEIRA DE FERNÃO DIAS DE 1674.


MAPAS DE SANTOS
Fonte: Carta corográfica - Cap. de S. Paulo, 1766 .Apresentando o Estado Político da Capitania de São Paulo em 1766, foi elaborada esta carta, com particular atenção aos limites com Minas Gerais. (http://migre.me/aWncu)

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg7XZ3Iq2pl6C89tX8WehaHTGmIkzLtLhG90bDWoX3THivLx3koRpR3AOxdyDXEw8CTSlZzC499wQ3xIeSn7GqUVGCZ23fAl636G2R_U5eprdtpcPEpMh-zJWqkW0s7UKyAj2sI7U082jA/s320/e94ff_spix_imagem07.jpg
Comboio de escravos indígenas brasileiros
Fonte: Históriando - http://migre.me/5y07w
Bandeirismo de Prospecção 

Transcrição: Bandeirismo de prospecção 

 Embora a caça ao índio tenha ocupado a atenção dos bandeirantes até meados do século XVII, desde os primeiros tempos da colonização houve tentativas de descobrir metais preciosos no sertão brasileiro. Ouro e prata eram, na verdade, a primeira coisa que os europeus procuravam em toda parte no período das grandes navegações. Devido à intensificação do comércio, desde o fim da Idade Média a Europa sofria escassez de metais preciosos. Os navegantes ibéricos foram encontrá-los na África, de, pois na Asia. E logo começaram a buscá-los também na América, onde lendas indígenas falavam de um lugar chamado Eldorado, de riquezas incalculáveis.

Sonia Regina fala sobre Educação Patrimonial - parte 2 de 2

Trasnscrição - O que é afinal educação patrimonial?

Trata-se de um processo permanente e sistemático de trabalho educacional centrado no Patrimônio Cultural como fonte primária de conhecimento e enriquecimento individual e coletivo. A partir da experiência e do contato direto com as evidências e manifestações da cultura, em todos os seus múltiplos aspectos, sentidos e significados, o trabalho de Educação Patrimonial busca levar as crianças e adultos a um processo ativo de conhecimento, apropriação e valorização de sua herança cultural, capacitando-os para um melhor usufruto destes bens, e propiciando a geração e a produção de novos conhecimentos, num processo contínuo de criação cultural.

O conhecimento crítico e a apropriação consciente pelas comunidades do seu patrimônio são fatores indispensáveis no processo de preservação  sustentável desses bens, assim como no fortalecimento dos sentimentos de identidade e cidadania.

A Educação Patrimonial é um instrumento de “alfabetização cultural” que possibilita ao indivíduo fazer a leitura do mundo que o rodeia, levando-o à compreensão do universo sócio-cultural e da trajetória histórico-temporal em que está inserido. Este processo leva ao reforço da auto-estima dos indivíduos e comunidades e à valorização da cultura brasileira, compreendida como múltipla e plural.

O diálogo permanente que está implícito neste processo educacional estimula e facilita a comunicação e a interação entre as comunidades e os agentes responsáveis pela preservação e estudo dos bens culturais, possibilitando a troca de conhecimentos e a formação de parcerias para a proteção e valorização desses bens.

A metodologia específica da Educação Patrimonial pode ser aplicada a qualquer evidência material ou manifestação da cultura, seja um objeto ou conjunto de bens, um monumento ou um sítio histórico ou arqueológico, uma paisagem natural, um parque ou uma área de proteção ambiental, um centro histórico urbano ou uma comunidade da área rural, uma manifestação popular de caráter folclórico ou ritual, um processo de produção industrial ou artesanal, tecnologias e saberes populares, e qualquer outra expressão resultante da relação entre indivíduos e seu meio ambiente.”
Fonte: http://www.cultura.al.gov.br/politicas-e-acoes/patrimonio-historico/pro-memoria/o-que-e-afinal-educacao-patrimonial


Transcrição - Iphan quer preservar o patrimônio cultural do café (Crédito - Roseli Ribeiro em 11 maio, 2011)

O Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) quer criar medidas para preservar o patrimônio cultural do café na região sudeste do País, para a missão instituiu um grupo de trabalho conforme a Portaria nº 165 publicada no DOU (Diário Oficial da União) em 06/05.
De acordo com o texto, o café produzido entre meados do século XIX e final do XX em São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo foi um marco na história econômica e social brasileira, refletindo-se em todo o processo de estruturação e urbanização da região sudeste, e que a preservação dos remanescentes materiais associados a este processo econômico têm importância nacional como patrimônio cultural brasileiro.
 Participaram deste grupo de trabalho pelo menos um representante e um suplente do Departamento do Patrimônio Material e Fiscalização (Depam) do Iphan; das Superintendências Estaduais do Iphan nos estados de São Paulo, de Minas Gerais, do Rio de Janeiro e do Espírito Santo; do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (CONDEPHAAT); do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA); do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural do Estado do Rio de Janeiro (INEPAC); da Subsecretaria Estadual de Patrimônio Cultural do Estado do Espírito Santo; da Universidade de São Paulo (USP); da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar); da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp); UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), do Instituto Preservale e da Associação de Fazendas Históricas Paulistas.



Na Fazenda Santa Lídia um pouco da História do Café

domingo, 21 de agosto de 2011

DESTINOS E ROTEIROS - PIQUETE ITINERÁRIO CULTURAL DA DIÁSPORA NEGRA. NO CAMINHO DO OURO, EM CONFORMIDADE COM OS PROPÓSITOS DA UNESCO

A Rota da Liberdade
O projeto de turismo da Rota da Liberdade, desenvolvido no Estado de São Paulo, em parceria com a Coordenadoria de Turismo do Estado, segue as orientações da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), que coordena as ações do projeto Rota da liberdade em nível mundial, desde 1994, quando da realização da Conferência onde se discutiu a Diáspora Africana e as implicações do Tráfico Negreiro no mundo.

O projeto mapeia os passos dos negros africanos em terras brasileiras e no Estado de São Paulo e marca a influência de sua cultura nesta fase, a macrorregião da Vertente Oceânica Norte formatou os roteiros contemplando diferentes aspectos da História do negro como ponte da integração das cidades e desenvolvimento das comunidades negras. Em toda e qualquer cidade desta região encontraremos as marcas da passagem do africano. 

Os interessados poderão optar entre seis roteiros diferentes, confira :
Roteiro 1
Tremembé - Taubaté - Pindamonhangaba

Neste roteiro os turistas conhecerão a saga dos Barões do Café em terras valeparaibanas, amparadas pela mão do negro africano escravizado.

- Fazenda Maristela – antiga fazenda cafeeira do Visconde da Palmeira (o escravo movendo a economia);

- Fazenda Cabral – do pé ao pó de café (o dia a dia da fazenda);
- Solar do Visconde de Itapeva – arquitetura dos Barões do Café (artífices negros construindo mansões):
- Sítio do Picapau Amarelo – uma das grandes propriedades do Visconde de Tremembé

Inclui:
Guia local; Transporte; Hospedagem com café da manhã; Almoço; Visita ao atelier da artista plástica Maria Dalila; Jantar temático (dança e cultura negra)

Roteiro 2
Tremembé - São Luís do Paraitinga - Redenção da Serra


Neste roteiro podemos conhecer a movimentação pela Abolição da Escravatura e seus desdobramentos:

- Redenção da Serra – primeira cidade do Vale do Paraíba a libertar seus escravos;

- São Luís do Paraitinga – a riqueza do café transformando-a em cidade Imperial;
- Tremembé – terras do Visconde de Tremembé – político influente.

Inclui:
Guia local; Transporte; Hospedagem com café da manhã; Almoço; Jantar temático (dança e cultura negra)
Roteiro 3
Piquete – Lorena – Cruzeiro
Roteiro com aspectos da religiosidade e do “sincretismo” afrobrasileiro, além de novos olhares sobre a presença do negro na economia cafeeira e nos caminhos do ouro:
- Piquete – Fazenda Santa Lidia – Museu do Escravo;
- Lorena – Igreja do Rosário, Basílica de São Benedito, IEV (Instituto de Estudos Valeparaibanos)
- Cruzeiro – Caminhos do Ouro, Complexo Cultural da Rotunda Inclui:
Guia local; Transporte; Hospedagem com café da manhã; Almoço;
Roteiro 4
Piquete – Guaratinguetá – Cunha
Roteiro com aspectos da religiosidade e do “sincretismo afrobrasileiro”, o negro e sua expressão cultural, além de novos olhares sobre a presença do negro nos caminhos do ouro:
 Piquete – Fazenda Santa Lidia – Museu do Escravo;
- Guaratinguetá – Jongo do Tamandaré, Museu Frei Galvão (Bomfiglio de Oliveira) e Igreja de São Benedito;
- Cunha -  Caminhos da Estrada Real
Inclui: Guia local; Transporte; Hospedagem com café da manhã; Almoço; Apresentação do Jongo da Comunidade do Tamandaré
Roteiro 5
Piquete – São José do Barreiro – Bananal

Neste roteiro podemos (re)conhecer a presença do negro na sociedade escravista, dentro da economia cafeeira:

- Piquete – Fazenda Santa Lidia – Museu do Escravo;

- São José do Barreiro – Fazenda Pau d’Alho, Cemitério dos Escravos;
- Bananal – Fazenda Boa Vista

Inclui
: Guia local; Transporte; Hospedagem com café da manhã; Almoço; Palestra sobre a presença do Negro no Vale do Paraíba.
Roteiro 6
São Sebastião – Ubatuba – Ilhabela
Encontro do elo entre passado e presente escravista no Brasil: remanescentes de comunidades quilombolas, sítios arqueológicos, caminhos do ouro:

- São Sebastião – Sítio Arqueológico São Francisco*

- Quilombo da Caçandoca ou do Cambury*
- Ilhabela – Praia de Castelhanos
Fonte Governo do Estado de São Paulo http://migre.me/5xbS5

Transcrição - Magazine Atualidade Inventário dos Lugares de Memória do Tráfico Atlântico de Escravos e da História dos Africanos Escravizados no Brasil Publicado a 13 Agosto 2011 por Uranoandrade

O tráfico atlântico de escravos foi reconhecido como crime contra a humanidade pela Conferência Mundial contra o Racismo, em Durban, 2001 e, desde 1993, a UNESCO desenvolve o projeto Rota do Escravo – hoje renomeado “Rotas da Liberdade” - buscando quebrar o silêncio sobre a tragédia e suas conseqüências para as sociedades modernas e para as interações culturais no mundo contemporâneo.
Neste ano de 2011, declarado pela Assembléia Geral da ONU o Ano Internacional do Afro-descendente, pedimos a colaboração de todos para, juntos, sistematizarmos um primeiro levantamento de lugares de memória ligados ao tráfico atlântico de escravos e à experiência histórica e cultural dos africanos escravizados no Brasil. Um exercício de dever de memória em relação às vítimas da tragédia e à sua herança, transmitida pelos sobreviventes e atualizada em diversas expressões de resistência pelos seus descendentes. As justificativas das proposições devem assinalar a existência de documentação histórica, tradição oral e/ou trabalhos de pesquisa histórica, antropológica ou arqueológica sobre os lugares indicados, sempre que existentes. As sugestões serão listadas e disponibilizadas através da internet e, oportunamente, serão objeto de uma publicação específica.
Estaremos recebendo sugestões até o dia 7 de setembro de 2011, contamos com a sua participação.

ACESSE: http://www.labhoi-uff-inventario.com.br/
Comissão organizadora:
Hebe Mattos - Professora Titular do Depto de História da UFF
Martha Abreu
- Professora Associada do Depto de História de UFF
Mariza de Carvalho Soares
- Professora Associada do Depto de História da UFF
Milton Guran
- Pesquisador associado do LABHOI e membro do Comitê Científico Internacional do Projeto Rota do Escravo / Rotas da Liberdade da UNESCO

Coordenação do LABHOI: Ana Maria Maud - Professora Associada Depto de História de UFF

sábado, 20 de agosto de 2011

Transcirção: SEMINÁRIO CULTURA E INTOLERÂNCIA SESC Vila Mariana | São Paulo, novembro de 2003 Edna Roland (*)

Na década de 90, a UNESCO lançou um projeto internacional – a Rota do Escravo – com o objetivo de tornar visível o tráfico de escravos, considerando que há um verdadeiro “buraco negro” a este respeito na história da humanidade e que temas candentes da atualidade, tais como o desenvolvimento social, os direitos humanos e o pluralismo cultural estão fortemente conectados a essa experiência histórica. Nas palavras do então Diretor-Geral da UNESCO, Federico Mayor, o significado histórico e moral dessa tentativa de obscurecer este fato histórico pode ser apreendido pela afirmação do Prêmio Nobel Elie Wiesel: o carrasco mata sempre duas vezes – a segunda vez, através do silêncio. [1] 
Segundo Doudou Diéne, idealizador do Projeto Rota do Escravo, o tráfico transatlântico de escravos se reveste de uma tripla singularidade na história da humanidade: *sua duração - aproximadamente quatro séculos; *a especificidade de suas vítimas - a criança, a mulher e o homem negros do continente africano; e *sua legitimação intelectual - a depreciação cultural da África e dos Negros e a conseqüente construção da ideologia do racismo anti-Negro e sua organização jurídica nos "Códigos Negros", vergonhosos textos excluídos da memória jurídica e histórica.[2]
O Projeto Rota do Escravo parte da concepção de que nenhum grande problema atual da África está totalmente desconectado da sangria brutal e da violência sofrida pelo continente com o tráfico transatlântico de escravos: nem o subdesenvolvimento econômico, nem uma certa cultura da violência, tampouco a desarticulação social no continente. 
Por outro lado, conforme reconhecido pela Declaração e Programa de Ação de Durban, as desigualdades atuais sofridas pelos afrodescendentes têm também a sua origem na experiência histórica da escravidão a que seus antepassados foram submetidos e que são recriadas por mecanismos atuais, nos quais as linhas de continuidade das idéias e concepções racistas jogam um papel fundamental. Todavia, conforme afirmado por Doudou Diéne, paradoxalmente, o choque brutal provocado pelo tráfico entre milhões de africanos, ameríndios e europeus, na América e no Caribe, gerou um diálogo intercultural e a aparição de novas e ricas formas de culturas, a despeito do contexto de violência e dor extremos em que ocorreu: o escravizador, unicamente interessado na força de trabalho do escravo e portanto, na sua força física, *foi incapaz de atingir a sua força vital interna – isto é, seus deuses, mitos, valores, que estavam na sua mente e que lhe deram força para sobreviver, resistir e se renovar num ambiente hostil.[1]
Segundo Diéne, esse processo transformou as Américas e o Caribe em um extraordinário teatro da multiculturalização e as suas implicações são de considerável importância para o futuro pois aí, quiçá, se encontrarão as respostas para o antagonismo racial - que sobreviveu ao fim da dimensão estritamente material do tráfico - e o potencial para o diálogo intercultural aberto para o futuro.[2]
A Declaração e Plano de Ação de Durban, que resultaram da III Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata, reconhecem que os povos de origem africana têm sido secularmente vítimas de racismo, discriminação racial e escravidão. Afirma ainda que reconhecimento deve ser dado aos seus direitos que vêm sendo negados historicamente:
1) à cultura e à sua própria identidade; 
2) à participação livre e com iguais condições da vida política, social, econômica e cultural;
3) ao desenvolvimento, no contexto de suas aspirações e costumes; 
4) à manutenção, preservação e promoção de suas próprias formas de organização, do seu modo de vida, da sua cultura, tradições e expressões religiosas; 
5) à manutenção e ao uso de suas próprias línguas; 
6) à proteção de seu conhecimento tradicional e de sua herança artística e cultural; 
7) ao uso, gozo e conservação dos recursos naturais renováveis de seu habitat;
8) à participação ativa no desenho, implementação e desenvolvimento de programas e sistemas educacionais, incluindo aqueles de natureza específica e característica; e, quando procedente, 
9) à sua terra ancestralmente habitada.[1]
Nota: Antes mesmo de se pretender o reconhecimento de qualquer Rota Brasileira como Itinerário Cultural internacional ou patrimônio da humanidade, Piquete como espaço colonial de memória, incluído no projeto do Governo do Estado de São Paulo, "Rota da Liberdade", em conformidade com as recomendações da UNESCO. Possibilita afirmar, no que tange ao projeto Rota do Escravo, que o reconhecimento como itinerário cultural, cujo mapeamento pretende levar ao fomento do turismo de memória, em Rotas e espaços  Africanos da Diáspora, projeta o espaço internacionalmente. Em definitivo é possível considerar, que tornará um itinerário e patrimônio reconhecido mundialmente, por sua vez, protegido, não devendo ser ignorado, sob pena de cometimento de grave violação a Declaração de Durban a qual o projeto foi expressamente incorporado, ou seja, recepcionado, alcançando status equivalente ao de normas constitucionais e infra-constitucionais, voltada para o mesmo fim, a exemplo do Estatuto da Igualdade Racial. Por isso faz-se necessário lembrar as desavisadas lideranças do movimento Negro que, questionar o projeto, enquanto "axioma", por se tratar de uma verdade inquestionável e universalmente reconhecida, representa uma ação temerária, bem como injustificável. Piquete no caminho do ouro, no caminho da história. Rota da Diáspora Africana.
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6mnvqRDz4dCOPuyJBwFvX0ttgbHkKtAApWnvJrOtTeXEX8p0jYMIZb-41q6Ls8-sbCkeKSAaKBRgFgs84323GQa1nKhE0-YMKbXv64pewaR3QZA3HodT9KokkAzHUEk55rA1g0GcK-io/s400/escravos.jpg
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GUIA DA UNESCO - Una guía para la administración de sitios e itinerarios de memoria.

Ficha 22: Ruta de la libertad (A Rota da Liberdade), São Paulo, Brasil (A Rota da Liberdade), São Paulo, Brasil ■ ANTECEDENTES ■ ANTECED...